'Direita dá ultimato e deixa a Dilma uma única opção'
- Opinión
Tenho defendido o governo até agora, mas parece que finalmente chegamos ao momento decisivo em que se esgotou a margem para qualquer tipo de manobra tática.
Leiam o editorial da Folha de S. Paulo de hoje, domingo 13 de setembro. Leiam a nota conjunta da Fiesp e da Firjan, ou as declarações do presidente da Confederação Nacional da Indústria.
A burguesia está dando um ultimato à Dilma. Ou ela se rende completamente, assumindo o programa de arrocho mais brutal de nossa história, ou a ofensiva política para a sua derrubada terá início imediato.
O pacote que estão querendo impor é muito pior do que a Agenda Brasil apresentada há poucas semanas pelo Renan Calheiros. Inclui o congelamento do salário de todo o funcionalismo público federal (com uma perda inflacionária brutal), cortes radicais na saúde, educação e projetos sociais, na Previdência, mudança nas regras do salário mínimo e muito mais.
Inevitavelmente, os passos seguintes serão o fim do Mercosul e a entrega do pré-sal às empresas transnacionais, além da terceirização irrestrita.
A Dilma não pode fazer um governo que será o oposto de tudo o que a esquerda sempre defendeu. É preferível cair com dignidade, se não for possível resistir ao tsunami golpista da direita, e segurar o rojão que vem depois. Essa é a nossa triste realidade.
Ou será que ainda existe espaço para alguma solução intermediária, capaz de preservar o essencial do projeto social-desenvolvimentista ao preço de fazer concessões importantes aos neoliberais? Ganhar tempo até que a economia mostre sinais de recuperação? Essa opção se mostra a cada dia menos viável. A receita da "austeridade" só está aprofundando recessão. E o que a direita está dizendo, nestes últimos dias, é que não está disposta a aceitar um acordo que não tenha como alicerce a capitulação.
Nesse contexto só há uma coisa a fazer. A Dilma tem que repudiar a opção neoliberal implementada pelo Levy e conclamar o povo brasileiro a apoiar um programa de ajuste diferente do atual, baixando os juros e jogando o peso da dívida nas costas dos mais ricos, mesmo que esse projeto seja rejeitado pelo Congresso e massacrado pela mídia.
Mesmo que isso signifique novo "rebaixamento" da nota do Brasil junto aos mercados financeiros e uma arremetida momentânea da inflação (limitada pela própria redução do poder aquisitivo geral). Mesmo que isso provoque um rompimento total com o PMDB e outros falsos aliados.
É agora ou nunca. Se não der uma guinada à esquerda agora, em busca de uma reaproximação com sua base de apoio popular, a nossa presidenta se arrastará pelos três anos restantes de mandato como um fantoche da direita, um zumbi político nas mãos do PMDB, da Rede Globo e dos banqueiros – e sob risco permanente de, ainda assim, ser "jogada no lixo" a qualquer momento antes de 2018, sem que ninguém, absolutamente ninguém, diga uma única palavra em sua defesa.
Del mismo autor
- Apesar de Trump, a Venezuela dificilmente será um novo Iraque 25/08/2017
- O futuro da Venezuela está em jogo 31/07/2017
- A revolução venezuelana na sua hora decisiva 03/07/2017
- Política externa golpista repete os piores erros do pasado 22/06/2017
- La derecha no permite la alternancia de gobierno 26/05/2017
- Es necesario abrir un nuevo ciclo revolucionario en América Latina 26/05/2017
- A direita não permite alternância de governo 26/05/2017
- É preciso abrir um novo ciclo revolucionário na América Latina 17/05/2017
- "Decadência da 'América' vai continuar, em ritmo ainda mais acelerado" 09/11/2016
- Bolívia 03/10/2016