A reeleição de Chávez

04/12/2006
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
O presidente bolivariano da Venezuela, Hugo Rafael Chávez Frias, está reeleito para um novo mandato de seis anos, com mais de 60% dos votos dos eleitores de seu país. Chávez derrotou o candidato norte-americano Manoel Rosales e em sua primeira declaração afirmou que “o diabo que pretende dominar o mundo foi derrotado”. Referia-se a George Bush, líder do IV Reich e presidente dos Estados Unidos.

A vitória de Chávez aliada à de Correa no Equador, a presença de Evo Morales na Bolívia abre perspectivas para o fortalecimento da unidade de países sul-americanos em detrimento da proposta de Berlim/Washington que cria a ALCA (Aliança de Livre Comércio das Américas).

Pode significa a médio prazo uma guinada do presidente reeleito do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva às teses bolivarianas, pelo menos no que diz respeito à política externa e intensificação do MERCOSUL, do qual a Venezuela já faz parte.

O argentino Nestor Kirchnner foi um dos primeiro chefes de Estado e Governo a felicitar o presidente reeleito da Venezuela. Kirchnner, em algumas situações tem se constituído num aliado importante de Chávez e parece ver com bons olhos a proposta de união dos países da América Latina.

Uma outra perspectiva concreta com a vitória de Chávez é que a onda anti-americana que varre a América do Sul pode vir a significar a vitória de um candidato identificado com o chavismo no Paraguai, o que retiraria daquele país a condição de colônia dos EUA.

Acontecendo isso, a mais importante colônia norte-americana na América do Sul, a Colômbia, ficaria isolada e o Peru de Garcia terá dificuldades para implementar políticas ditadas por Washington, como tem sido feito pelo presidente desde sua posse. A reação popular já começa a se fazer sentir forte.

A política dos EUA sofre um duro golpe com a reeleição de Chávez. Isso não significa que novas tentativas de golpe não venham a acontecer. Faz parte do rol de ações do Reich e conta com o apoio das elites da Venezuela. Boa parte dela tem seu domicílio eleitoral em Miami, no Estado da Flórida, governador por Jeb Bush, irmão do líder nazista texano.

As dificuldades de Bush, no entanto, são acrescidas do estado de guerra civil no Iraque. Só neste fim de semana cinco norte-americanos morreram em combate. Mais de 200 iraquianos foram vítimas do conflito. Sem falar na crescente oposição dentro de seu próprio país aos seus métodos padrão gestapo de governar.

O cidadão médio dos EUA começa a perceber o fracasso absoluto das políticas do presidente Bush e as primeiras projeções para 2008, ano de eleições presidenciais indicam que os democratas podem voltar ao poder. Não muda nada, ou quase nada: sai a areia e entra a vaselina. Sai o pretzel com cerveja, regado a citações bíblicas e entra o blow job no salão oval, com toques de saxofone.

Chávez em discurso no qual comemorou a ampla vitória falou do socialismo do século XXI. Disse que não há necessidade de temer essa nova força que transformará a Venezuela numa grande nação (é um dos países que mais cresce na América Latina). O presidente reeleito enviou uma saudação ao governante cubano Fidel Castro, a quem cita como inspirador do processo bolivariano.

Fora dos limites da América do Sul, o venezuelano deve intensificar seu apoio à revolução cubana, mesmo sem Fidel no comando, o que dificultará a invasão dos EUA na expectativa da morte do líder revolucionário e aproximar Daniel Ortega, líder sandinista que volta ao governo da Nicarágua das teses bolivarianas.

O maior desafio de Chávez vai ser conter a reação das elites de seu país, como toda elite apátrida, e empenhada em devolver o comando do país a Washington. A Venezuela é um dos maiores produtores de petróleo do mundo e pela primeira em sua história os recursos advindos do chamado ouro negro estão sendo usados em favor do povo venezuelano e não das grandes corporações multinacionais.

A eleição na Venezuela foi uma das fiscalizadas em todos os tempos e em todo o mundo. Desde organizações internacionais como a ONU e a OEA a ONGs intituladas democráticas, imprensa e Comunidade Européia. Há unanimidade quanto à lisura do pleito.

O candidato derrotado Manoel Rosales mostrou-se abatido com a diferença de votos revelada pelas urnas. É que os institutos de pesquisa tinham apontado um crescimento de sua candidatura ao final da campanha e alguns chegaram a falar em empate. Não percebeu que isso é parte do jogo, a velha técnica de tentar criar uma situação que não existe na tentativa de fazer existi-la.

A maior parte dos institutos de pesquisa faz parte do contexto da chamada grande mídia. Essa é visceralmente contra Chavez. É só olhar a cobertura pífia e tímida da imprensa brasileira sobre as eleições naquele país. Dessa vez nem Miriam Leitão se atreveu a inventar histórias sobre o povo contra Chávez. Ficou escaldada por conta da vez anterior e está na muda depois que Roberto Requião, governador reeleito do Paraná mostrou que se trata de uma rematada mentirosa.

De qualquer forma os chavistas além das dificuldades naturais que deverão ser criadas pelos EUA, já imaginam que ao cabo de três anos enfrentarão um novo referendo, numa nova tentativa de derrubar o presidente.

No caso específico do Brasil a eventual presença de diplomatas como Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães no Itamarati significam apoio brasileiro a Chávez. Outro dado que mostra isso é a continuidade de Marco Aurélio Garcia no comando do PT e um dos principais coordenadores da campanha de Lula à reeleição. Se não der uma de Zé Dirceu e se achar princípio, meio e fim do governo, ou nomear Luizinho/Incitatus senador, pode vir a ser o principal fator de recuperação do PT.

Chávez é hoje o principal líder latino americano, desde o afastamento de Fidel, na resistência ao processo neoliberal de recolonização dos países da América Latina. Sua reeleição representa a possibilidade de retomada do crescimento de todos os movimentos sociais nessa parte do mundo.
https://www.alainet.org/es/node/118510
Suscribirse a America Latina en Movimiento - RSS