Mídia corporativa fez cobertura superficial
11/09/2007
- Opinión
Relação entre o plebiscito e o governo foi praticamente o único tema explorado pelos veículos conservadores
A tradicional ênfase da cobertura da imprensa corporativa sobre a atuação dos movimentos sociais já é conhecido: deturpa os fatos ou tenta silenciá-los. Durante o plebiscito popular pela anulação do leilão da Companhia Vale do Rio Doce – que mobilizou 80 mil militantes e coletou, segundo estimativas, mais de 6 milhões de votos em duas mil cidades brasileiras –, as motivações da iniciativa, a participação cidadã e a pauta das centenas de organizações envolvidas passaram ao largo do noticiário da TV e das páginas dos jornais.
Para o pesquisador em comunicação, Venício Artur de Lima, surpreendente seria se a mídia corporativa tivesse coberto bem esse plebiscito. “Ela encampou totalmente, na época de Fernando Henrique, o projeto de privatizar o Estado”, lembra. Segundo Vito Gianotti, do Núcleo Piratininga de Comunicação, toda a mídia corporativa defendeu a privatização e até hoje defende a permanência da empresa nas mãos do capital privado, “por isso fez de tudo para encobrir um grande acontecimento sócio-político como o plebiscito”.
Para Cristina Charão, do Coletivo Intervozes de Comunicação, é difícil imaginar a mídia comercial discutindo a invalidade de uma privatização que transforma uma empresa estatal em um grande anunciante. Somado a isso, ela critica o fato de que muito pouco é dito sobre as doações eleitorais da Vale para o PT (R$ 10,53 milhões em 2006, segundo o Tribunal Superior Eleitoral) e sobre o apoio de Roger Agnelli (diretor-presidente do conglomerado) à campanha presidencial de 2002.
“A cobertura só tem abordado a relação entre o plebiscito e o governo. A moção de apoio do Congresso do PT foi o que abriu um espaço para a cobertura. Aprovada no sábado (dia 1º), ainda havia respingos (da decisão) na segunda-feira”, conta Charão.
Segundo ela, a única matéria da quarta-feira (dia 6), por exemplo, foi a menção do “entrevero” político entre tucanos e o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) em Brasíllia, quando o parlamentar colocou uma urna do plebiscito no “café” do Congresso Nacional.
“Esse fato foi muito interessante porque acabou reverberando e exigindo que a mídia saísse do silêncio, pela polarização partidária que aconteceu no Congresso. Mas, certamente, há um boicote sobre esse debate. E, rigorosamente, um medo do governo de tratar essa questão”, aponta Valente.
Formar a população
“O comportamento da mídia reforça, nesse sentido, a compreensão da necessidade de a esquerda ter seus próprios meios de comunicação, como o Brasil de Fato, e ampliá-los”, enfatiza Vito Gianotti.
Mesmo com o boicote das grandes empresas jornalísticas, a participação de estudantes e trabalhadores de todo o país foi maciça graças à mobilização dos movimentos populares e à força dos meios de informação independentes, boa parte, ancorados na internet.
De acordo com Gianotti, os poucos instrumentos de comunicação nas mãos da esquerda no país cumpriram o papel de aprofundar o debate em torno do plebiscito popular pela anulação do leilão da Vale.
Venício Lima destaca o papel da internet. “Apesar da grande exclusão digital no país, o acesso que as lideranças dos movimentos sociais têm à \'internet\' ofereceu uma diversidade de informações que se difere da grande mídia. Isso está ajudando a provocar mudanças que a gente não consegue avaliar ainda”, afirma.
