Rumo ao conclave

28/02/2013
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A partir de  28 de fevereiro inicia-se, com a renúncia de Bento XVI, o período de Sé  Vacante. Até a eleição do novo papa, o governo da Igreja Católica fica em mãos  do Colégio de Cardeais. De fato, sob o comando de Tarcísio Bertone, o cardeal  camerlengo (do latim medieval camarlingus, adido à câmara, que  administra a Santa Sé).
 
Durante a  Sé Vacante, os cardeais se reúnem diariamente em Congregação Geral, da qual  todos participam, inclusive os que, por idade (+ de 80 anos), perderam o  direito de participar do conclave. Ali, as decisões mais importantes para o  governo da Igreja são votadas por maioria simples. Prevalece, entretanto, o  princípio tradicional que rege a Sé Vacante – “nihil innovetur” (nada a  inovar).
 
Da  Congregação Particular, à qual concernem assuntos de menor importância e a  preparação do conclave, participam o camerlengo e mais três cardeais  escolhidos por sorteio.
 
Para o  Vaticano, o conclave não deve ser encarado como um colégio eleitoral, o que de  fato é, mas um retiro espiritual no qual os cardeais invocam aquele que, na  ótica da fé católica, é o único verdadeiro eleitor: o Espírito Santo. 
 
A atual  legislação da Igreja prevê que o conclave se reúna dentro da Cidade do  Vaticano. Mas já não será tão fechado ou “sob chaves” (daí conclave) como se  exige, já que diariamente os cardeais-eleitores se deslocarão em ônibus da  Casa Santa Marta, a confortável hospedaria construída por ordem de João Paulo  II, até a Capela Sistina. Se nenhum dos cardeais tomará em mãos o volante do  veículo, supõe-se que ao menos terão contato com o  motorista.
 
No século  XIX, os conclaves ocorreram no Palácio do Quirinal, em Roma, hoje residência  oficial do presidente da Itália. O último conclave fora de Roma foi em Veneza,  em 1800, após a morte, na prisão, do papa Pio VI, encarcerado na França por  Napoleão Bonaparte, cujas tropas ocuparam Roma. Do cárcere, Pio VI instruiu os  cardeais a promoverem o conclave “em qualquer lugar de qualquer príncipe  católico”. Na época, Veneza estava sob soberania da Áustria. Ali foi eleito  Pio VII.
 
Na mesma  tarde do primeiro dia do conclave se realiza um primeiro escrutínio. Trata-se  de um gesto de boas-vindas, em que votos são dados para homenagear  determinados cardeais, em geral mais velhos, sem chances de serem eleitos  papa.
 
No conclave  após a morte de João Paulo I, em 1978, um idoso cardeal norte-americano, que  havia participado das eleições de João XXIII e Paulo VI, foi a cada um de seus  colegas para pedir-lhes um voto de homenagem, pois aquela seria sua última  oportunidade de eleger um papa, e seu nome nunca havia sido pronunciado na  Capela Sistina, pois jamais recebera um único voto. Ao fim do primeiro  escrutínio, por pouco não foi eleito...
 
A partir do  segundo dia de conclave, duas votações acontecem, uma pela manhã e outra pela  tarde. Após 21 escrutínios, ficam no páreo apenas os dois mais  votados.
 
Durante o  conclave, os olhares do mundo permanecem fixos na chaminé da Capela  Sistina.  Se a fumaça é preta, sinal de que mais um escrutínio terminou e  nenhum cardeal obteve dois terços dos votos. Se branca, há um novo  papa.
 
Em outubro  de 1978, em um dos oito escrutínios na eleição de João Paulo II, a fumaça saiu  híbrida, com uma cor que dividiu a multidão atenta entre o preto e o branco. O  porta-voz do Vaticano esclareceu, na sala de imprensa, que era preta. A  gratidão dos jornalistas foi quebrada pela impertinência de um repórter dos  EUA: “Se nem o senhor pode ter contato com os cardeais trancados na Capela  Sistina, como afirma com certeza que a fumaça era  preta?”
 
Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do  Ouro” (Rocco), entre outros livros.
 
http://www.freibetto.org  twitter:@freibetto
 
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