Romper com a ditadura da mídia para libertar a palavra

08/04/2013
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
Com a presença de cerca de 200 lideranças sindicais e assessores, o VI  Encontro Nacional de Comunicação (Enacom) da Central Única dos  Trabalhadores (CUT) iniciou na manhã desta segunda-feira (8) com uma  reflexão sobre a ditadura exercida pelos grandes conglomerados privados  de mídia no país - com sua atuação orquestrada contra os movimentos  sociais e à própria democracia - e a necessidade da mobilização em  defesa de um novo marco regulatório que inicie por fazer valer a  determinação constitucional que proíbe a existência de monopólios e  oligopólios.
 
O professor Venício Lima abriu os debates da mesa “Democratização da  comunicação e liberdade de expressão” afirmando que o momento de  denúncia e diagnóstico das mazelas da velha mídia está superado e que  chegou a hora de somar forças para virar a página da manipulação e da  desinformação.
 
Autor de Política de Comunicações: um Balanço dos Governos Lula  (2003-2010), entre outros livros, Venício Lima acredita que a unificação  dos movimentos sindical e social em torno a um projeto de lei de  iniciativa popular que oxigene o setor é estratégica para a própria  consolidação da democracia no país. O professor enumerou quatro questões  chaves para fazer com que essa questão, “interditada no debate público”,  venha à tona com força: “mobilizar a vontade das ruas, respaldando a  iniciativa do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC);  construir e consolidar alternativas ao sistema privado de comunicação,  fortalecendo o sistema público e consolidando sistemas alternativos;  agir localmente, lutando pelos conselhos municipais e estaduais de  comunicação e avançar na qualificação e verticalização do debate”.
 
Cultura do silêncio
 
Citando reflexões e contribuições do educador Paulo Freire, Venício Lima  demonstrou como a “cultura do silêncio” é uma construção histórica das  elites sempre procuraram impor sua dominação, negando a “liberdade de  expressão” ao mesmo tempo em que tentavam se apropriar desta bandeira.  “A perspectiva de liberdade republicana e cidadã é que justifica a  democracia participativa e o papel de Estado como garantidor de  direitos", frisou.
 
Na avaliação do jornalista Paulo Moreira Leite, autor de “A Outra  História do Mensalão - As contradições de um julgamento político”, há um  “discurso monocórdico” na imprensa brasileira para justificar os  atropelos jurídicos cometidos com o propósito de colocar as forças  populares na defensiva, tornando réus do processo ministros e lideranças  do partido que sustentam as transformações no país. “Há uma total falta  de provas que tenha havido desvio de recursos públicos”, frisou.
 
De acordo com Moreira Leite, “a liberdade de imprensa nunca foi tão  controlada, tão estreita, nunca esteve na mão de tão poucas pessoas”. A  ação “tendenciosa e facciosa” destes monopólios de mídia, alertou, tenta  reduzir a opinião pública à “opinião publicada”, daí a importância da  “desconcentração das verbas públicas”, a fim de que se tenha maior  pluralidade e diversidade. “Não há como alterar o jogo sem a presença do  estado. Nos EUA, o presidente Roosevelt já havia enfrentado e derrotado  a elite americana que tinha seu sustentáculo na mídia”, acrescentou.
 
Recém-chegado dos Estados Unidos, onde participou de um encontro de  movimentos pela reforma da mídia, o radialista João Brant lembrou que a  ação pela democratização cresce naquele país, com a compreensão e o  envolvimento de entidades que “se não tem o tema como primeira pauta,  tem como segunda”, o que dá maior musculatura às ações.
 
Democracia ameaçada
 
Fazendo uma distinção entre liberdade de imprensa e liberdade de  empresa, João Brant, também integrante do coletivo Intervozes, destacou  que a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos prevê limitações  à “liberdade de expressão” quando atenta contra a reputação das pessoas  ou à própria segurança nacional. Há convenções internacionais que  limitam esta “liberdade” quando ela se choca com os direitos dos  cidadãos. Pela Convenção Americana de Direitos Humanos, recordou, pode  haver inclusive censura prévia para garantir o direito de crianças e  adolescentes. Enquanto isso, no Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF)  se posiciona até contra a classificação indicativa existente para barrar  a exposição de crianças ao excesso de violência, drogas e sexo.
 
Uma das prioridades da campanha do FNDC, enfatizou João Brant, é  enfrentar a atual “lei da selva” que rege o setor, que torna a  democracia brasileira “incompleta e ameaçada” ao não regulamentar três  artigos constitucionais chaves: “o que proíbe monopólios e oligopólios;  o que fala da complementaridade dos sistemas público, privado e o que dá  espaço à regionalização e à produção independente”. Impor limites à  propriedade cruzada – onde um mesmo grupo é proprietário de jornais,  revistas e emissoras de rádio e televisão – é outro desafio, sublinhou.
 
Se pegarmos o caso do Rio de Janeiro, a Globo teria de vender o jornal O  Globo", exemplificou
 
Divergências
 
O secretário nacional de comunicação do Partido dos Trabalhadores (PT),  Paulo Frateschi,reiterou o compromisso do partido em intensificar a luta  política em defesa da regulamentação da mídia e do setor de comunicação  como um todo.
 
Em sua fala o secretário de comunicação do PT também afirmou que o  partido está passando por um momento de “divergência” com o governo  federal em relação às pautas urgentes da comunicação como a implantação  do marco regulatório. “Entendemos essa pauta como urgente e estamos em  divergência com o governo federal em relação à implantação de questões  como o Marco Regulatório da Comunicação. A direção nacional do PT  decidiu, em sua última reunião, entre outras resoluções sobre o tema,  encampar a campanha do FNDC a favor de questões como a democratização da  mídia e na defesa da liberdade de expressão”, destacou.
 
Durante as intervenções Frateschi foi questionado pelos participantes  que defenderam a saída do atual ministro das Comunicações, Paulo  Bernardo, que recentemente deu declarações à imprensa afirmando que acha  “incompreensível” que o partido misture regulação da mídia com  investimentos e repudiou um marco regulatório. Na ocasião, o ministro  também foi acusado de beneficiar as empresas que formam o oligopólio que  controla a comunicação de massa no Brasil e que o ministro capitula a  uma situação de fato que só beneficia o “status quo”.
 
unidade na luta
 
Mediadora da mesa, a secretária nacional de Comunicação da CUT e  coordenadora geral do FNDC, Rosane Bertotti, conclamou ao conjunto das  lideranças das CUTs estaduais e Ramos a ampliarem a mobilização e a  estabelecer metas para a campanha de arrecadação de assinaturas para o  projeto de lei de iniciativa popular para democratizar o setor.
 
- Leonardo Severo e Karina Vilas Boas  CUT
 
 
https://www.alainet.org/es/node/75184?language=es
Suscribirse a America Latina en Movimiento - RSS