Como não perder o rumo certo
12/10/2006
- Opinión
Estamos chegando ao final do segundo turno para a eleição de presidente do Brasil. Os debates mostraram que as elites apeadas do poder a partir de um contra-poder popular cristalizado no PT, não aceitam essa derrota histórica. Fazem qualquer coisa para voltar ao ninho antigo e continuar a hegemonia que impede qualquer mudança substancial em favor das maiorias, pondo em xeque seus privilégios. Por isso a questão central foi e continua sendo: Afinal que Brasil queremos? Como garantir o rumo que consideramos certo?
Essa questão mais que político-partidária é eminentemente ética no sentido clássico da palavra. Sabemos que para Platão e Aristóteles o ponto mais alto da filosofia não era nem a metafísica nem a teologia, mas a política. Toda a árdua construção teórica que elaboraram, culmina na reflexão sobre o bem viver juntos. É no interior deste espaço que se situam todos os saberes que devem servir à felicidade pessoal, comunitária e social. Isso vale até os dias de hoje.
Discutir que Brasil queremos implica discutir o conjunto de valores e o tipo de instituições que vão dar corpo à convivência social e construir o bem estar coletivo. O primeiro valor político é o cuidado. Função do estado é cuidar da vida e dos meios de vida dos cidadãos que implica ir além da economia. O segundo é a justiça. Por ela se atende a vontade de participação e as necessidades dos cidadãos nas diferentes instâncias em que se realiza a vida pessoal, comunitária e social. Não se pode construir nenhuma sociedade minimanente humana assentada sobre a falta de cuidado, de justiça e de igualdade.
Esse é o caso do Brasil. A justiça e o cuidado são os bens mais escassos em nossa história política. O que se construiu aqui foi uma sociedade profundamente injusta, fundada em privilégios, no trabalho escravo e no desprezo a tudo o que significa "povo". A desigualdade é o substrato da violência sistêmica que impera nas grandes cidades. É auto-engano aumentar o aparato policial e os mecanismos de controle se esta questão do cuidado e da justiça não for atacada em sua raiz. Uma sociedade não cuidada e injusta será sempre violenta: faz violência e sofre violência.
Mas os mestres gregos eram suficientemente sábios para alertarem que uma sociedade não vive apenas de justiça. Platão chega a afirmar que tal sociedade fundaria o horror e o terror. Uma sociedade precisa da generosidade, da cooperação e do diálogo, da comunicação livre, numa palavra, daqueles valores que constroem a felicidade social.
Neste campo, nós do Brasil estamos também em grande falta. O que impera é modo de produção capitalista e sua expressão política, o neo-liberalismo. Estes não favorecem tais valores, pois acentuam mais a competição que a cooperação, mais o bem individual que o bem comum, mais o estado mínimo que o estado de bem estar social.
Mas há uma esperança: nos movimentos sociais se tenta viver o social solidário e cooperativo É lá que sempre se põe a pergunta: que Brasil, afinal, queremos construir? Eles conseguiram eleger o presidente Lula que assumiu a bandeira das mudanças e da ética pública, não obstante os desvios que setores do PT cometeram. Ele pessoalmente encarna essa vontade de tansformação, motivo suficiente para que seja reeleito e complete a obra ainda em construção. O que não podemos é regredir. Importa agora firmar o rumo certo.
Leonardo Boff
Teólogo
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