Comprometa seu candidato

12/05/2006
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Sou ruim de votos. Quando muito, garanto o meu. Não sou de subir em palanque ou gravar vinhetas. Prefiro ser cabo eleitoral de propostas, como a reforma agrária, que de pessoas. Ainda assim, a realização das eleições traz-me a proximidade de candidatos. Em geral, amigos cuja trajetória política acompanho. Se dou apoio a um candidato ele, obviamente, o torna público. Neste ano, se algum candidato a deputado federal procurar-me, terá que assinar um termo de compromisso, que poderei divulgar. Caso contrário, nada feito. Se cada eleitor exigisse, por escrito, compromissos de seu candidato, talvez depois não ficasse essa sensação de que foi enganado, ludibriado, usado como mero degrau de uma escada edificada em ambições pessoais. Eis o termo de compromissos que proponho: Prometo e permito que se divulgue: 1) Agir com rigor ético, não aceitar recursos de caixa dois, expor na internet a contabilidade de campanha e informá-la à Justiça Eleitoral. Se eleito, publicar ganhos e gastos de minha atividade parlamentar; 2) Não medir esforços para impedir que meu partido faça acordos escusos e alianças contrárias a seus princípios, e investigue todas as suspeitas de corrupção, nepotismo e falta de decoro, punindo os culpados; 3) Lutar pela reforma política que privilegie o financiamento público de campanhas, puna o caixa dois e admita a revogabilidade de mandatos por força de ação popular. Combater o voto secreto em sessões parlamentares e sempre tornar público o meu voto; 4) Apoiar os movimentos empenhados na reforma agrária, na educação política de nossa população, na erradicação do trabalho escravo e do trabalho infantil, no combate ao latifúndio, à exploração sexual de crianças e a todas as formas de discriminação, e na defesa do meio ambiente, em prol de um desenvolvimento sustentável; 5) Empenhar-me em prol de uma política econômica que impeça a privatização do patrimônio público, reduza os juros, priorize o capital produtivo e favoreça, em primeiro lugar, o acesso ao trabalho e à renda, o mercado interno, a agricultura familiar, as pequenas e médias empresas, de modo a reduzir o desemprego e a desigualdade social; 6) Defender o superávit primário em nível inferior a 3% do PIB, e o aumento dos investimentos da União em educação e saúde para, no mínimo, 8% do PIB. 7) Promover a reforma tributária que adote o imposto progressivo (quanto maior a renda, mais se paga); o aumento das alíquotas dos artigos de luxo e a desoneração dos produtos da cesta básica; 8) Aumentar o salário-mínimo acima da inflação e impedir que ele seja desvinculado dos benefícios da Previdência Social; 9) Combater as causas da violência urbana, como o desemprego, a desescolarização de crianças e jovens, a falta de moradias e saneamento, o tráfico de drogas e a corrupção policial, a “cultura” midiática que faz apologia do crime; 10) Defender a imediata reforma do Judiciário, de modo a agilizar os processos, pôr fim ao foros privilegiados, acabar com a impunidade dos crimes de colarinho branco e federalizar as violações aos direitos humanos. Haveria muitos outros quesitos importantes, mas isso fica por conta da consciência do eleitor, do que ele julga imprescindível ao aperfeiçoamento de nossas instituições democráticas. Ao agir assim, estará deixando de ser apenas amigo ou correligionário do candidato para assumir a postura que mais lhe convém: a de cidadão. Quando se trata de coisa pública não deveria existir acordo privado, caso contrário o eleitor corre o sério risco de ver o seu candidato fazer na vida pública o que faz na privada. Políticos são como feijão, só funcionam na panela de pressão. É direito e dever do eleitor cobrar de seu candidato. Todos os direitos de cidadania resultam de conquistas, jamais da benevolência do poder público. Por isso voto não é homenagem, é delegação, e quem a recebe tem o dever de prestar contas. - Frei Betto é escritor, autor de “Treze contos diabólicos e um angélico” (Planeta), entre outros livros.
https://www.alainet.org/fr/node/115189
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