A opção da mídia

Globo silencia diante do crime do vazamento das fotos do dinheiro

03/10/2006
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São Paulo Emissora não divulga gravação que comprova as intenções políticas do delegado Bruno ao entregar as fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal e sua decisão de forjar um boletim de ocorrência para justificar o suposto “desaparecimento” do CD com as imagens. Jornalistas ouvidos pela Carta Maior neste sábado informaram que três jornais, uma emissora de rádio e a TV Globo possuem a gravação da fala do delegado Edmílson Pereira Bruno no momento em que ele entregou aos repórteres o CD com as fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal. Na fita, o delegado diz “tá aqui. Agora vamos f... o governo e o PT” e informa à imprensa que, dali, iria forjar um boletim de ocorrência para justificar o suposto “desaparecimento” do CD com as imagens. Em reportagem do Jornal Nacional deste sábado (30), o repórter César Tralli informa que o delegado afirmou que não divulgou as fotografias por vingança, mas por se sentir prejudicado pela Polícia Federal por ter feito as prisões daqueles que tentaram vender o dossiê contra José Serra e depois ter sido afastado do caso. No entanto, em coletiva dada na tarde deste sábado, o coordenador da campanha eleitoral do PT à Presidência, Marco Aurélio Garcia, garantiu que os jornalistas que receberam as fotos sabiam da intenção do delegado Bruno de prejudicar o governo e a candidatura de Lula à reeleição. "Temos absoluta certeza de que estas fotos foram passadas por um delegado a vários profissionais e, no momento em que foram passadas, foi dito por este delegado que o propósito dele era, sim, um propósito político e que ele pretendia prejudicar com essas fotos”, disse Garcia. A TV Globo exibiu no Jornal Nacional este trecho da coletiva. Mas, logo na seqüência, o apresentador e editor William Bonner afirmou aos telespectadores que nenhum jornalista da emissora tinha essas informações. Mas, segundo garantiu um funcionário da TV, a direção da Globo recebeu na tarde de sexta, mais de 24 horas antes, a fita que comprova as claras intenções políticas do delegado Bruno e sua iminente fraude de um boletim de ocorrência. Por que então não questionou a fala do delegado? Por que não colocou no ar a gravação com a sua declaração? Por que disse aos telespectadores que não sabia das intenções do delegado da PF? Ao saber das intenções políticas do delegado, que não poderia divulgar as imagens, e que ele forjaria um boletim de ocorrência – ou seja, que um alto funcionário da Polícia Federal, com objetivos eleitorais, estava a caminho de cometer um crime – a única coisa que os jornalistas que receberam as fotos foram capazes de fazer foi se calar. A imprensa justificou a divulgação de imagens que quebraram um sigilo de justiça com base no interesse público. Mas “esqueceu” que também seria de mesmo interesse público informar seus leitores, ouvintes e telespectadores do crime que estava por trás deste “vazamento”. Coincidências? Neste sábado, o candidato ao governo de São Paulo pelo PT, senador Aloízio Mercadante, também declarou que alguns veículos estão omitindo informações do público que podem prejudicar o processo eleitoral. A imprensa não divulgou o trecho do depoimento à Polícia Federal em que Hamilton Lacerda, seu ex-assessor, o inocenta de participação no episódio de compra do dossiê contra Serra. "Ontem, o Hamilton Lacerda foi à Polícia Federal e disse que eu não tinha nada a ver com esse episódio e alguns veículos simplesmente omitiram essa informação. Pode até discordar da informação, mas não pode omitir", criticou Mercadante. "Vocês [jornalistas] correm o risco de fazer uma brutal injustiça em relação, não apenas à minha candidatura, mas a esse momento da história do país", disse Mercadante. Quando Luiz Antônio Vedoin depôs à Polícia Federal na última semana e isentou Serra de participar da máfia das sanguessugas – apesar de acusar seu sucessor, Barjas Negri – a Folha de S.Paulo estampou a seguinte manchete no dia 22: "Vedoin isenta Serra do caso sanguessuga". A um dia das eleições, não pareceu importante à grande imprensa fazer o mesmo com Mercadante. Bia Barbosa – Carta Maior
https://www.alainet.org/es/node/117396
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