O papel da mídia e o imperialismo ideológico

11/08/2006
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Uma das indagações mais freqüentes sobre a capacidade do governo estadunidense de legitimar suas intervenções militares ou de seus aliados, como Israel, é como grande parte da opinião pública permanece apática, mesmo diante de evidentes crimes de guerra. Desde a I Guerra Mundial, os Estados Unidos desenvolveram um sistema de comunicação intimamente ligado a seus interesses militares. Aliás, uma das principais funções das rádios, em sua origem, foi orientar e entreter soldados nos campos e batalha. Desde então, foram desenvolvidos mecanismos cada vez mais sofisticados de dominação ideológica através da mídia comercial. Em seu livro “Manufacturing Consent” (Manufaturando o Consenso), Noam Chomsky e Edward Herman analisam esses mecanismos e identificam o que chamam de “filtros” desse “modelo de propaganda”. Eles argumentam que a mídia não influencia somente a opinião pública, mas atua principalmente estabelecendo uma agenda política. Isso significa estabelecer “o que” o público deve pensar, mas também “sobre o que” devemos pensar, através de “escolhas, ênfases e omissões” de temas e opiniões. A repetição de idéias e o contexto dado a determinados fatos têm efeitos poderosos. As guerras promovidas pelos EUA não seriam possíveis sem o apoio da mídia. O primeiro “filtro” identificado por Herman e Chomsky está relacionado ao controle da mídia comercial por monopólios privados, onde o objetivo principal é o lucro. A principal conseqüência desse modelo é a exclusão da consciência de classes, com resultados bem mais “efetivos” do que a censura estatal em tempos de ditadura. Um estudo de Ben Bagdikian (O Monopólio da Mídia) demonstra que cerca de 20 empresas controlam hoje mais da metade de todos os veículos de comunicação nos EUA e suas filiais em outros países. Isso significa controlar a produção de agências de notícias, jornais, revistas, livros, filmes, programas de rádio e televisão, além da indústria musical e digital. Bagdikian argumenta que essas empresas constituem um “Ministério Privado de Informação e Cultura”. Corporações de outra natureza (bancos, empresas bélicas, etc.) têm controle acionário de grandes veículos de comunicação. Por exemplo, a General Electric (que produz desde lâmpadas até material bélico e nuclear) controla a RCA e a rede de TV NBC; o Wall Street Journal (que estabelece a agenda do noticiário econômico mundial) é controlado pela Dow Jones. O segundo “filtro” é a própria estrutura da mídia comercial, cujo principal objetivo é vender os produtos dos anunciantes. O conteúdo da mídia comercial, portanto, é voltado para as classes sociais com maior poder aquisitivo. Antes de se estabelecer essa estrutura, os jornais, por exemplo, dependiam da venda de exemplares para cobrir seus custos de produção. Atualmente, esses custos são cobertos por propaganda de grandes empresas e de governos. Dessa forma, esses veículos podem massificar sua produção e vender jornais por um preço muito mais baixo, o que dificulta a sobrevivência de publicações não-comerciais e facilita a massificação da ideologia das classes dominantes. A maioria das fontes de informação utilizadas pela mídia comercial e consideradas “confiáveis” são “oficiais” (através representantes de governos) ou de “especialistas”. Essa prática constitui o terceiro “filtro”, já que normalmente exclui opiniões divergentes da ideologia dominante. O governo dos Estados Unidos investe pesadamente nos setores de comunicação do Pentágono, da Casa Branca e do Departamento de Estado, que possuem milhares de funcionários e um orçamento milionário, com o objetivo de influenciar os meios de comunicação nacionais e internacionais. Outro órgão estratégico é a Câmara de Comércio dos EUA, que possui uma rede de cerca de 150 mil lobistas. A influência de setores ligados a órgãos de governo ou empresas através de lobby, constitui o quarto “filtro”. A pressão pode ocorrer de forma direta, através de contato com a direção dos veículos de comunicação sobre o conteúdo da programação, ou de forma indireta, através do apoio a grupos que organizam campanhas de cartas, mobilizam acionistas e outros setores influentes. Para completar esta estratégia, o governo estadunidense necessita cultivar um inimigo externo. Durante as últimas décadas, esse inimigo foi sintetizado na ideologia anticomunista e atualmente na chamada “guerra ao terrorismo”. Essa ideologia é tão poderosa que arrasta até mesmo setores considerados “progressistas” em relação a outros temas, com forte apelo na mídia internacional. Para justificar suas atrocidades, o governo dos EUA precisa “desumanizar” setores que representam resistência à ideologia dominante e a mídia comercial é sua principal arma nessa batalha. - Maria Luisa Mendonça é jornalista e membro da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
https://www.alainet.org/fr/node/116574
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