A fraude do Pacífico

04/08/2013
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Virou moda, na imprensa burguesa, elogiar o desempenho econômico dos países latino-americanos alinhados aos Estados Unidos, em contraste com os problemas dos governos que buscam uma integração regional autônoma, como o Brasil. Os índices de crescimento no campo da Aliança do Pacífico são apontados como sinal do fracasso do Mercosul e da Unasul. Vejamos qual é a realidade do “lado de lá”. 
 
No Chile, o candidato governista às eleições presidenciais, Pablo Longueira, desistiu da disputa alegando depressão, enquanto sua rival de centro-esquerda, Michelle Bachelet, dispara com mais de 60% das preferências. Os estudantes voltaram às ruas, exigindo o ensino gratuito e expressando o descontentamento dos chilenos com o modelo neoliberal, baseado no corte de direitos sociais e na concentração da riqueza. 
 
Na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos enfrenta uma onda de mobilizações populares sem precedentes. Os protestos incluem greves de mineiros, bloqueios de estradas e uma rebelião dos camponeses que resistem às forças militares enviadas para expulsá-los das terras onde plantam coca, único cultivo capaz de viabilizar sua sobrevivência diante da destruição da agricultura familiar pelas importações baratas dos EUA. 
 
As taxas elevadas de crescimento econômico da Colômbia – fruto da pilhagem dos recursos naturais pelas empresas transnacionais de mineração – contrastam com o aumento da pobreza rural e com o brutal agravamento da concentração de renda. A Colômbia é o país mais desigual da América do Sul e o desemprego, o mais alto da América Latina, atinge 10,3%, o dobro do existente no Brasil. 
 
No México, a violência ligada ao narcotráfico já provocou 60 mil mortes em sete anos e transformou o norte do país num cenário de bangue-bangue, em meio à impotência do governo central e à corrupção das autoridades. A economia mexicana, devastada pelo acordo de livre-comércio com os EUA, ficou em recessão por mais de uma década e só voltou a crescer devido ao retorno das maquiladoras, atraídas pelos salários aviltantes, ainda mais baixos do que se paga na China, para onde aquelas empresas haviam se transferido. 
 
Mais de 60% da população ativa no México está na economia informal e 11 mil crianças morrem de desnutrição todos os anos. Esse é o modelo que querem nos vender. 
 
- Igor Fuser é professor do Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC.
 
 
https://www.alainet.org/es/node/78195?language=en
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