Pela porta de trás
05/12/2006
- Opinión
Foi na semana em que caiu a última barricada de Oaxaca. Quando, depois de seis meses de viva resistência, a força bruta desalojou a gente das ruas. O povo, soberano, que decidiu lutar pela dignidade de sua cidade, seu estado, seu país. Foi nesta mesma semana em que os resistentes de Oaxaca entregaram a rádio universitária, depois de cair a última barricada. Derrota? Não! Apenas um recuo tático. Até parece que os governantes do México não conhecem o povo do México. Esse povo aguerrido que nunca se deixou vencer. Que sempre resistiu aos mais duros golpes, às mais violentas ditaduras. Uma gente que fez acontecer a revolução mais incrível do início do século XX, que garantiu uma constituição libertária e socialista.
Os que cavalgaram com Zapata, com Villa, os anônimos guerreiros e guerreiras de uma nova aurora, nunca se foram. Eles aí estão nos levantes zapatistas, nas ruas de Tijuana, em Chihuahua, na cidade do México, em San Salvador de Atenco, em Oaxaca. Eles renascem a cada um que tomba, a cada um que é aprisionado ou desaparecido. Eles revivem em cada conflito, a cada bomba, cada bala e fazem valer sua voz. A derrota é sempre aparente. Porque eles nunca vão embora, nem quando morrem.
Não foi á toa que o presidente, fruto de uma fraude, teve de se esgueirar pelas ruas e entrar no palácio no meio da noite para tomar posse. Não foi sem razão que o mesmo usurpador precisou entrar pela porta dos fundos na cerimônia de posse do Congresso. Momento ridículo, espelho da vilania. Rápido como quem rouba foi o seu discurso, com um Fox vexado, ensaiando um sorriso amarelo. Cena torpe, do tempo das republiquetas, indigna do século XXI.
O povo do México, tão digno, tão forte, não vai deixar barato. Várias vezes já foi usurpado no poder. Felipe, o breve, pode até governar. Mas vai carregar com ele o peso da desonra. Vai vivenciar a cada dia, a obscura noite em que, como um bandido, esgueirou-se na noite, com medo dos seus governados. Já bem explicou Enrique Dussel que um governante não é a sede do poder. O poder reside no povo e mais dia, menos dia, ele vai exercê-lo. Não como dominação, como é comum aos tiranos de plantão, mas como poder obediencial, tal qual insistem os zapatistas. Mandar obedecendo. Vontade popular.
Hoje o México é um país dividido. Paira um clima de tensão, uma espécie de pré-climax. A era Fox se acaba e um tumultuoso futuro se apresenta. As cenas de violência em Atenco ou Oaxaca foram protagonizadas pelo poder central como um aviso, para que o povo se aquietasse. Para que não se metesse nas coisas que os homens do governo pensam para o país. Para que não se atrevesse mais a dizer a sua palavra. Mas qual!... Pelas estradas do México profundo sopra um vento cúmplice. Um espectro revolucionário cavalga. Zapata. Villa. Antônio. Blanca. José. Juana... Ah, esses fantasmas... E, enquanto Felipe Calderón se encastela no palácio, pelas ruas vão assomando os vivos... E serão dignos de cada mexicano que já deu sua vida pela pátria.
- Elaine Tavares – jornalista no OLA, www.ola.cse.ufsc.br
Os que cavalgaram com Zapata, com Villa, os anônimos guerreiros e guerreiras de uma nova aurora, nunca se foram. Eles aí estão nos levantes zapatistas, nas ruas de Tijuana, em Chihuahua, na cidade do México, em San Salvador de Atenco, em Oaxaca. Eles renascem a cada um que tomba, a cada um que é aprisionado ou desaparecido. Eles revivem em cada conflito, a cada bomba, cada bala e fazem valer sua voz. A derrota é sempre aparente. Porque eles nunca vão embora, nem quando morrem.
Não foi á toa que o presidente, fruto de uma fraude, teve de se esgueirar pelas ruas e entrar no palácio no meio da noite para tomar posse. Não foi sem razão que o mesmo usurpador precisou entrar pela porta dos fundos na cerimônia de posse do Congresso. Momento ridículo, espelho da vilania. Rápido como quem rouba foi o seu discurso, com um Fox vexado, ensaiando um sorriso amarelo. Cena torpe, do tempo das republiquetas, indigna do século XXI.
O povo do México, tão digno, tão forte, não vai deixar barato. Várias vezes já foi usurpado no poder. Felipe, o breve, pode até governar. Mas vai carregar com ele o peso da desonra. Vai vivenciar a cada dia, a obscura noite em que, como um bandido, esgueirou-se na noite, com medo dos seus governados. Já bem explicou Enrique Dussel que um governante não é a sede do poder. O poder reside no povo e mais dia, menos dia, ele vai exercê-lo. Não como dominação, como é comum aos tiranos de plantão, mas como poder obediencial, tal qual insistem os zapatistas. Mandar obedecendo. Vontade popular.
Hoje o México é um país dividido. Paira um clima de tensão, uma espécie de pré-climax. A era Fox se acaba e um tumultuoso futuro se apresenta. As cenas de violência em Atenco ou Oaxaca foram protagonizadas pelo poder central como um aviso, para que o povo se aquietasse. Para que não se metesse nas coisas que os homens do governo pensam para o país. Para que não se atrevesse mais a dizer a sua palavra. Mas qual!... Pelas estradas do México profundo sopra um vento cúmplice. Um espectro revolucionário cavalga. Zapata. Villa. Antônio. Blanca. José. Juana... Ah, esses fantasmas... E, enquanto Felipe Calderón se encastela no palácio, pelas ruas vão assomando os vivos... E serão dignos de cada mexicano que já deu sua vida pela pátria.
- Elaine Tavares – jornalista no OLA, www.ola.cse.ufsc.br
https://www.alainet.org/es/node/118550
Del mismo autor
- No Brasil das maravilhas 30/03/2022
- Bolívia segue sonhando com saída para o mar 25/03/2022
- Câmara aprova urgência para projeto de destruição das terras indígenas 14/03/2022
- A Colômbia e a silenciada guerra contra o povo 02/03/2022
- Um muro na República Dominicana 24/02/2022
- A aposta latino-americana pela conciliação 26/01/2022
- ONU reconhece Maduro como presidente legítimo da Venezuela 09/12/2021
- Peru: mais um ataque da direita contra o governo 29/11/2021
- América Latina e as lutas sociais 20/10/2021
- Mil noites no Brasil 30/09/2021