Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, e Ricardo Gebrim, da Consulta popular

Analisam o resultado das eleições deste domingo

06/10/2008
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Plínio de Arruda Sampaio, presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária, e Ricardo Gebrim, militante da Consulta Popular, analisam o resultado das eleições deste domingo. Plínio, que é filiado ao PSOL, acha que o seu partido – que não elegeu nem 10 vereadores em todo o país – usou o discurso errado, “fez o discurso administrativo”. Por sua vez, Gebrim destaca que ao optarem por lançar candidaturas próprias, os partidos de esquerda (PSOL, PSTU, PCB, entre outros) saíram enfraquecidos. Até mesmo dentro do PT, com algumas exceções, “as candidaturas que se fortaleceram nacionalmente não são as candidaturas que expressam a esquerda do partido”.

 

Como os senhores avaliam os resultado das eleições?

 

Plínio de Arruda Sampaio – O resultado era o esperado, uma vitória monstruosa da direita e uma derrota monumental da esquerda.

 

Ricardo Gebrim – A grande marca desta eleição foi a despolitização. A legislação eleitoral até contribui para isso. O que nós assistimos foi principalmente a discussões do tipo “quantos quilômetros”, “onde seria a ponte”, “onde seria asfaltado”. Não havia um debate de projetos políticos diferenciados, e nenhum setor foi capaz de colocar esse projeto diferenciado em nível nacional.

 

A base aliada do governo no Congresso Nacional encabeça chapas em 10 das 11 disputas do segundo turno para prefeitura das capitais. É possível atribuir esse número expressivo ao fato do PT ter se tornado um partido do "sistema", digamos assim?

 

Plínio de Arruda Sampaio – Dá para atribuir ao Bolsa Família, ao Prouni e a toda essa mistificação assistencial.

 

Ricardo Gebrim – A base aliada do governo sai fortalecida nesse processo eleitoral, com o Lula sendo o cabo eleitoral. Ao mesmo tempo, é interessante notar que os setores mais conservadores da base do governo que saem mais fortalecidos não são os setores da esquerda, nem mesmo dentro do PT. Com algumas exceções, as candidaturas que se fortaleceram nacionalmente não são as candidaturas que expressam a esquerda do PT, até pelo contrário.

 

Que conseqüências essa política de alianças pode trazer para o país?

 

Plínio de Arruda Sampaio – As alianças beneficiam a direita. Os partidos de esquerda devem se aliar entre si, porque toda vez que se aliam com o outro lado estão somando para o outro lado.

 

Ricardo Gebrim – Acho que isso é um perigo, pois reforça a tendência de não se apresentar projetos políticos.

 

O PSOL teve ainda uma participação muito baixa nas eleições de 2008, não elegeu nem 10 vereadores em todo o país. Por que o partido ainda tem uma participação tão baixa? Por que ele ainda não se consolidou como alternativa real?

 

Plínio de Arruda Sampaio – Eu acho que o PSOL usou o discurso errado, fez o discurso administrativo. Se você, sabidamente pelos Ibopes e pelas pesquisas não tem chance, o eleitor não presta atenção à sua proposta. Ele tinha que fazer um discurso ideológico político, mas ele não conseguiu sair do formato que a mídia fez para o debate. Os que conseguiram ir mais para a política tiveram resultados um pouco melhores, foram para a faixa dos 4% ou 5%. A Luciana Genro, em Porto Alegre, conseguiu o melhor resultado (9%) porque se engalfinhou no debate político.

 

Ricardo Gebrim – Atribuo isso a dois fatores. Em primeiro lugar, não houve, nesta campanha, uma discussão a respeito de projetos de governo. Houve discussões só no âmbito administrativo, do tipo, construir mais unidades, construir pontes, esse tipo de coisa. Isso prejudicou os partidos e os candidatos que tinham e queriam apresentar propostas, ficaram privados de mostrar isso. Em segundo lugar, houve uma ruptura na esquerda. PSOL, PSTU, PCB e vários outros partidos resolveram lançar suas candidaturas e não fazer alianças, o que fragmentou toda a esquerda e enfraqueceu todos eles.

 

Venezuela, Equador e Bolívia provaram que, mesmo que com todos os obstáculos e contradições, pode-se fazer implementar políticas sociais. Como criar as mesmas condições no Brasil para que as eleições sejam, um dia, um instrumento de transformação?

 

Plínio de Arruda Sampaio – Organizando o povo. Não tem outra maneira. Participando das lutas do povo, aproveitando essas lutas para conscientizar a massa e organizar a massa. Isso para construir poder popular fora do clientelismo político.

 

Ricardo Gebrim – Nesses países, nós estamos assistindo a um processo político que envolve transformações estruturais, mas é preciso lembrar que elas não vieram de um típico processo eleitoral. Tanto na Venezuela, na Bolívia e mesmo no Equador, ocorreram grandes manifestações populares, levantes populares e até mesmo uma situação insurrecional, como foi na Bolívia. E as candidaturas, tanto de Hugo Chávez, de Evo Morales e de Rafael Correa, de uma certa forma, refletem uma correlação de forças que foi produzida por lutas populares, por manifestações de rua, por enfrentamentos de massa, e não por um acúmulo eleitoral, simplesmente. Isso lhes dá, em grande parte, a força e a unidade dos discursos populares para poder implementar as mudanças que estão fazendo.

 

Quais as perspectivas para esse 2º turno?

 

Plínio de Arruda Sampaio – Eu acho que são as piores possíveis. Sabe por quê? Porque não tem escolha. O que ganhar, reforça o domínio burguês, que é o grande problema desse país. Não tem diferença.

 

Ricardo Gebrim – As perspectivas não são muito animadoras. Pode ser que, em algumas cidades, como São Paulo, Porto Alegre e Salvador, onde o PT disputa, haja uma mudança. Se isso não ocorrer, pode ser que haja um fortalecimento dos governos conservadores.

 

Brasi de Fato 06/10/2008

 

Patrícia Benvenuti da Redação

https://www.alainet.org/es/node/130175
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