O que é isso,o terrorismo?
27/02/2003
- Opinión
Novamente o terrorismo urbano tomou conta do Rio. Por horas, traficantes se
assenhoram da cidade, impondo seus comandos e colocando sinais inequívocos
de seu poder. Seus chefões alegam vingança contra o terror policial a
comunidades carentes e contra a corrupção generalizada da política.
Um árabe, em Nova York, pede uma informação a um policial e este o prende,
imaginando ser um terrorista. Depois se verifica ser um simples cidadão
inocente. Um avião sai de Houston em direção a Dallas. Alguns passageiros
imaginam que há homens armados a bordo. É o suficiente para acionar o
alarme e caças de guerra F-16 escoltam o avião de volta. Com frequência o
Governo alarma a nação, anunciando a iminência de atentados. Alimenta a
paranóia generalizada.
Esta femenologia mostra a singularidade do terrorismo: a ocupação das
mentes. Nas guerras e guerrilhas precisa-se ocupar o espaço físico para
efetivamente triunfar. No terror não. Basta ocupar as mentes, ativar o
imaginário, internalizar o medo. Os norte-americanos ocuparam fisicamente o
Afeganistão dos talibãs. Mas os talibãs ocuparam psicologicamente as mentes
dos norte-americanos. Fizeram dos EUA uma nação ocupada pelo medo, do
Governo ao simples cidadão. Quem venceu? Certamente aquele que mantém o
outro refém de sua estratégia. Portanto, quem domina as mentes e não quem,
simplesmente, conquista o espaço. A profecia de Osama Bin Laden de 8 de
outubro de 2002, infelizmente, se realizou: "Os EUA nunca mais terão
segurança, nunca mais terão paz".
Como desmontar esse mecanismo aqui e lá fora? Interessa-nos, por ora, apenas
captar a natureza do terror e sua eficácia. Não precisamos ler Camus ou o
teórico do terror, o francês Georges Sorel (1847-1922) para sabermos como
funciona. Basta observarmos o fenômeno atual.
O terrorismo segue a seguinte estratégia: (1)os atos têm de ser
espetaculares, caso contrário, não causam comoção generalizada; (2)os atos,
apesar de odiados, devem provocar admiração pela sagacidade empregada; (3)os
atos devem sugerir que foram minuciosamente preparados; (4)os atos devem ser
imprevistos para darem a impressão de serem incontroláveis; (5)os atos devem
ficar no anonimato dos autores porque quanto mais suspeitos, maior o medo;
(6)os atos devem provocar permanente medo; (7)os atos devem distorcer a
percepção da realidade: qualquer coisa diferente pode configurar o terror.
Basta ver um árabe e já se imagina um terrorista ou um favelado mais
apessoado e já se projeta um traficante potencial.
Formalizemos: terrorismo é toda violência espetacular, praticada com o
propósito de ocupar as mentes com medo e pavor. O importante não é a
violência em si, mas seu caráter espetacular, capaz de dominar as mentes de
todos. Recorrem ao terror grupos minoritários que descrêem do caminho
político. O crime organizado como o tráfico de drogas ou de armas para
punir o sistema de repressão e desviar a atenção.Ou o Estado que não tem
legitimidade e precisa do terror para se impôr. Desde 1960 foram
perpetrados no mundo, 137 atos terroristas de grande repercussão. Talvez
seja a guerra possível no mundo globalizado, a única capaz de ser ganha
pelos fracos e periféricos. Como desmontar essa máquina de medo? Eis o
desafio teórico e prático a que todos estamos confrontados.
* Leonardo Boff. Teólogo
https://www.alainet.org/fr/node/107044
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