ONU é vaiada e Evo pede a morte do capitalismo
19/04/2010
- Opinión
Durante ato de abertura oficial da Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas (CMPCC), o presidente da Bolívia, Evo Morales, fez um duro discurso contra o capitalismo, enquanto a representante das Nações Unidas (ONU) recebeu vaias do público.
A cerimônia inaugural da CMPCC aconteceu em um pequeno, mas abarrotado, estádio de futebol da cidade de Tiquipaya, na região metropolitana de Cochabamba, Bolívia. Após apresentações musicais e uma cerimônia espiritual realizada pelo Conselho Nacional de Amautas (sábios andinos), em reverência a Madre Tierra, começaram os discursos de autoridades e representantes de movimentos sociais de todo o mundo, assistidos por cerca de 15 mil pessoas, debaixo de sol forte, na manhã desta terça-feira (20).
Entre as falas iniciais, estava a da brasileira e dirigente da Via Campesina, Itelvina Masioli, que saudou o presidente Morales, afirmando que “não haveria outro presidente com tanta moral política para fazer esta convocação [da CMPCC]”. Masioli ainda salientou que “enfrentar esse processo de morte [crise ecológica] significa muita organização”.
Uma carta do historiador e escritor Eduardo Galeano foi lida durante o ato. Nela, Galeano chamou a Conferência como “uma reunião dos seus” e disse que a “inflação palavrária” já causou mais danos a América Latina do que a inflação monetária, por isso, pediu aos participantes a capacidade de “falar pouco e fazer muito”. Ao final, o escritor pediu: “Tomara que os surdos nos escutem: os direitos humanos e os direitos da natureza são dois nomes da mesma dignidade”.
ONU vaiada
A Secretária Executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), Alicia Bárcena, pronunciou-se em nome do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, mas o público demonstrou que não queria escutá-la. Poucos minutos após o início de sua fala, a vaia tomou conta do estádio, constrangendo Bárcena, que interrompeu seu discurso e disse “viemos escutar a todos os povos, pedimos respeito”.
Porém, com a continuação das vaias, a representante da ONU encerrou rapidamente seu pronunciamento e o apresentador do evento convocou, em seguida, o presidente Morales para o seu discurso.
Crítica ao capitalismo
O presidente boliviano começou considerando o encontro da ONU sobre as mudanças climáticas em Copenhague, em dezembro do ano passado, como “um triunfo para nós e um fracasso para os países desenvolvidos”. De acordo com Morales, ele tentou levar o sofrimento dos povos do mundo à Copenhague. “Mas não fomos escutados. Se fossemos, essa conferência não seria necessária.”, ressaltou.
Para combater o aquecimento global, Morales disse que enquanto não mudarmos o sistema, todas as medidas serão paliativas. “A causa principal é o capitalismo e como povos temos toda a moral para dizer que o inimigo central é o capitalismo. Para o capitalismo, os seres humanos são só consumidores e força de trabalho. O capitalismo é sinônimo de inanição. Para o mundo ocidental, o homem tem que dominar a Terra, para nós, nós somos parte dela, dela viemos e para ela voltamos quando morremos”, considerou.
O presidente defendeu a industrialização para atender as necessidades básicas da população, mas não ao desenvolvimento ilimitado. “Salvemos a Mãe Terra do capitalismo. Que morra o capitalismo”, bradou Morales ao final de seu discurso.
Até segunda-feira (19), quase 30 mil pessoas, de 135 países, sendo 94 delegações oficiais, estavam inscritas na CMPCC. A conferência irá até quinta-feira.
- Vinivius Mansur
Brasil de Fato/Minga Informativa de Movimientos Sociales
https://www.alainet.org/es/node/140791
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