Muda de patamar com acordo militar

21/09/2009
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Investimento em tecnologia bélica abranda domínio dos EUA na AL; pré-sal e Amazônia são pretextos para medida.
 
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com o seu colega francês Nicolas Sarkozy e firmou um acordo comercial-militar que promete estremecer a ordem geopolítica internacional. A tão falada multipolaridade do mundo pós-crise parece ganhar contornos mais nítidos. De forma tímida e sem ameaçar diretamente a hegemonia dos Estados Unidos, o Brasil deve se tornar um pólo da indústria bélica, com tecnologia para produzir seus próprios armamentos.
 
O acordo de cooperação militar está estipulado em R$ 32,5 bilhões a ser pago pelo Brasil nos próximos 20 anos. Até o momento, ficou previsto que o país comprará 36 aviões de combate Rafale, 51 helicópteros e 4 submarinos. O Brasil também deve importar tecnologia para construir uma base militar, um estaleiro e um submarino com propulsão nuclear. A França irá comprar 10 aviões KC-390 da Embraer.
 
A oposição critica a medida de Lula por ter privilegiado a compra de jatos mais caros do que aqueles oferecidos por EUA e Suécia – países que se disseram insatisfeitos com as tratativas entre Lula e Sarkozy. Para analistas, o que incomoda a oposição é o fato de o Brasil trocar de patamar em termos de liderança regional. Enquanto Colômbia e Peru mantêm uma opção preferencial de submissão aos EUA, a Venezuela articula-se com Rússia e Irã. Restou ao Brasil ocupar esse amplo espectro do “centro geopolítico” que separa os dois blocos, aliando-se à França.
 
Pré-sal e Amazônia
 
O governo brasileiro aponta o investimento nas Forças Armadas como forma de garantir a defesa do território e, sobretudo, do pré-sal. Para o sociólogo Emir Sader, professor da Uerj, a medida do governo foi acertada e impõe uma derrota aos EUA, que deixarão de ter a América Latina como “o pátio traseiro” de sua casa.
 
“Um dos grandes objetivos desse pacto é passar do mundo unipolar para o multipolar. Acho que esse investimento tem mais foco em proteger a Amazônia do que o pré-sal. Sobre o pré-sal até existe um certo tipo de questionamento [externo], se as jazidas estão ou não dentro das 200 milhas [que separam águas brasileiras das internacionais], mas o principal é a Amazônia”, aponta Sader.
 
Para ele, as críticas da oposição refletem uma falta de projeto do setor e afirma que as compras militares não são como as demais, ou seja, o preço não é o mais importante, mas sim a relação política com o país produtor. “A oposição não tem plataforma em relação a nada”, destaca.
 
Como exemplo de crítica infundada, o sociólogo cita o jornal O Globo que comparou a declaração de Lula, de que a decisão em última instância é dele, a Luiz XIV, imperador absolutista francês, que cunhou a célebre frase “o Estado sou eu”. “Lula está certo, é uma visão política, de soberania nacional. É uma visão política prioritária e não pode ser submetida a interesses menores”, diz.
 
Intenção dos EUA
 
Para o jornalista uruguaio Raúl Zibechi, especialista em América Latina, as compras militares brasileiras deixam mais claras quais são as intenções dos EUA na região. Ao contrário do que parece, as bases estadunidenses na Colômbia não têm como principal foco conter a “ameaça chavista”, mas sim a expansão da liderança brasileira. “O acordo com a França permite entender as bases estadunidenses na Colômbia. São para frear o Brasil, para por abaixo a Unasul, é para evitar o inevitável, a perda da hegemonia dos EUA”, avalia.
 
A importância de deter o Brasil aumentou após, recentemente, os EUA perderem o posto de maior negociador com o país para a China. “Primeiro veio a construção do Brasil como potência global e junto a isso declínio dos EUA. Depois veio o descobrimento do pré-sal, que dá autonomia energética a Brasil. Além disso, desde abril, a China desbanca os EUA como o principal sócio comercial do Brasil e isso quer dizer que a rota de comércio por meio dos Andes é a chave dessa aliança entre Ásia e América do Sul. As bases na Colômbia são uma reação dos EUA ante esse declínio para frear a aliança Brasil-China”, analisa Zibechi.
 
De acordo com o uruguaio, o estreitamento de relações do Brasil com a França não significa que o país esteja trocando uma dependência por outra. “Não creio que [o Brasil] dependerá da França, porque as armas serão construídas no Brasil. Acontece que o país não pode romper com os EUA, mas busca alijar-se suavemente, porque o peso dos EUA na América do Sul segue sendo muito grande e continuará sendo uma grande potência, mas não a única”, prevê.
 
Fonte: Brasil de Fato
https://www.alainet.org/es/node/136518
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