A Universidade vai às urnas
28/10/2007
- Opinión
A Universidade Federal de Santa Catarina vive as últimas semanas de uma campanha eleitoral que deverá definir quem dirige a instituição pelos próximos quatro anos. Dentre as três chapas que estão em disputa, uma é fruto do desejo profundo de mudança que, finalmente, parece se expressar como maioria. Nildo Ouriques (atual presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos) e Maurício Pereima são os representantes desta idéia que toma conta das salas de aula, das bibliotecas, do restaurante, do hospital, dos jardins e dos corredores da UFSC. Historicamente, a universidade de Santa Catarina quase sempre foi comandada por um único grupo, passando por brevíssimos momentos de alternância no poder. Agora, sente-se que, definitivamente, a hora da mudança chegou.
Desde a década de 90, acompanhando o desmonte neoliberal provocado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, a sempre igual administração UFSC foi se adequando aos tempos de desconstrução. Parte de suas funções foi terceirizada e o quadro de trabalhadores não avançou, uma vez que os concursos foram suspensos. Não bastasse isso, outras tantas funções foram extintas, tais como segurança, motoristas e cozinheiros, fazendo com que o processo de terceirização e precarização ficasse ainda mais aprofundado. Hoje, por conta disso, a universidade convive com a possibilidade do fim do Restaurante Universitário, sofre problemas crônicos de segurança e apresenta um quadro de professores e técnicos cada vez mais assoberbado pelo acúmulo de trabalho.
Mas, apesar de todas as mazelas estruturais da universidade pública, é justamente a qualidade e a dedicação de seus trabalhadores que fazem com que a UFSC seja reconhecida em nível federal como uma das melhores universidades do país. Assim, com todo esse quadro de problemas e potencialidades, a comunidade universitária deverá decidir qual o projeto de universidade vai conduzir a UFSC até o ano de 2012.
As disputas
As mais de 39 mil pessoas que compõem o panorama eleitoral na UFSC vão decidir entre três candidaturas. Uma delas, a dobradinha Álvaro Prata e Carlos Alberto Justo da Silva, representa a continuidade de uma administração que atravessou todo esse tempo de desmonte e adequação sem realizar combates. Primeiro com os dois mandatos de Rodolfo Pinto da Luz e, depois, com o de Lúcio Botelho e Ariovaldo Bolzan. A segunda candidatura, de Fernando Kinoshita e Marcelo Krajnc Alves, apareceu nos últimos dias e é praticamente desconhecida na universidade. Já a terceira, de Nildo Ouriques e Maurício Pereima surge como uma proposta efetiva de mudança.
Na verdade, apesar de serem três as candidaturas, o embate se dará entre duas visões muito claras de universidade. Uma que é a de adequação e continuísmo e outra que propõe uma outra maneira de administrar, calcada no diálogo, na democracia, na transparência e na participação.
No campus, o clima eleitoral pende para a mudança. O projeto do grupo que administra a universidade desde há 12 anos parece ter esgotado todas as suas possibilidades. Nunca se viu tanto desejo de transformação, mesmo entre antigos apoiadores da atual administração. Nos técnico-administrativos - que já foram obrigados a ouvir da boca do atual vice-reitor, Ariovaldo Bolzan, que a universidade podia muito bem seguir sem eles – é visível a vontade de que aconteça uma mudança profunda nas formas de conduzir os destinos da UFSC. “Precisamos valorizar essa gente nova que está aí querendo construir uma universidade melhor, precisamos de instâncias de participação, de liberdade, de democracia. É hora de mudar”, diz Roberto Carlos Alves, trabalhador da UFSC há 23 anos. Para Jussara Godói, 15 anos de UFSC, já basta de uma administração que nunca lutou por uma universidade melhor. “Esse pessoal sempre foi se adequando, aceitando tudo o que veio. Nós precisamos de uma nova UFSC, um lugar onde sejamos valorizados e que garanta ensino de qualidade, comprometido com a melhoria do nosso estado e do nosso país. É por isso que não dá para querer menos. Somos ouro”, diz, numa referência ao nome do candidato Nildo Ouriques que disputa com Álvaro Prata.
Entre os estudantes também aparece a idéia de mudança como a melhor opção para uma universidade que não se renova. “Acredito que com o Nildo e o Maurício vai haver um questionamento dos atuais rumos políticos e intelectuais da universidade e isso vai resultar em novas perspectivas e projetos para a superação dos nossos problemas”, diz Diógenes Breda, do Curso de Economia, onde Nildo atua como professor. “O Nildo tem o ideal mais próximo do que imagino quando se fala em universidade do saber”, confirma Fernando Bastos Neto, aluno do Direito, também apostando na mudança.
No conjunto dos professores, a esperança é de que a próxima administração traga o que chamam de “choque de gestão”. Ou seja, um jeito novo de conduzir, capaz de dar espaço para a participação e o diálogo. Capaz de levar a UFSC a um patamar de respeito e qualidade com a valorização da graduação, da pós e de toda a estrutura da universidade. “Com Nildo e Maurício ser reitor e vice não vai significar só o administrar do prédio da reitoria. A função vai além disso, relaciona-se com as demandas dos professores, técnicos e estudantes. Será bom ver um reitor percorrendo salas e corredores da universidade, próximo de nós, de nossos problemas e buscando soluções de forma participativa”, diz Antônio César Becker, do Centro de Educação.
