De novo, a sempre difícil Colômbia
27/08/2013
- Opinión
Poucas coisas serão mais difíceis neste reino dos vivos que levar adiante e chegar a bom porto negociações entre o governo – qualquer governo colombiano – e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARC, o mais antigo grupo armado da América Latina.
Desta vez (e não é a primeira vez que acontece) há espaço para certa expectativa. Pode perfeitamente acontecer que, entre o momento em que estou escrevendo e o momento que você está lendo, algum fato comprove que se tratou de expectativa absurdamente injustificável. Pode perfeitamente acontecer exatamente o contrário.
Seja como for, é inegável que até agora vale dizer – atenção: até o momento em que estou escrevendo, o que não assegura que valha até o momento em que você estiver lendo – que avançou-se mais que nunca.
O que se alcançou até agora é consistente, é verdadeiro? Sim, é. E será suficiente para dar o caso, pelo menos em uma primeira etapa, como encerrado? De jeito nenhum.
Pode-se considerar que se chegou a um ponto sem volta, e que a partir de agora o caminho até um acordo final é macio feito tapete do Vaticano? Não. Nem pensar.
Pode-se confiar em um presidente como Juan Manuel Santos, de nítida tendência neoliberal, que foi ministro de Defesa de seu antecessor, Álvaro Uribe, aquele presidente de um governo fundamentalista com relação às FARC, que optou sempre pelo confronto aberto e recusou qualquer chance de diálogo?
Depende. Na melhor das hipóteses, haveria que confiar desconfiando. E anotar, cuidadosamente, cada passo dado, cada espaço conquistado, para, a partir daí, tentar vislumbrar o que vem ou poderá vir pela frente.
Agora mesmo, aconteceu outro tropeço. Melhor dizendo: tropeção. Depois de conseguir avançar em pontos especialmente delicados, o governo do presidente Santos resolveu forçar os limites. Pressionado pela oposição, ele decidiu que o acordo de paz será submetido a plebiscito popular junto com as eleições legislativas, em março do ano que vem, ou com as presidenciais, marcadas para dois meses mais tarde. Uma forma evidente de colocar um prazo para que as negociações resultem num acordo, ou sejam suspensas. A questão do prazo havia sido arduamente negociada antes das conversas que acontecem em Havana: a guerrilha não queria de forma alguma que as negociações aconteçam debaixo desse tipo de pressão do calendário.
Na segunda-feira, dia 26 de agosto, as conversas foram retomadas, depois de uma pausa pedida pela guerrilha. Essa retomada coincidiu com o primeiro aniversário da firma de um ‘acordo geral’ que pretende pôr um ponto final a um conflito que leva mais de meio século e provocou a morte de mais de 200 mil pessoas, das quais pelo menos 180 mil são vítimas civis, sem nenhum vínculo com a guerrilha ou com as forças armadas. Foi a partir desse ‘acordo geral’ que as negociações tiveram início, em novembro passado, em Havana, tendo como avalistas, além de Cuba, o Chile, a Venezuela, a Nicarágua e a Noruega.
As FARC defendem que, muito mais que plebiscito, se convoque uma Assembléia Constituinte para redigir uma nova Carta que inclua os acordos de paz alcançados e debata os pontos que não obtiverem consenso nas negociações entre guerrilha e governo.
A retomada das negociações acontece numa etapa considerada de vital importância: é a que trata dos mecanismos que serão adotados para permitir, uma vez que se chegue a um acordo final, a participação na política dos integrantes das FARC depois que forem desmobilizados.
Vale recordar que as atuais negociações começaram dez anos depois da última tentativa. Houve negociações durante o governo de Belisário Betancour, depois com César Gaviria, depois com Andrés Pastrana. Álvaro Uribe preferiu partir para o confronto direto, com o apoio pleno dos Estados Unidos: em vez de dialogar, optou por tratar as FARC como organização criminosa. É bem verdade que durante sua presidência a guerrilha sofreu perdas significativas, mas nada que fosse capaz de mudar o quadro de fundo, que é o da violência permanente.
Juan Manuel Santos retomou as negociações, deixando claro que não transigiria além de um limite pré-estabelecido, mas que estava disposto a dialogar. As FARC responderam no mesmo tom. E é assim que acontecem as reuniões em Havana, com um lado reiterando que não aceitará condições do outro, e o outro respondendo no mesmo tom: as bases do diálogo estão assentadas naquele remoto ‘acordo geral’ de agosto do ano passado.
