Ouro – A moeda da incerteza

26/04/2011
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Quando se avizinha algumas nuvens negras no horizonte da economia, os investidores buscam refúgio num ativo que ofereça segurança. Nos meios comerciais a nível global o mundo desde a segunda guerra mundial, vem respirando com relativa tranqüilidade nas relações internacionais, quer pelo lado político como pelo lado econômico. As relações econômicas internacionais, sempre o são pela troca de bens que um país tem, pelo do outro que não o tenha e vice-versa. Em outros termos, essas transações são sempre trocas de mercadorias. Não há uma moeda soberana internacional, cada país tem a sua. O que há na prática é uma moeda mais convertível do que outra pelo volume de seu comércio.
 
De uma maneira mais didática, poderíamos dizer que se quero comprar (importar) uma máquina da Alemanha, terei de trocar por algum bem que disponho no Brasil. Neste caso como mero exemplo, poderei vender suco de laranja que é típico de país tropical, que em país frio não se produz. Neste contexto se a máquina custa em termos de Euro um milhão, terei que vender (exportar) uma “quantidade” de sucos de laranja que possa representar este um milhão. Assim por diante. A Alemanha não pode nos impor pagar em Euros, como nós não podemos impor o pagamento em Reais. Assim, o conceito de transações internacionais é consubstanciado em trocas de mercadorias. O uso de uma moeda de referência é meramente uma escala de valor para identificar a equalização justa da troca.
 
Num período de paz que estamos vivendo(?), os acordos comerciais internacionais, hoje facilitados por normas da Organização Mundial do Comércio (OMC), geram situações de débitos e créditos entre os países, pela diferença de tempo e pela intermediação cambial coberto através do sistema financeiro internacional.
 
Numa situação de conflito de interesses, em geral no campo político, quando não se chega a acordos diplomáticos, ou mesmo por default de um país, surge então uma única moeda aceita por todos: o ouro.
 
O ouro é chamado de um ativo como imóveis, terra, carros, que possui a qualidade de ser durável, e que pode ser passado às gerações futuras, com suas características praticamente perpétuas. O papel-moeda como conhecemos dependem da situação econômica de quem o emite, circula pela confiança institucional. O ouro tem seu valor intrínseco, inalterável no tempo. O dinheiro eletrônico, configurado por números armazenados nos servidores, são meras ficções numéricas de onde se criam os créditos oferecidos pelo sistema bancário, que não significará coisa alguma se numa hipótese as principais economias do mundo entrarem em colapso.
 
Este metal, que em outras épocas foi âncora de todas as moedas, por suas características, físico-químicas, - e na época moderna sua possibilidade industrial alem da clássica joalheria, - tem sido o único elemento possível de trocas. Se recorrermos a história o ouro imperou incólume por mais de 5000 anos como o último meio de troca. Assim, todos os países têm uma reserva crítica deste metal. Quando a ex-União Soviética estava em conflito ideológico com o mundo capitalista, e pouco crédito gerado pelas suas baixas exportações, foi obrigada comprar trigo do Canadá, a peso de ouro depositado na Suíça, pelo fracasso de sua agricultura coletiva na década de 1950.
 
Desde a segunda guerra mundial, guerra da Coréia, do Vietnam, e outros momentos políticos críticos, o ouro no mercado internacional teve seus picos de cotação. Segundo especialistas, este metal está novamente experimentando uma alta não esperada, com recorde histórico de US$ 1.500,00 por onça/troy (Abr/2011). Vários sintomas são apontados: instabilidade da moeda americana, descompasso entre produção e consumo dos produtos agrícolas, perda de confiança em moedas líderes no mercado internacional, monumentais déficit públicos principalmente dos EUA etc. A única coisa que se sabe é que está havendo cada vez maior demanda do ouro, por parte dos grandes investidores, com receio de uma nova recessão. O ouro não tem rendimento em si, não é competitivo no ambiente de aumento de taxas de juros. Para o investidor serve como um refúgio, uma segurança e não como renda. 
 
Segundo especialistas neste mercado, não haverá em breve moeda alguma no mundo, capaz de suportar a corrosão ou perda de confiança de suas moedas correntes. A única saída será recorrer novamente ao ouro, como sustentação monetária.   
           

- Sergio Sebold – Economista e Professor de Pós-Graduação do ICPG/UNIASSELVI, Blumenau – SC –

https://www.alainet.org/fr/node/149313

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