Agricultores paraguaios intensificam luta contra o modelo do agronegócio
13/02/2015
- Opinión
Desde novembro passado, milhares de agricultores familiares do Paraguai estão se mobilizando em coordenadorias democráticas para lutar contra o modelo agroexportador impulsionado pelo governo do presidente Horacio Cartes. Neste mês de fevereiro as manifestações se intensificaram em cinco departamentos (estados), entre eles San Pedro, Canindeyú, Concepción, Alto Paraná e Caaguazu, a repressão cresceu na mesma medida.
Estes agricultores se recusam a ingressar no modelo imposto pela monocultura de soja, eles são, na maioria, produtores de semente de chia e gergelim. Segundo representantes da coordenadoria, no período de plantio de chia houve incentivo do governo que ofereceu até 30 mil guaranis por quilo (equivalente a R$18), porém agora, no momento de vender a produção o valor proposto foi de apenas 2500 guaranis (R$1,50), ou seja os produtores ficam com um prejuízo irreparável, sem condições de fazer novos empréstimos para a próxima safra.
As mobilizações são uma forma de resistir à imposição do modelo do agronegócio que beneficia as grandes multinacionais. Cada vez mais organizados em coordenadorias e com apoio de movimentos sociais e partidos políticos de esquerda, os camponeses ganham voz, mas o governo ainda não ouviu as reivindicações.
Recentemente o ministro da Agricultura e Pecuária, Jorge Gattini, falou durante um pronunciamento que o empecilho para o desenvolvimento do agronegócio é o elevado número de pessoas na zona rural. Atualmente 33% da população vive no campo, a meta do governo é derrubar para apenas 7%.
A expansão do agronegócio em benefício de empresas internacionais instaladas no país é uma política de Estado. O próprio presidente Horacio Cartes é um dos grandes produtores, além de ser o dono das duas maiores tabacarias do Paraguai e ter forte presença na indústria de alimentos.
Os pequenos produtores acusam o ministério da Agricultura e Pecuária de agir como uma "sucursal da Monsanto". Todos os incentivos rurais são voltados para a monocultura. Há um programa de financiamento para os agricultores familiares chamado "Semeando Oportunidades"cujo objetivo é incentivar a produção de soja em pequena escala.
Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Germán Rojas, nomeado em janeiro deste ano, representa os setores financeiros e bancários mais exploradores do mercado. O Paraguai caminha a passos largos para a implantação de um neoliberalismo tardio sem estrutura para mantê-lo.
Atualmente 3 milhões de hectares de terra são utilizados para a produção de soja em larga escala, recentemente um representante da Monsanto, Fernando Giannoni, afirmou que o país tem condições de dobrar para 6 milhões de hectares. Os camponeses costumam chamar o presidente de “capataz dos sojeros”, e não é para menos. Ao que tudo indica o Estado está trabalhando com afinco para atingir a meta da Monsanto de reduzir a agricultura familiar e ampliar o espaço de produção das multinacionais.
A repressão e a violência generalizadas contra os pequenos produtores já são comuns em estados onde entrou em vigor a Lei de Militarização, proposta pelo presidente e aprovada pelo Senado no primeiro ano deste governo. O Exército age como um braço armado do agronegócio ao coagir e reprimir os trabalhadores do campo.
O governo de Horácio Cartes vem agindo com truculência contra os movimentos sociais organizados e a repressão aumenta a cada nova manifestação. Os produtores de chia e gergelim são apenas uma célula de resistência num país onde os direitos humanos são violados em benefício da exploração imperialista. Os camponeses resistem e estão saindo do campo com suas ferramentas de trabalho, para enfrentar o governo na capital. A ideia das coordenadorias democráticas é fortalecer a luta e partir para o embate, 2015 será um ano de batalhas intensas no país vizinho.
- Mariana Serafini, do Brasil de Fato
13 de fevereiro de 2015
https://www.alainet.org/fr/node/167539
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