“O Brasil não é mais um país contente internacionalmente”
22/10/2014
- Opinión
No último dia 17, a PUC de São Paulo foi palco do debate Política Externa Brasileira nas eleições presidenciais de 2014: caminhos possíveis. Com a presença de Deisy ventura (USP), Gilberto Maringoni (UFABC), Sebastião Velasco (UNICAMP) e o assessor especial da presidenta da República, Marco Aurélio Garcia, o evento analisou a chamada política externa ativa e altiva, presentes nos governos Lula e Dilma.
A professora livre-docente do Instituto de Relações Internacionais da USP, afirmou que um dos grandes avanços na política externa de 2003 é que o Brasil não é mais um país contente internacionalmente, como era no governo Fernando Henrique Cardoso. “Eu não voto em candidato que pensa que é europeu”, criticou.
Já o professor adjunto de Relações Internacionais da UFABC Gilberto Maringoni reforça que é na política externa onde mora a maior diferença entre os dois projetos presentes no segundo turno. “Existem algumas convergências na aérea econômica, mas é nas relações internacionais onde há o maior corte entre os dois candidatos”.
Integração regional
A cooperação Sul-Sul é uma das grandes novidades das Relações Internacionais no país. Só no governo do ex-presidente Lula o Brasil abriu mais de 40 embaixadas em diversos países de África, fato que foi duramente criticado pela grande imprensa brasileira à época.
A professora Deisy criticou a proposta de Aécio Neves de aproximar o Brasil com o pacífico, e reforçou que o PSDB olha para as relações internacionais com um olhar quase que exclusivamente no comércio. Maringoni alerta para a proposta de desmonte do Mercosul proposto pela campanha tucana, que ficaria limitado a uma área de livre comércio.
“Eles querem implodir o Mercosul, e isso não é palavrório de esquerdista. O futuro ministro das Relações Exteriores de Aécio, Rubem Barbosa, defendeu essa posição em artigo no Estadão. Implodir o Mercosul significa implodir toda uma construção de uma década de integração que não é só comercial, é muito mais profunda, de diversos governos de esquerda que ascenderam na última década. Isso também vai contra algo que foi construído de forma muito habilidosa que é a diversificação dos parceiros comerciais e políticos do Brasil, criticou.
Marco Aurélio Garcia questionou a cobertura da imprensa que, para ele, faz um trabalho da falsificação das notícias. Ele usou o exemplo sobre o acordo do Mercosul com a União Europeia, que foi assinado pelos quatro membros do bloco.
“A mídia está dizendo que esse acordo não está saindo por que a Argentina é contra. Falso. Os quatro países do Mercosul, a Venezuela não quis participar porque era membro novo, já assinaram a proposta. Acontece que nos reunimos com o presidente da Comissão Europeia Durão Barroso e com a presidenta alemã Angela Merkel e eles nos disseram que não havia nenhuma contraproposta europeia e que dificilmente os 28 países vão aceitar o acordo ”, afirmou.
Política interna
Quase esquecido nos debates presidenciais, grande parte da população não dá a devida importância para a direção da política externa no país, sem saber que muitas vezes o que acontece ao redor do mundo influencia diretamente a vida do povo.
O professor Maringoni pontua grandes crises que aconteceram no mundo nos últimos 12 anos que integrou de forma direta a agenda interna brasileira. Ele lembrou de fatos que ocorreram na América Latina como os golpes contra os ex-presidentes do Paraguai e de Honduras e das relações do Brasil com Venezuela, Bolívia e Equador.
“A pauta da política externa foi tão determinante que nós só conseguimos aprovar algo que ainda é inédito em muitos países do mundo, que é o Marco Civil da internet, somente após as denúncias do Edward Snowden. Só os movimentos que estavam nessa luta não teriam forças para conseguir essa aprovação frente ao lobby das telefônicas. Quando o Snowden denuncia que até a comunicação interna do governo estava sendo espionada pela NSA, o cenário interno do Congresso muda e possibilita a aprovação da neutralidade da rede”
22/10/2014
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