A vedete aposentada
26/07/2006
- Opinión
O ex-presidente Itamar Franco é só um projeto pessoal. Não mete a
mão no bolso de ninguém, mas é só um projeto pessoal. Neste momento
lembra uma vedete gorda, velha, cheia de celulites, aposentada e
tentando, desesperadamente, uma ponta num filme qualquer à guisa de
sobreviver e destilar o que Tancredo Neves chamou de “veneno guardado
no congelador”.
O apoio de Itamar Franco à candidatura do ex-governador Geraldo
Alckmin é o atestado da absoluta falta de vergonha do político
mineiro. Vai nas águas de FHC outra vez. Tudo porque perdeu a
convenção do PMDB. Não conseguiu ser candidato a senador. Um erro do
partido? Claro. Mas não justifica o chilique da vedete.
Falta de compromisso com outra coisa qualquer que não seja ele
próprio e seu ego descomunal. Acredita-se princípio, meio e fim de
tudo e não admite ser contrariado.
É um pusilânime nesse sentido.
Itamar começou sua carreira política no antigo PTB. Perdeu duas
eleições, vereador e vice-prefeito, respectivamente em 1958 e 1962,
em Juiz de Fora, sua cidade. Em 1966, posando de adversário da
ditadura elegeu-se prefeito pelo ex-MDB.
Contou com o apoio decisivo de Tancredo Neves, então um dos
principais dirigentes partidários, já que não tinha os votos
necessários para obter sua indicação numa sublegenda.
Prefeito, tratou de se arrumar com Mário Andreazza, então ministro
dos Transportes. Nomeou um sobrinho do general comandante da IV
Região Militar para o seu gabinete, limpou sua barra com a ditadura e
só não foi para a ARENA por conta de uma rebelião em seu secretariado,
comandada pelo secretário de Educação Murílio Hingel (mais tarde
ministro em seu governo e secretário quando governador de Minas).
Genioso, cheio de tiques, dado a acessos e desmaios, brigou com o
seu sucessor, virou prefeito outra vez em 1972 e foi “inventado” por
Tancredo como candidato ao Senado, em 1974, ainda no MDB.
Tancredo não tinha certeza das suas chances, nem do partido, acabou
sendo uma vitória nacional, foi atrás de Itamar. Sem saber o que
fazer o novamente prefeito protagonizou um episódio típico do seu
jeito de ser. Meia noite, prazo de desincompatibilização e nenhuma
decisão. O presidente da Câmara Municipal, Waldecyr Martins, atrasou
o relógio dez minutos e, finalmente, chegou a renúncia, a decisão. Na
esteira da reação popular virou senador.
Atribui-se a Itamar Franco a condição de ter nascido virado para a
lua. Tudo lhe cai ao colo, ou pelo menos lhe caiu até determinado
momento.
Senador, ajeitou-se aqui e ali e protagonizou um acordo sui generis
com Albano Franco. Albano nomearia uns amigos de Itamar e Itamar
nomearia uns amigos de Albano, aí ninguém ficaria mal. Albano nomeou
e Itamar correu fora. Foi acertar os ponteiros em Niterói, onde tinha
passagem garantida para Aracaju.
Em 1982, quando Tancredo fundou com Magalhães Pinto o PPP (Partido
Popular Progressista), foi indicado candidato a governador pelo PMDB.
A fusão entre PMDB e PPP resultou na candidatura Tancredo Neves,
Itamar teve que aceitar ser candidato à reeleição e outro chilique.
Perdeu a convenção para Simão da Cunha. O partido podia lançar até
três candidatos em sublegenda. Não admitia no entanto ter menos votos
que Simão. Tancredo chamou Renato Azeredo, encarregado da ata e
mandou: “bota os votos do Simão para o Itamar e os do Itamar para o
Simão, senão o homem desmaia”. Foi o que aconteceu.
Reeleito, tentou o governo em 1986. Perdeu para Newton Cardoso. Foi
aí que saiu do PMDB pela primeira vez. Para ser candidato, não tinha
maioria na convenção, correu para o PL de Álvaro Valle.
Em 1989, desgastado e sem condições de ser reeleito, um golpe de
sorte. Virou vice de Collor de Mello. Trocou novamente de partido,
foi para o PRN (Partido da Renovação Nacional).
E virou vice-presidente e presidente.
Quando do processo do impedimento de Collor, José Sarney levou
Itamar à casa de Roberto Marinho para eliminar eventuais obstáculos à
sua ascensão e Marinho ali resolveu largar Collor.
Virou presidente.
Inventou FHC ou foi atropelado pelo tucano. Os dois disputavam qual
ego era maior em Brasília. Mediam pelas conquistas femininas.
Virou embaixador, tentou ser candidato a presidente pelo PMDB, já de
volta, virou governador de Minas. Não conseguiu ser indicado para a
reeleição, apoiou Aécio e agora se viu atropelado pelo seu ex-partido.
No dia seguinte pediu desfiliação.
Contrariado, sem o papel de candidato a senador, tinha cerca de 76%
das intenções de voto, não admitindo ser derrotado, pulou fora e como
não tem princípio algum, nem compromisso com nada que não seja ele
mesmo. Já com a grama alta à frente de sua casa e sem condições de
sobrevivência, recebeu de Aécio a promessa de nova embaixada caso
Alckmin vença.
Daí a correr para o tucano foi um pulo. Pulinho. Para ele tanto faz
como tanto fez. Itamar é só Itamar Franco.
Candidato a presidente em 1984, Tancredo Neves não teve de saída o
apoio de Itamar. Ficou quieto, na moita e foi amealhando votos. Num
dado momento fechou a contagem, ou seja, passou a dispor dos votos
necessários para ser reeleito. Itamar havia feito algumas exigências,
bem ao seu feitio (a maior parte emprego para o que chamam de
“república de Juiz de Fora”. Isso para Itamar chama-se “compromissos
elevados e programáticos”.
Tancredo, já com a eleição assegurada, recebeu um pedido de Hélio
Garcia, então governador de Minas, para conversar com Itamar e
agradecer o recém declarado apoio a ele Tancredo. Apoio do senador.
Vivo, ladino, esperto, diferente de Aécio, Tancredo marcou com
Itamar no aeroporto da Pampulha, cinco minutos antes do embarque.
Recebeu o senador, agradeceu, despediu-se e foi embora, deixando a
vedete entre atônito e perplexo. “Não era necessário seu apoio
senador, mas agradeço”. Foi o que disse. Falava de número, número de
votos.
Aécio é porque não tem vergonha alguma. Diferente do avô.
Itamar está aí. Destilou seu veneno ao dar apoio a Alckmin.
Em termos de votos? Sei lá. O ex-presidente nunca colocou o pé em
dividida. Só se for para benefício próprio.
Itamar está tentando, de forma alucinada, manter a mão fora do
caixão e a perna gorda e cheia de celulite num canto do palco.
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