A fome está crescendo junto com a pobreza e a miséria
- Opinión
Ao pronunciarmos a palavra alimentação, somos levados, quase que automaticamente, a pensar no próprio ato de comer, até porque no fim das contas é disso que se trata. Porém aqui vamos abrir esta nossa edição pensando em duas questões fundamentais: no ciclo de produção e na sua ausência, ou tristemente, seu mais adequado termo: a fome.
Segundo o presidente Jair Bolsonaro (PSL), em nosso país "Passa-se mal, não se come bem, (…). Agora passar fome, não”. Sabemos que se trata de mais uma afirmação leviana. E mais ainda, temos sentido no nosso cotidiano que a fome – questão nunca resolvida – está novamente crescendo junto com a pobreza e a miséria.
Numa pesquisa do IBGE específica sobre o tema, realizada em 2013, constava-se que 3,6% dos brasileiros tinham insegurança alimentar grave, o que correspondia a 7,2 milhões de pessoas no ano da pesquisa. Estima-se que hoje temos 820 milhões de pessoas passando fome no mundo, e que no mínimo, cinco milhões de brasileiros.
Acreditamos que a negação do problema pelo presidente seja apenas uma defesa de seu projeto de nação que não se preocupa com a soberania e com sua completa inabilidade para a construção de saídas possíveis para garantias de direitos. Sempre é bom recordar que a alimentação foi oficialmente registrada como direito na nossa Constituição Federal de 1988, porém, mais recentemente, após Emenda Constitucional em 2010.
Em abril, Tereza Cristina (DEM), atual Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento também nos chocou com sua afirmação: "nós não passamos muita fome porque temos manga nas nossas cidades, nós temos um clima tropical". A manga que Tereza nos lembra, por sua vez, encobre outros números sobre o que nosso país e que também nos assustam. Analisando o total de agrotóxicos consumidos, o Brasil disputa as primeiras colocações. Em levantamento realizado pela FAO, nosso país consome uma média de US$ 10 bilhões em agrotóxicos. Esse ano já foram liberados 325 novos tipos de agrotóxicos.
Para o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), além do crescente uso de agrotóxicos, esse projeto se materializa com a aliança do Estado brasileiro com latifundiários, corporações transnacionais, veículos de comunicação comercial e os bancos, eles firmam: “essa aliança das elites e donos do poder é o que caracteriza o que denominamos de agronegócio” e lançam este mês sua Jornada de luta por soberania popular e poder popular afirmando “nossa luta é contra fome”.
“Ô Josué nunca vi tamanha desgraça!” diria Chico Science. Mas também resgatamos esse mesmo Josué que nos lembrou que não poderíamos partilhar um mundo onde uma parte não dorme com fome, e a outra parte não dorme com medo da que tem fome, para mostrar a força que o povo tem para resistir. Que a bandeira da soberania alimentar esteja sempre presente em nossas lutas, pois só nosso povo pode encontrar as próprias saídas de desenvolvimento e sustentação, de forma justa e solidária.
Edição: Monyse Ravenna
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