A eleição acontece no dia 13 de novembro e envolve um colégio eleitoral de mais de 39 mil pessoas entre professores, técnicos e estudantes. Haverá urnas em todos os Centros da UFSC e nos colégios agrícolas de Araquari e Camboriu.
- Elaine Tavares – jornalista no Ola/UFSC. O OLA é um projeto de observação e análise das lutas populares na América Latina.
http://www.ola.cse.ufsc.br
Desde a década de 90, acompanhando o desmonte neoliberal provocado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, a sempre igual administração UFSC foi se adequando aos tempos de desconstrução. Parte de suas funções foi terceirizada e o quadro de trabalhadores não avançou, uma vez que os concursos foram suspensos. Não bastasse isso, outras tantas funções foram extintas, tais como segurança, motoristas e cozinheiros, fazendo com que o processo de terceirização e precarização ficasse ainda mais aprofundado. Hoje, por conta disso, a universidade convive com a possibilidade do fim do Restaurante Universitário, sofre problemas crônicos de segurança e apresenta um quadro de professores e técnicos cada vez mais assoberbado pelo acúmulo de trabalho.
Mas, apesar de todas as mazelas estruturais da universidade pública, é justamente a qualidade e a dedicação de seus trabalhadores que fazem com que a UFSC seja reconhecida em nível federal como uma das melhores universidades do país. Assim, com todo esse quadro de problemas e potencialidades, a comunidade universitária deverá decidir qual o projeto de universidade vai conduzir a UFSC até o ano de 2012.
As disputas
As mais de 39 mil pessoas que compõem o panorama eleitoral na UFSC vão decidir entre três candidaturas. Uma delas, a dobradinha Álvaro Prata e Carlos Alberto Justo da Silva, representa a continuidade de uma administração que atravessou todo esse tempo de desmonte e adequação sem realizar combates. Primeiro com os dois mandatos de Rodolfo Pinto da Luz e, depois, com o de Lúcio Botelho e Ariovaldo Bolzan. A segunda candidatura, de Fernando Kinoshita e Marcelo Krajnc Alves, apareceu nos últimos dias e é praticamente desconhecida na universidade. Já a terceira, de Nildo Ouriques e Maurício Pereima surge como uma proposta efetiva de mudança.
Na verdade, apesar de serem três as candidaturas, o embate se dará entre duas visões muito claras de universidade. Uma que é a de adequação e continuísmo e outra que propõe uma outra maneira de administrar, calcada no diálogo, na democracia, na transparência e na participação.
No campus, o clima eleitoral pende para a mudança. O projeto do grupo que administra a universidade desde há 12 anos parece ter esgotado todas as suas possibilidades. Nunca se viu tanto desejo de transformação, mesmo entre antigos apoiadores da atual administração. Nos técnico-administrativos - que já foram obrigados a ouvir da boca do atual vice-reitor, Ariovaldo Bolzan, que a universidade podia muito bem seguir sem eles – é visível a vontade de que aconteça uma mudança profunda nas formas de conduzir os destinos da UFSC. “Precisamos valorizar essa gente nova que está aí querendo construir uma universidade melhor, precisamos de instâncias de participação, de liberdade, de democracia. É hora de mudar”, diz Roberto Carlos Alves, trabalhador da UFSC há 23 anos. Para Jussara Godói, 15 anos de UFSC, já basta de uma administração que nunca lutou por uma universidade melhor. “Esse pessoal sempre foi se adequando, aceitando tudo o que veio. Nós precisamos de uma nova UFSC, um lugar onde sejamos valorizados e que garanta ensino de qualidade, comprometido com a melhoria do nosso estado e do nosso país. É por isso que não dá para querer menos. Somos ouro”, diz, numa referência ao nome do candidato Nildo Ouriques que disputa com Álvaro Prata.
Entre os estudantes também aparece a idéia de mudança como a melhor opção para uma universidade que não se renova. “Acredito que com o Nildo e o Maurício vai haver um questionamento dos atuais rumos políticos e intelectuais da universidade e isso vai resultar em novas perspectivas e projetos para a superação dos nossos problemas”, diz Diógenes Breda, do Curso de Economia, onde Nildo atua como professor. “O Nildo tem o ideal mais próximo do que imagino quando se fala em universidade do saber”, confirma Fernando Bastos Neto, aluno do Direito, também apostando na mudança.
No conjunto dos professores, a esperança é de que a próxima administração traga o que chamam de “choque de gestão”. Ou seja, um jeito novo de conduzir, capaz de dar espaço para a participação e o diálogo. Capaz de levar a UFSC a um patamar de respeito e qualidade com a valorização da graduação, da pós e de toda a estrutura da universidade. “Com Nildo e Maurício ser reitor e vice não vai significar só o administrar do prédio da reitoria. A função vai além disso, relaciona-se com as demandas dos professores, técnicos e estudantes. Será bom ver um reitor percorrendo salas e corredores da universidade, próximo de nós, de nossos problemas e buscando soluções de forma participativa”, diz Antônio César Becker, do Centro de Educação.
A eleição acontece no dia 13 de novembro e envolve um colégio eleitoral de mais de 39 mil pessoas entre professores, técnicos e estudantes. Haverá urnas em todos os Centros da UFSC e nos colégios agrícolas de Araquari e Camboriu.
- Elaine Tavares – jornalista no Ola/UFSC. O OLA é um projeto de observação e análise das lutas populares na América Latina.
http://www.ola.cse.ufsc.br
https://www.alainet.org/es/node/123953
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