O Corão contra "armas inteligentes"
19/01/2007
- Opinión
É inimaginável o manto de tristeza e sofrimento que se estende sobre muitos povos, vítimas de guerras como na Africa e no Oriente Médio. Todas as guerras são estúpidas. Mas especialmente estúpida é a guerra contra o Iraque, baseda na mentira de um Presidente que manipulou a lamentadada ingenuidade do povo norte-americano, do qual 80% dos adultos, segundo o National Geographic, sequer sabe onde fica no mapa o Iraque. Como disse o cineasta Michael Moore numa carta aberta ao Congresso e ao povo norte-americano: "é uma guerra perdida porque jamais teve o direito de ser vencida". O Presidente Bush em sua arrogância crédula e o Pentágono em sua confiança infantil nas "armas inteligentes" asseguram que vão ganhar a guerra. Nunca a ganharão, porque contra as "armas estupidificadas" atiram-se versículos do Corão e se enviam todo dia resistentes em ataques suicidas. Vale para o Iraque o que o futurólogo Herman Kahn dizia da guerra contra o Vietnam: "perdemos a guerra porque não dá para vencer um povo que contra tanques recita poesias". O povo iraquiano é orgulhoso de sua cultura, uma das mais antigas da humanidade. Por esta razão 71% dos iraquianos querem os EUA longe do Iraque e 61% apoia os atentados dos resistentes.
Sempre me tenho perguntado: o que se passa no coração e na cabeça destes centenas de homens-bomba que cada dia entregam suas vidas? Deve haver ai uma "mística" poderosa que os convence considerar a morte mais preciosa que uma vida de humilhação. Foi nesse contexto que acabei, por acaso, relendo um livro antigo do meu tempo de estudante na Alemanha:"Cartas de condenados à morte, vítimas do nazismo", com um mpactante prefácio de Thomas Mann. É um comovedor testemunho da devastação hitlerista da Gestapo nos vários países em que atuou. Curioso que, independente e ser ateu ou crente, nota-se em cada condenado uma convergência notável: vê um sentido transcendente em sua condenação e revela a esperança de que esta morte violenta não será em vão. Quase ingenuamente alguns dizem:" é formoso morrer na esperança de um futuro melhor para a humanidade" ou "creio que depois desta guerra começará uma vida de felicidade para todos". Não foi isso que efetivamente veio pois a guerra quente continuou sob a forma de guerra fria.
Especialmente ilustrativa é a carta de uma jovem belga de 24 anos: "Não há morte triste quando se tem o consolo de princípios. A causa que defendo é justa e sagrada. Digam às minhas amigas que soube aceitar meu destino com calma e que me mostrei digna até o fim. Sempre mantive minhas convicções e continuei sendo atéia". Outra companheira sua, filósofa e poetisa, deixou escrito:"Morro para dar testemunho de que se pode amar loucamente a vida e, ao mesmo tempo, aceitar uma morte necessária". Um jovem de 19 anos se despede em carta aos pais:"Estarei sempre com vocês. Sentar-me-ei com vocês no banco do jardim. De manhã com a aurora sorrirei para vocês e no ocaso acenarei com uma saudação. Que o amor e não o ódio domine o mundo".
A Terra seguramente não é a sede da felicidade e da perfeição. Mas o sacrifício dos que assumem corajosamente a morte, mostra que nem tudo vale neste mundo. Que é injusto e perverso ocupar e arrasar um pais a pretexto de impôr-lhe uma democracia que nunca foi solicitada.
- Leonardo Boff, Teólogo
Sempre me tenho perguntado: o que se passa no coração e na cabeça destes centenas de homens-bomba que cada dia entregam suas vidas? Deve haver ai uma "mística" poderosa que os convence considerar a morte mais preciosa que uma vida de humilhação. Foi nesse contexto que acabei, por acaso, relendo um livro antigo do meu tempo de estudante na Alemanha:"Cartas de condenados à morte, vítimas do nazismo", com um mpactante prefácio de Thomas Mann. É um comovedor testemunho da devastação hitlerista da Gestapo nos vários países em que atuou. Curioso que, independente e ser ateu ou crente, nota-se em cada condenado uma convergência notável: vê um sentido transcendente em sua condenação e revela a esperança de que esta morte violenta não será em vão. Quase ingenuamente alguns dizem:" é formoso morrer na esperança de um futuro melhor para a humanidade" ou "creio que depois desta guerra começará uma vida de felicidade para todos". Não foi isso que efetivamente veio pois a guerra quente continuou sob a forma de guerra fria.
Especialmente ilustrativa é a carta de uma jovem belga de 24 anos: "Não há morte triste quando se tem o consolo de princípios. A causa que defendo é justa e sagrada. Digam às minhas amigas que soube aceitar meu destino com calma e que me mostrei digna até o fim. Sempre mantive minhas convicções e continuei sendo atéia". Outra companheira sua, filósofa e poetisa, deixou escrito:"Morro para dar testemunho de que se pode amar loucamente a vida e, ao mesmo tempo, aceitar uma morte necessária". Um jovem de 19 anos se despede em carta aos pais:"Estarei sempre com vocês. Sentar-me-ei com vocês no banco do jardim. De manhã com a aurora sorrirei para vocês e no ocaso acenarei com uma saudação. Que o amor e não o ódio domine o mundo".
A Terra seguramente não é a sede da felicidade e da perfeição. Mas o sacrifício dos que assumem corajosamente a morte, mostra que nem tudo vale neste mundo. Que é injusto e perverso ocupar e arrasar um pais a pretexto de impôr-lhe uma democracia que nunca foi solicitada.
- Leonardo Boff, Teólogo
https://www.alainet.org/fr/node/119041
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