O que fazer em Cancun?
26/11/2010
- Opinión
Embora respeite a boa vontade de muita gente, além do passeio, não há muito que fazer em Cancun
O mundo inteiro irá a Cancun. Mais uma vez reúne-se para discutir o “aquecimento global”. Enquanto discutimos, há várias décadas, os gases de efeito estufa continuam aumentando na atmosfera.
Hoje, a concentração de CO2 na atmosfera está ao redor de 386 ppm, isto é, de cada milhão de outras partículas, 386 são de CO2. Antes da revolução industrial estava ao redor de 288 ppm. Resultado, a temperatura média da Terra que era de 14,5º C, hoje já passa de 15º C. Parece pouco, mas já é suficiente para causar as tragédias ambientais que temos assistido. Cada grau a mais trará transtornos inimagináveis.
Aumentou também o metano (CH4), que está em menor porcentagem na atmosfera, mas tem um potencial de aquecimento 21 vezes maior que o CO2.
Aumentou ainda o N2O, ou óxido nitroso, produzido pela agricultura envenenada, também causador do efeito estufa.
Na prática esses dados indicam o total fracasso dos mecanismos de mercado para controlar as emissões de gases. Teríamos que ter outras razões, outras práticas, como a diminuição de uso dos combustíveis fósseis, diminuir a queima e derrubada das florestas – ao contrário, reflorestar -, diminuir a patada ecológica da pecuária e da agricultura sobre a Terra.
Entretanto, basta ver a filosofia desenvolvimentista que adota o Brasil, China e Índia, além dos europeus, americanos e outros asiáticos, para sabermos que esse modelo nos leva ao abismo. As multidões, embriagadas pelo consumo, não tem distancia crítica para vincular a depredação da Terra à sociedade do desperdício. Enquanto tal, a fome a e a sede aumentaram em todo o planeta, embora tenham diminuído em alguns lugares, caso do Brasil.
Portanto, embora respeite a boa vontade de muita gente, além do passeio, não há muito que fazer em Cancun. Espero muito mais da sabedoria das populações tradicionais, de sua resiliência, da ecologia dos pobres, daqueles que estão dispostos a construir a “sociedade do bem viver”. Mas, tudo indica, ela não virá sem muita dor e sofrimento.
Espero também que a misericórdia da Terra para com o ser humano seja maior do que a do ser humano para com a Terra.
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Roberto Malvezzi (Gogó), ex-coordenador da CPT, é agente pastoral.
Fonte: Brasil de Fato
https://www.alainet.org/fr/node/145810
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