Para o pesquisador, com a internet, estamos diante da substituição dos formadores de opinião tradicionais, colunistas da grande mídia "por outras vozes", comenta, diante da mobilização de milhares de pessoas em relação à anulação do privatização da Vale. “As coisas estão mudando muito no Brasil. As eleições de 2006 são um exemplo cabal disso”, afirma Venício, referindo-se à oposição da mídia corporativa à candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a sua, posterior, vitória.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br
A tradicional ênfase da cobertura da imprensa corporativa sobre a atuação dos movimentos sociais já é conhecido: deturpa os fatos ou tenta silenciá-los. Durante o plebiscito popular pela anulação do leilão da Companhia Vale do Rio Doce – que mobilizou 80 mil militantes e coletou, segundo estimativas, mais de 6 milhões de votos em duas mil cidades brasileiras –, as motivações da iniciativa, a participação cidadã e a pauta das centenas de organizações envolvidas passaram ao largo do noticiário da TV e das páginas dos jornais.
Para o pesquisador em comunicação, Venício Artur de Lima, surpreendente seria se a mídia corporativa tivesse coberto bem esse plebiscito. “Ela encampou totalmente, na época de Fernando Henrique, o projeto de privatizar o Estado”, lembra. Segundo Vito Gianotti, do Núcleo Piratininga de Comunicação, toda a mídia corporativa defendeu a privatização e até hoje defende a permanência da empresa nas mãos do capital privado, “por isso fez de tudo para encobrir um grande acontecimento sócio-político como o plebiscito”.
Para Cristina Charão, do Coletivo Intervozes de Comunicação, é difícil imaginar a mídia comercial discutindo a invalidade de uma privatização que transforma uma empresa estatal em um grande anunciante. Somado a isso, ela critica o fato de que muito pouco é dito sobre as doações eleitorais da Vale para o PT (R$ 10,53 milhões em 2006, segundo o Tribunal Superior Eleitoral) e sobre o apoio de Roger Agnelli (diretor-presidente do conglomerado) à campanha presidencial de 2002.
“A cobertura só tem abordado a relação entre o plebiscito e o governo. A moção de apoio do Congresso do PT foi o que abriu um espaço para a cobertura. Aprovada no sábado (dia 1º), ainda havia respingos (da decisão) na segunda-feira”, conta Charão.
Segundo ela, a única matéria da quarta-feira (dia 6), por exemplo, foi a menção do “entrevero” político entre tucanos e o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) em Brasíllia, quando o parlamentar colocou uma urna do plebiscito no “café” do Congresso Nacional.
“Esse fato foi muito interessante porque acabou reverberando e exigindo que a mídia saísse do silêncio, pela polarização partidária que aconteceu no Congresso. Mas, certamente, há um boicote sobre esse debate. E, rigorosamente, um medo do governo de tratar essa questão”, aponta Valente.
Formar a população
“O comportamento da mídia reforça, nesse sentido, a compreensão da necessidade de a esquerda ter seus próprios meios de comunicação, como o Brasil de Fato, e ampliá-los”, enfatiza Vito Gianotti.
Mesmo com o boicote das grandes empresas jornalísticas, a participação de estudantes e trabalhadores de todo o país foi maciça graças à mobilização dos movimentos populares e à força dos meios de informação independentes, boa parte, ancorados na internet.
De acordo com Gianotti, os poucos instrumentos de comunicação nas mãos da esquerda no país cumpriram o papel de aprofundar o debate em torno do plebiscito popular pela anulação do leilão da Vale.
Venício Lima destaca o papel da internet. “Apesar da grande exclusão digital no país, o acesso que as lideranças dos movimentos sociais têm à \'internet\' ofereceu uma diversidade de informações que se difere da grande mídia. Isso está ajudando a provocar mudanças que a gente não consegue avaliar ainda”, afirma.
Para o pesquisador, com a internet, estamos diante da substituição dos formadores de opinião tradicionais, colunistas da grande mídia "por outras vozes", comenta, diante da mobilização de milhares de pessoas em relação à anulação do privatização da Vale. “As coisas estão mudando muito no Brasil. As eleições de 2006 são um exemplo cabal disso”, afirma Venício, referindo-se à oposição da mídia corporativa à candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a sua, posterior, vitória.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br
https://www.alainet.org/es/node/123242?language=es
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