Liquidar o impeachment para dissolver a Lava Jato
- Opinión
Os governistas até se surpreenderam. Esperavam uma longa batalha na noite desta segunda-feira na comissão especial do impeachment, mas com muita facilidade o bloco pró-impeachment, composto pelos partidos de oposição, PMDB e trânsfugas da base governista entregou a rapadura. Desistiu de brigar pela inclusão da delação premiada do senador Delcídio do Amaral ao pedido original apresentado por Helio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. Eles (petistas e aliados) vão recorrer ao STF e não podemos perder tempo, justificaram. A pressa não é para salvar o Brasil, mas a pele de cada um. Se aprovado o impeachment, afastada Dilma, imolado Lula e sangrado o PT como bode expiatório, um densa poeira cobrirá o País e nela sumirão os corruptos dos outros partidos e se dissolverá a Lava Jato. Falta combinar com Sergio Moro. Ou talvez não falte.
Ao longo da semana passada, não se ouviu um pio dos “democratas” da oposição sobre as muitas ilegalidades cometidas pelo juiz da Lava Jato. Nada declararam sobre os arranhões nas garantias constitucionais. Se as vítimas eram do PT, e se a principal era Lula, tanto melhor. Mas lá adiante, se houver impeachment, vão providenciar um enterro sem luxo para a Lava Jato. Valendo-se do mal feito aos petistas. Moro terá feito o serviço e poderá ser despachado, operações poderão ser anuladas por conta de irregularidades hoje ignoradas, exceto pelos que resistem ao golpe.
Agora, o negócio é acelerar. Para justificar a desistência do aditamento o bloco pró-impeachment alegou que o relator, Jovair Arantes, poderá fazer uso das denúncias de Delcídio para fundamenta seu parecer. Se o relator fizer isso, o questionamento judicial voltará a aparecer. Foi só desculpa. Falou-se na apresentação de um novo pedido de impeachment, este baseado nas denúncias de Delcídio. Lorota. Dois trens não podem correr no mesmo trilho ao mesmo tempo. A oposição tem pressa, ligou o motor e acha que o empurrão das ruas e a desarticulação do governo, ainda mais sem Lula ministro, farão o resto. Na vertigem do impeachment, os outros escaparão.
A pressa dos algozes de Dilma aumentou com a delação de Delcídio. Ele alvejou Michel Temer (que apresentou defesa ao STF) atribuindo-lhe a nomeação de Jorge Zelada e João Henriques, presos em Curitiba, e feriu Aécio Neves, exumando sua relação com a lista de Furnas. A Lava Jato, com a prisão em Lisboa, nesta segunda-feira, do operador Raul Schmidt, assustou o PMDB. Ele é ligado a Eduardo Cunha, mas tem vínculos com outros caciques do partido.
O fogo está se espalhando. Nesta segunda-feira, a Polícia federal indiciou por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa seis nomes do PP. Os ex-deputados João Alberto Pizzolatti e Mario Negromonte e os deputados Mario Negromonte Jr, José Otávio Germano, Luiz Fernando Ramos Faria e Roberto Pereira de Britto. Em depoimento no dia 24 de fevereiro, mas só vazado agora, o presidente da Odebrecht Infraesetrutura, Benedito Barbosa, esclareceu diálogos seus com o presidente da holding, Marcelo Odebrecht: falavam de doações para Aécio, que estava preocupado com a situação do ex-governador Sergio Cabral, do PMDB, acusado pela Lava Jato de receber propina pelas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj.
Se o governo corre contra o tempo, seus adversários também. É preciso liquidar a fatura do impeachment antes que a Lava Jato comece a alcançar corruptos de outros partidos, ainda que seja para se fortalecer, depois do desgaste colhido por Moro com suas investidas contra a lei e a Constituição. É preciso encerrar o drama de modo a parecer que todo o mal foi removido. E o mal eram apenas o PT, Lula e Dilma. Depois, a vida continua, tal como disse o príncipe de Salinas em Il Gatopardo, de Lampedusa, sobre o fim da aristocracia: É preciso que tudo mude, para que tudo permaneça como é.
- Tereza Cruvinel, colunista do 247, é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
22 de Março de 2016
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