Nova geografia política do mundo
03/06/2003
- Opinión
Diz-se que quando os homens toleram que as mulheres
invadam uma profissão, seria porque esta perdeu
importância. O mesmo acontece com os ramos da economia:
quando o centro transfere um setor para a periferia do
capitalismo, é porque tecnologicamente deixou de ser de
ponta.
Quando os ricos aceitam pobres nas suas reuniões, é porque
não vão decidir nada de importante nelas. Foi assim na
reunião do G-8 em Evian. À falta de uma pauta importante a
discutir e decidir, depois que a nova doutrina estratégica
norte-americana exclui qualquer forma de multilateralismo
no mundo, os governantes dos países centrais do
capitalismo resolveram convidar a governantes de países da
periferia para sua festa esvaziada. O presidente dos EUA
esteve 24 horas, só para dizer que não foi, um tempo menor
do que o que levou viajando no seu avião presidencial até
o Oriente Médio e retornando aos EUA. Não é de se
estranhar portanto que nem sequer referência às propostas
de Lula seja feita no documento final, que ainda guarda
certo ar protocolar e não reserva lugar para "bravatas"
como a taxação da indústria bélica – de que os grandes
patrões estavam todos presentes – para políticas sociais.
Mas, apesar disso tudo, a geografia política do mundo vai
mudando. À unipolaridade norte-americano, governos da
semiperiferia do sistema – na ausência de respostas
consistentes por parte de governos do centro – se
articulam para organizar e dar expressão política ao Sul
do mundo, excluído dos três megamercados mundiais. A
reunião dos primeiros mandatários do Brasil, da África do
Sul e da Índia é a notícia mais importante na nova
configuração política mundial desde o fim da
multipolaridade. Porque ela pode representar a expressão
dos 85% da população mundial, situada na periferia do
sistema, que se divide pessimamente 15% da renda mundial e
assim começar a reverter um desequilíbrio de poder no
mundo a favor da grande maioria da humanidade.
Da mesma forma, a reunião do Mercosul em Assunção, aponta
na mesma direção. Resolvida positivamente a eleição na
Argentina, estão dadas as condições para a retomada,
fortalecimento e expansão do Mercosul, conforme as
propostas do governo brasileiro, colocando-o efetivamente
no lugar privilegiado em relação à Alca. A reunião da OMC
em Cancun, em setembro deste ano, por sua vez, está
esvaziada, pelo clima geral mundial – bélico e recessivo -
, revelando como os tempos de crise não são propícios para
avançar no livre comércio. Resta aos países do Sul do
mundo organizar seus espaços protegidos e integrados para
se enfrentar a uma recessão prolongada e profunda do
capitalismo mundial e à "guerra infinita" do governo
Bush.
O mundo já é outro, ao final da primeira década de
unilateralismo. A superioridade militar dos EUA não é
suficiente para impor sua hegemonia sobre um sistema
mundial diversificado e ferido por políticas liberais e de
guerra que abrem um espaço para lideranças alternativas,
na construção de um mundo multipolar.
https://www.alainet.org/fr/node/107625?language=es
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