A morte de Clara Eliza, a médica cubana
- Opinión
Faleceu em Bom Jesus da Lapa a médica cubana Clara Eliza, 46 anos, vítima do H1N1. É imperdoável que aqueles que lutam para pôr um limite na crueldade do sistema capitalista, expresso na saúde pública, não tenham dito uma única palavra.
Quando cheguei para morar no sertão, Campo Alegre de Lourdes, Bahia, junto com outros colegas, o índice de desenvolvimento humano sequer era calculado. Em 1990 era de 0,27. Em 2000 era de 0,32. Em 2010 era de 0,56. Ainda um dos mais pobres do Brasil, mas já não índices de miséria absoluta.
Um prefeito do PC do B, alguns anos atrás, quis contratar um médico permanente para o município, se dispunha a pagar 22 mil reais ao mês, e nunca conseguiu um brasileiro que se dispusesse a morar naquele sertão.
Nos últimos anos 3 médicos cubanos, alocados no “Mais Médico”, não só foram morar em Campo Alegre, mas foram morar no interior do município, onde só íamos nós e quando havia a SUCAM.
A solidariedade é uma das mais belas virtudes de alguns seres humanos. É a capacidade de se colocar no lugar do outro, assumir suas dores e problemas e de se comprometer com os mais vulneráveis ao preço da própria vida.
Bom Jesus da Lapa, cidade santuário do Bom Jesus e de Nossa Senhora da Soledade, nas grutas às margens do rio São Francisco, conhece agora essa solidariedade ao extremo.
Em tempos de mesquinharia total, de almas pequenas, de disputas mortais pelo poder, Clara Elisa é o sinal que as mais belas virtudes do ser humano ainda subsistem em alguns corações.
Roberto Malvezzi (Gogó)
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