“Doença genética” ameaça economia da União Européia

28/07/2010
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Com desemprego elevado e países endividados, União Europeia e euro sofrem as consequências de uma falha de origem
 
 “Unidos na diversidade” é o lema da União Europeia (UE), mas o dizer parece cada vez mais utópico. As diferenças econômicas entre os 27 países do bloco têm sido motivos de desavenças e aumento do tom de voz entre seus membros. Tais rusgas tornam-se ainda maiores entre os 16 países que adotam o euro como moeda.
 
De um lado, a maior economia da Europa, a Alemanha, passa a ter seu papel de liderança ressaltado dentro da UE, ditando regras aos países que mais sofrem com a crise econômica iniciada em 2008, que teve seu epicentro nos Estados Unidos.
 
Os “primos pobres”, de certa forma, são achincalhados pela imprensa de seus vizinhos, sendo identificados pelo acrônimo pejorativo Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, na sigla em inglês).
 
Os níveis de desemprego chegam até a 20% da população economicamente ativa em nações como a Espanha e dão fôlego à xenofobia. Uma evidência da temeridade da adoção do euro é o fato de que países como a Inglaterra, que mantém sua moeda própria, a libra esterlina, tenham apresentado impactos menores durante a tormenta. No país britânico, o desemprego não chega a 8%, dado a ser comemorado, diante da situação dos vizinhos.
 
Problema de “nascença”
 
Para os especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato, a União Europeia sofre, agora, quase 60 anos depois de ser planejada, as consequências de um problema que data de sua origem. Com uma moeda única, falta ao bloco europeu um órgão regulador central, para que o euro pudesse ser gerido de forma eficiente.
 
“O euro é uma moeda emitida por um Banco Central 'metafísico', que não pertence a nenhum Estado nem administra a dívida de nenhum Tesouro Central. É por isso que também digo que o euro tem uma ‘falha de nascimento’, e que funcionou, até hoje, como uma moeda semiprivada, sendo aceita por causa da crença privada e da certeza pública de que o BCE [Banco Central Europeu] e a Alemanha cobririam todas as dívidas emitidas pelos 16 estados membros da ‘eurozona’. Como de fato ocorreu até 2008 (leia matéria abaixo)”, explica José Luís Fiori, cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
 
Moeda nacional
 
O sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein, da Universidade de Yale (EUA), também acredita que a estrutura financeira e econômica da Europa carece de organismos centrais. “É claro que há um defeito de origem . O problema é que a Europa tem uma moeda única sem um governo único. A solução para esse problema é mover-se no sentido de aumentar o federalismo europeu, não diminuir. Acredito que, caso seja planejado para daqui a dez anos, isso pode acontecer. E creio que esse processo seria liderado por países como a França e a Alemanha”, analisa.
 
O cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, radicado na Alemanha, explica como seria diferente se os países não tivessem aderido ao euro. “Se cada um desses países ainda tivesse a sua própria moeda nacional, poderia desvalorizá-la se sua economia fosse mal administrada, sem responsabilidade fiscal e sofresse um ataque especulativo. Porém, com a substituição das moedas nacionais, que os próprios estados nacionais podiam emitir, pela moeda única, o euro, a desvalorização tornou-se impossível. É difícil, portanto, administrar uma moeda única, sem um poder central, dado que, com a existência de assimetrias, sobretudo econômica, os governos nacionais podem tomar decisões financeiras em virtude de pressões sociais e políticas domésticas ou de outros fatores”, aponta.
 
Fim do euro?
 
Apesar de enfraquecido e instável, o fim da moeda única europeia não é algo plausível em curto prazo, de acordo com Moniz Bandeira. Para o analista, a solução mais provável será a adequação dos países mais afetados às regras impostas pelas maiores economias europeias. “A perspectiva mais viável é a submissão dos estados de economia mais débil, como Grécia e Portugal, às políticas fiscais da Alemanha e França, com a adoção de critérios rígidos de convergência, para monitorar, sobretudo, as taxas de inflação, as finanças públicas e a estabilidade monetária. E é preciso observar que o euro, instituído pelo Tratado de Maastricht (1992), embora vítima dos especuladores, ainda está mais valorizado que o dólar, moeda sem qualquer lastro, cuja tendência é declinar cada vez mais”, avalia.
 
https://www.alainet.org/es/node/143110

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