O legado do neoliberalismo será a nossa miséria

05/06/2019
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Em agosto completam 3 anos do impeachment de Dilma Rousseff. Nesse período a oposição assaltou o poder, impondo uma pauta neoliberal totalmente descolada das propostas vitoriosas na reeleição da presidenta deposta.

 

Em seus primeiros meses, o governo do vice Michel Temer extinguiu uma reserva ambiental de quase quatro milhões de hectares, abrindo o espaço para atividades privadas, leiloou a Eletrobrás por 40% do valor esperado, vendeu a Embraer para a gigante Boeing e entregou quatro áreas do Pré-Sal para as poderosas Shell e Chevron. Ao todo serão liberadas para as petroleiras internacionais 21 áreas com descobertas de petróleo e gás nas bacias de Campos, Santos e Espirito Santo. Mas a pior herança deixada por Temer foi o congelamento dos gastos públicos por 20 anos, o que travou o crescimento econômico e ampliou os índices de pobreza em todo o país.

 

No ano passado um novo presidente foi eleito prometendo manter a pauta neoliberal de seu antecessor. O que já era ruim ficou ainda pior. Em apenas cinco meses, o governo do capitão pôs em prática a política de terra arrasada, fazendo mais cortes no orçamento e comprometendo áreas sensíveis, como educação e saúde. Nos últimos dias, no Parque Indígena do Xingu, no norte do Mato Grosso, o descaso com a saúde provocou a morte de três bebês da tribo Kayabi. Além do corte de verbas para a saúde indígena, as tribos perderam o atendimento que tinham no programa Mais Médicos com a saída dos cubanos. Aliás, pelo menos 24 milhões de pessoas sofrem por falta de médicos e medicamentos em postos de saúde abandonados nas regiões mais pobres do Brasil.

 

Também ameaçados, estudantes e professores das universidades e escolas federais estão nas ruas numa cruzada para manter a autonomia universitária e reverter a decisão do MEC de cortar 30% do orçamento para a educação em 2019. Uma medida que colocou a verba livre de universidades federais de volta ao patamar de dez anos atrás.

 

Em poucas pinceladas este é parte do patrimônio construído até aqui pelos neoliberais. A atual discussão ideológica alimentada pelo capitão e seus auxiliares tem como único objetivo esconder a falta de competência da equipe de governo e de projetos e propostas para a retomada do crescimento e redução do desemprego. Depois da reforma trabalhista, querem nos vender agora a reforma da previdência. Nossa mídia corporativa não fala em outra coisa, e o capitão, seus filhos e o guru da família aceitaram dar uma trégua no twitter e nas explosivas polêmicas de baixo nível. O "superministro" Paulo Guedes passou toda a tarde desta terça-feira defendendo na Câmara Federal uma reforma previdenciária que poupa as polpudas aposentadorias especiais de militares e de altos membros da Justiça e pune os trabalhadores menos protegidos pelo sistema previdenciário com cortes e ampliação de contribuição.

 

Mas não vamos nos iludir, não existe varinha mágica para nos tirar da recessão. A crise não será eliminada com a aprovação dos cortes na previdência e muito menos com o fim dos radares, do horário de verão, a ampliação da validade da carteira de motorista, a liberação das armas e com os meninos vestindo azul e as meninas rosa. E muito menos com as vendas do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, dos Correios e de muitas outras empresas públicas. Tomando como referência a famosa frase de Brás Cubas ao final de suas memorias póstumas, em uma das principais obras de Machado de Assis: O legado do neoliberalismo será a nossa miséria.

 

- Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e integrante do Jornalistas pela Democracia

 

4 de Junho de 2019
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/florestanfernandes/395615/O-legado-do-neoliberalismo-ser%C3%A1-a-nossa-mis%C3%A9ria.htm

 

https://www.alainet.org/es/node/200228?language=en
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