Relação das comunidades tradicionais com a terra contribui para equilíbrio climático do planeta
- Opinión
A importância das terras indígenas e do conhecimento dos povos tradicionais para o equilíbrio climático da terra foram destacados durante o Simpósio Internacional Mudanças Climáticas e Justiça Social, que ocorreu entre 8 e 10 de junho,
A visão de comunidades tradicionais sobre a preservação do planeta foi apresentada no primeiro dia do encontro. Representantes de quilombolas, pescadores, indígenas e de religiões de matriz afro falaram sobre a inter-relação de seus modos de vida com a sustentabilidade ambiental. “Você imagina um terreiro de candomblé sem árvore, sem animais, sem água por perto? Precisamos desses elementos para o modo como vivemos nossa crença”, lembrou Tata Ngunz'tala, líder religioso.
A representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Valeria Paye, do povo Katxuyana, destacou a importância das terras indígenas para se conter o aquecimento global. Ela lembrou que os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos por todos, no entanto, os indígenas e outros povos tradicionais estavam entre os mais afetados. Por outro lado, o modo específico de se relacionar com a terra desses grupos os leva a destruir menos o meio ambiente. “Nossos avós ensinaram a respeitar a vida de tudo, dos animais, da terra... Não é a toa que nossas áreas são as mais preservadas do Brasil, cercadas por terras destruídas”, explicou.
Valéria destacou que a preservação das terras indígenas beneficia a todos, não apenas aos índios. Por outro lado, as ameaças às terras desses povos, como grandes projetos de infra-estrutura trazem impactos negativos para o meio ambiente e beneficiam poucas pessoas. “A transposição do Rio São Francisco (NE), as hidrelétricas de Belo Monte (PA), de Santo Antônio e Jirau (RO) afetam os indígenas, os rios, os animais e vão beneficiar as grandes empresas e os grandes produtores.” ressaltou.
Ela também criticou a aprovação no Congresso Nacional da Medida Provisória sobre regularização de terras na Amazônia. “Eu não vejo respeito ao planeta no Congresso. Vão destruindo, passando por cima e o clima piora para todo mundo” reforçou.
Segundo o teólogo Luiz Carlos Susin, da PUC/RS, é preciso contestar as prioridades dadas como absolutas. “Por que a terra não pode ser indígena, deve ser de alguns poucos fazendeiros? Por que nos pautamos sempre pelo resultado da balança comercial, sem avaliar os impactos sociais?”, ponderou. Na avaliação de diversos participantes do encontro, uma nova postura ética em relação ao meio ambiente precisa ser colocada em prática.
Enchentes e secas no Brasil
O professor do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), Tércio Ambrizzi, falou sobre o impacto do aumento da temperatura, do nível do mar e da concentração de dióxido de carbono (CO2) no Brasil. “Se esses dados continuarem a se expandir, o Brasil vai assumir uma nova identidade com impactos diretos à agricultura e mais presença de secas e inundações nos próximos anos”, alertou. Segundo Ambrizzi, os desastres que aconteceram no Norte e Nordeste haviam sido identificados pelos centros de meteorologia, mas nada foi feito”, criticou o pesquisador.
Os participantes do encontro definiram diversas possibilidades de ações para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. O Simpósio foi promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pela agência católica alemã Misereor e diversas entidades parceiras. A partir do evento, Segundo, Dom Guilherme, bispo da Diocese de Ipameni (Goiás) e membro daComissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, a CNBB continuará aprofundando os estudos sobre o tema e realizando outras ações, como a difusão de informações sobre o assunto e a busca de mitigação para os impactados pelas mudanças climáticas.
CIMI - Informe nº. 867, 10/06/2009
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