O PT deve enfrentar a crise política e cumprir seu papel histórico: politizar a política
- Opinión
Ao longo dos seus quase 40 anos o Partidos dos Trabalhadores foi responsável pela construção de iniciativas pioneiras em termos de transformação da sociedade, muitas das quais receberam reconhecimento internacional.
Nunca podemos esquecer do vínculo do partido com o movimento sindical e os movimentos sociais, a construção do mais inovador modelo de gestão pública do país, o orçamento participativo, a criação do Fórum Social Mundial, em oposição ao Fórum Econômico Mundial das grandes potencias internacionais, a disseminação das polícias de economia solidária, dentre outros.
É óbvio que muitas destas ações não são derivadas de mérito individual do PT e dos seus militantes, mas da sua abertura social, da sua transversalidade cultural, e da sua base assentada na luta política dos movimentos de esquerda e democráticos.
O certo é que na origem do partido o seu vínculo temos um projeto alternativo de sociedade, com a disseminação da esperança e da vontade de transformar a sociedade. Tal halo transformador foi aos poucos sendo afastando com a adesão schumpteriana ao pragmatismo eleitoral. Mas de algum modo sobreviveu, tanto que milhões de pessoas ainda depositam na bandeira desta organização política o sonho de ver a defesa radicalizada da democracia e da implantação de um modelo social mais justo.
Daí pergunta-se, com tamanha crise política, com a perseguição de intelectuais e militantes, com a tentativa espúria de condenação da sigla e dos seus símbolos, além de uma óbvia busca de aniquilação da sua imagem, para onde vai o PT? Existem dois caminhos: o primeiro o da aceitação e submissão ao jogo posto pelo pensamento elitista; o segundo é o retorno às bases sociais e o fortalecimento de uma agenda transformadora, com a possível organização de uma grande frente democrática e de esquerda envolvendo o PCdoB, o PSOL, o PDT, parte do PSB, outros partidos de esquerda e movimentos sociais.
Apesar do silêncio crepuscular de algumas lideranças, que sentiram o peso das pancadas da mídia e da SS golpista, as bases partidárias já demonstram a opção pelo segundo caminho. As grandes mobilizações sociais de rua no pré e pós dia 17 de abril, a movimentação massiva nas redes sociais pela legalidade, a manifestação contínua de intelectuais em defesa do projeto inaugurado pelos governos de Lula e Dilma, e pelo fortalecimento das ações de transformação social e radicalização da democracia, demonstram que a chama da esperança ainda segue viva dentro do Partido dos Trabalhadores e de outras organizações de esquerda, com um potencial gigantesco para mudar a sociedade.
Desta forma, se as bases sociais já mandaram a sua mensagem, não pode haver silêncio das lideranças políticas. Não é momento para capitular ou buscar navegar por águas mais calmas, fazendo acordos de transição. A crise criada pelos golpistas exige ação política, politização da sociedade, politização das ruas e, principalmente, politização da política.
O mundo não vai ser transformado enquanto muitos ainda tratarem a ação política como uma guerra de torcidas, embora muitas torcidas de futebol tenham dado o exemplo e assumido um papel importantíssimo na luta contra o golpe. O PT deve fazer uma leitura correta do momento político que atravessamos, e este exige transformação e fortalecimento da cidadania! O partido deve assumir o seu compromisso histórico como principal trincheira da esquerda latino-americana, e liderar a luta social que está emergindo no seio da sociedade.
Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais.
Del mismo autor
- A morte do neoliberalismo? Os Caminhos da Economia Global No Pós-pandemia 30/03/2020
- Pandemia expõe fracasso prático da ideologia neoliberal 17/03/2020
- A barbárie ambiental brasileira 23/08/2019
- Pós-verdade? a nova direita e a crise da racionalidade moderna 29/04/2019
- O escandaloso crime do Caixa 2 da Lava Jato e as suas consequências 12/03/2019
- Sérgio Moro e a sua “solução final” 20/02/2019
- Mineração: Como Nascem Crimes Ambientais como Bento Ribeiro e Brumadinho 06/02/2019
- O decreto da desumanização 17/01/2019
- A perigosa ignorância fabricada da direita 07/01/2019
- Perseguição a Lula escancara absurdos do sistema prisional brasileiro pós 2016 20/12/2018
Desestabilización
- Rosa Miriam Elizalde 15/11/2021
- Francisco Domínguez 11/08/2021
- Clara Sánchez 04/08/2021
- José Manuel Zelaya rosales 30/07/2021
- Francisco Domínguez 21/07/2021