Um Presidente-felipão
03/07/2002
- Opinión
Não se trata de apresentar Luis Felipe Scolari, o Felipão, como candidato a
Presidente da República. De mais a mais ele não se entende político nem gosta de
política. Trata-se, sim, de cobrar do futuro Presidente as virtudes que fizeram
de Scolari, o Felipão, técnico vitorioso da seleção, ganhadora da copa mundial de
futebol. Ele mesmo apontou as virtudes que deram a vitória ao Brasil e sugeriu
como necessárias para o Brasil dar certo: amor, amizade, doação, um projeto
claro, determinação para executá-lo, conjunção de esforços, humildade e fé em
Deus. Das muitas entrevistas do Felipão, fui anotando dados que me convenceram:
se tivermos um Presidente-felipão, seguramente, o destino social de nosso pais
será diferente e melhor. Por isso, elejamos um Presidente que ostente as
virtudes do Felipão. Elenco alguns pontos axiais.
1.Concepção correta da política: segundo Gandhi, política é gesto amoroso para
com o povo, é cuidado da vida dos cidadãos. Felipão fez isso com a seleção. Não
a administrou como um empresário. Cuidou dela como um pai cuida da família. Com
carinho incentivando, com rigor impondo disciplina. Fundou a família Scolari.
Precisamos de um Presidente que cuide da população. Temos tido administradores
da moeda, do mercado, da inserção na globalização com a frieza dos banqueiros,
sem cuidado.
2.Percepção realista da situação: o caos do futebol brasileiro. Com trabalho,
humildade e perseverança fez que o caos virasse cosmos,vale dizer, estruturou uma
seleção vitoriosa. Precisamos de um Presidente que corajosamente enfrente o caos
social brasileiro e criativamente encontre caminhos sustentáveis para a justiça
societária necessária.
3. Clareza de propósitos: fazer com que o Brasil esteja entre os quatro melhores
do mundo. Somente alcançado isso, pensar nas finais e na taça. Precisamos de um
Presidente que abandone a obsessão de entrarmos no Primeiro Mundo ou de estarmos
entre os 7-G. Primeiro Mundo é resgatar a dignidade do povo, fazendo com que
trabalhe, coma, tenha saúde, se eduque e tenha segurança.
4. O coletivo é mais importante que o estrelismo individual. Felipão pediu aos
jogadores doação e busca da conjunção de esforços para formar um time campeão.
Em nome disso não escolheu Romário, conhecido por seu espírito vedetista e pouco
societário. Por causa do todo, teve a coragem de tirar Ronaldo, nos últimos
minutos do jogo, ele que fizera os gols da vitória. Precisamos de um Presidente
que pense menos nos empresários e mais nos movimentos sociais e nas massas
destituidas, que faça mais políticas públicas e favoreça menos privatizações.
5. Nunca perder a humanidade: último conselho de Felipão aos jogares: "não quero
que entrem em campo se sentindo na obrigação de vencer". Extremo bom senso.
Eles têm a obrigação de serem bons e criativos. A vitória resulta disso.
Precisamos de um Presidente que escute o povo, pois tem sábias lições a nos dar,
de como sobreviver a todas as tribulações, mantendo a alegria de lutar e de
viver.
6. Alimentar a mística: tudo depende de nosso empenho mas não esquecer Aquele lá
em cima, onde tudo está ancorado. Felipão não teve vergonha de caregar sua Nossa
Senhora do Caravaggio e os jogadores de rezar em círculo. Precisamos de um
Presidente que valorize a mística do povo, fonte secreta de sua resistência e
libertação.
Leonardo Boff, Teólogo
https://www.alainet.org/fr/node/106042
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