A igreja que Bento XVI encontrará
06/05/2007
- Opinión
O Papa se prepara para pisar terras latino-americanas. E grande é a expectativa em torno de sua vinda. Muitas perguntas agitam os corações de cristãos do continente. Elas dizem mais respeito ao futuro do que ao presente. E versam sobre os novos rumos que a Igreja latino-americana pode esperar da importante Conferência que se inicia dentro de alguns dias.
Uma primeira expectativa que se faz sentir é o desejo que o catolicismo reencontre mais intensamente o caminho que leva ao coração das pessoas e, sobretudo, das novas gerações de nosso continente. Bento XVI encontrará uma Igreja que perde fiéis em ritmo acelerado, principalmente para as igrejas evangélicas de corte pentecostal. Embora isso não seja privilégio do catolicismo, sendo ponto comum com as outras igrejas históricas, não deixa de preocupar os católicos e pastores da Igreja católica um êxodo tão grande em suas fileiras.
Sem dúvida alguma todos os católicos, sem exceção, esperam que Aparecida lhes traga luzes e pistas para pensar e executar novas estratégias de pastoral que cheguem mais ao coração de jovens e adultos, devolvendo-lhes o entusiasmo da fé e o orgulho de ser católicos. De igual modo e em igual proporção desejam que esse novo ardor reconfigure o rosto de suas Igreja, combalida por embates e perdas nos últimos anos, golpeada pela secularização, pela globalização e pelo avanço de novas propostas religiosas mais fáceis e sedutoras.
Há, porém outras expectativas que rondam a V Conferência e que apontam para novos rumos da Igreja Católica no continente. Algumas são mais fortes em alguns setores. Por exemplo, o desejo de que haja uma retomada mais vigorosa e explícita da opção preferencial pelos pobres, grande conquista das conferências de Medellín, em 68, e de Puebla, em 79. A conferência de
Santo Domingo, em 92, não apontou isso como prioridade. Após trinta anos da reunião de Puebla, no entanto, o que se constata é que a pobreza na América Latina só fez crescer. Seria de se esperar, portanto, que Aparecida sublinhasse esse fato, apontando a imensa contradição que consiste em ser o continente com o maior número de católicos do mundo e ter mais de 30% da sua população abaixo da linha de pobreza.
Outra expectativa vem da própria configuração da Igreja e sua ação pastoral na América Latina. Muito centrada no clero e nos bispos, pôs como prioridade em Santo Domingo o protagonismo dos leigos. Quinze anos depois, com a diminuição acelerada das vocações sacerdotais e religiosas, a formação de um laicato consciente que possa tomar em suas mãos parte considerável e importante da ação pastoral eclesial revela-se de fundamental importância. Espera-se que a Igreja dos próximos anos integre os fiéis leigos, não apenas como consumidores e aprendizes, mas como produtores, participantes do poder decisório e líderes, que com sua presença, sua experiência espiritual e sua criatividade, poderão ajudar realmente a que a Igreja aqui em nossas latitudes palmilhe novos caminhos.
No entanto, esse exercício de futurologia teológica que aqui fazemos é apenas um humilde esforço de assessorar os bispos em sua importante reunião. Pois sabemos que o Espírito do Senhor, que conduz e preside a Igreja, será o mais importante artífice de tudo que possa acontecer em Aparecida e, a partir daí, em futuro próximo para a comunidade eclesial que aqui vive. Só Ele sabe o que será o futuro imediato para os cristãos latino-americanos. E a confiança em sua ação criadora e santificadora será o melhor ingrediente que os bispos poderão levar para a V Conferência.
- Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, é autora de "Deus amor: graça que habita em nós” (Editora Paulinas), entre outros livros.
Uma primeira expectativa que se faz sentir é o desejo que o catolicismo reencontre mais intensamente o caminho que leva ao coração das pessoas e, sobretudo, das novas gerações de nosso continente. Bento XVI encontrará uma Igreja que perde fiéis em ritmo acelerado, principalmente para as igrejas evangélicas de corte pentecostal. Embora isso não seja privilégio do catolicismo, sendo ponto comum com as outras igrejas históricas, não deixa de preocupar os católicos e pastores da Igreja católica um êxodo tão grande em suas fileiras.
Sem dúvida alguma todos os católicos, sem exceção, esperam que Aparecida lhes traga luzes e pistas para pensar e executar novas estratégias de pastoral que cheguem mais ao coração de jovens e adultos, devolvendo-lhes o entusiasmo da fé e o orgulho de ser católicos. De igual modo e em igual proporção desejam que esse novo ardor reconfigure o rosto de suas Igreja, combalida por embates e perdas nos últimos anos, golpeada pela secularização, pela globalização e pelo avanço de novas propostas religiosas mais fáceis e sedutoras.
Há, porém outras expectativas que rondam a V Conferência e que apontam para novos rumos da Igreja Católica no continente. Algumas são mais fortes em alguns setores. Por exemplo, o desejo de que haja uma retomada mais vigorosa e explícita da opção preferencial pelos pobres, grande conquista das conferências de Medellín, em 68, e de Puebla, em 79. A conferência de
Santo Domingo, em 92, não apontou isso como prioridade. Após trinta anos da reunião de Puebla, no entanto, o que se constata é que a pobreza na América Latina só fez crescer. Seria de se esperar, portanto, que Aparecida sublinhasse esse fato, apontando a imensa contradição que consiste em ser o continente com o maior número de católicos do mundo e ter mais de 30% da sua população abaixo da linha de pobreza.
Outra expectativa vem da própria configuração da Igreja e sua ação pastoral na América Latina. Muito centrada no clero e nos bispos, pôs como prioridade em Santo Domingo o protagonismo dos leigos. Quinze anos depois, com a diminuição acelerada das vocações sacerdotais e religiosas, a formação de um laicato consciente que possa tomar em suas mãos parte considerável e importante da ação pastoral eclesial revela-se de fundamental importância. Espera-se que a Igreja dos próximos anos integre os fiéis leigos, não apenas como consumidores e aprendizes, mas como produtores, participantes do poder decisório e líderes, que com sua presença, sua experiência espiritual e sua criatividade, poderão ajudar realmente a que a Igreja aqui em nossas latitudes palmilhe novos caminhos.
No entanto, esse exercício de futurologia teológica que aqui fazemos é apenas um humilde esforço de assessorar os bispos em sua importante reunião. Pois sabemos que o Espírito do Senhor, que conduz e preside a Igreja, será o mais importante artífice de tudo que possa acontecer em Aparecida e, a partir daí, em futuro próximo para a comunidade eclesial que aqui vive. Só Ele sabe o que será o futuro imediato para os cristãos latino-americanos. E a confiança em sua ação criadora e santificadora será o melhor ingrediente que os bispos poderão levar para a V Conferência.
- Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, é autora de "Deus amor: graça que habita em nós” (Editora Paulinas), entre outros livros.
https://www.alainet.org/es/node/120951?language=es
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