Por enquanto, está funcionando: pelo menos se conversa. Agora mesmo, no impasse entre o plebiscito requerido pelo governo e a convocação de uma Constituinte requerida pela guerrilha, os dois lados resolveram suavizar o clima. O governo disse que se trata de uma ‘divergência técnica’, e a guerrilha fez de conta que acreditou.
Desta vez (e não é a primeira vez que acontece) há espaço para certa expectativa. Pode perfeitamente acontecer que, entre o momento em que estou escrevendo e o momento que você está lendo, algum fato comprove que se tratou de expectativa absurdamente injustificável. Pode perfeitamente acontecer exatamente o contrário.
Seja como for, é inegável que até agora vale dizer – atenção: até o momento em que estou escrevendo, o que não assegura que valha até o momento em que você estiver lendo – que avançou-se mais que nunca.
O que se alcançou até agora é consistente, é verdadeiro? Sim, é. E será suficiente para dar o caso, pelo menos em uma primeira etapa, como encerrado? De jeito nenhum.
Pode-se considerar que se chegou a um ponto sem volta, e que a partir de agora o caminho até um acordo final é macio feito tapete do Vaticano? Não. Nem pensar.
Pode-se confiar em um presidente como Juan Manuel Santos, de nítida tendência neoliberal, que foi ministro de Defesa de seu antecessor, Álvaro Uribe, aquele presidente de um governo fundamentalista com relação às FARC, que optou sempre pelo confronto aberto e recusou qualquer chance de diálogo?
Depende. Na melhor das hipóteses, haveria que confiar desconfiando. E anotar, cuidadosamente, cada passo dado, cada espaço conquistado, para, a partir daí, tentar vislumbrar o que vem ou poderá vir pela frente.
Agora mesmo, aconteceu outro tropeço. Melhor dizendo: tropeção. Depois de conseguir avançar em pontos especialmente delicados, o governo do presidente Santos resolveu forçar os limites. Pressionado pela oposição, ele decidiu que o acordo de paz será submetido a plebiscito popular junto com as eleições legislativas, em março do ano que vem, ou com as presidenciais, marcadas para dois meses mais tarde. Uma forma evidente de colocar um prazo para que as negociações resultem num acordo, ou sejam suspensas. A questão do prazo havia sido arduamente negociada antes das conversas que acontecem em Havana: a guerrilha não queria de forma alguma que as negociações aconteçam debaixo desse tipo de pressão do calendário.
Na segunda-feira, dia 26 de agosto, as conversas foram retomadas, depois de uma pausa pedida pela guerrilha. Essa retomada coincidiu com o primeiro aniversário da firma de um ‘acordo geral’ que pretende pôr um ponto final a um conflito que leva mais de meio século e provocou a morte de mais de 200 mil pessoas, das quais pelo menos 180 mil são vítimas civis, sem nenhum vínculo com a guerrilha ou com as forças armadas. Foi a partir desse ‘acordo geral’ que as negociações tiveram início, em novembro passado, em Havana, tendo como avalistas, além de Cuba, o Chile, a Venezuela, a Nicarágua e a Noruega.
As FARC defendem que, muito mais que plebiscito, se convoque uma Assembléia Constituinte para redigir uma nova Carta que inclua os acordos de paz alcançados e debata os pontos que não obtiverem consenso nas negociações entre guerrilha e governo.
A retomada das negociações acontece numa etapa considerada de vital importância: é a que trata dos mecanismos que serão adotados para permitir, uma vez que se chegue a um acordo final, a participação na política dos integrantes das FARC depois que forem desmobilizados.
Vale recordar que as atuais negociações começaram dez anos depois da última tentativa. Houve negociações durante o governo de Belisário Betancour, depois com César Gaviria, depois com Andrés Pastrana. Álvaro Uribe preferiu partir para o confronto direto, com o apoio pleno dos Estados Unidos: em vez de dialogar, optou por tratar as FARC como organização criminosa. É bem verdade que durante sua presidência a guerrilha sofreu perdas significativas, mas nada que fosse capaz de mudar o quadro de fundo, que é o da violência permanente.
Juan Manuel Santos retomou as negociações, deixando claro que não transigiria além de um limite pré-estabelecido, mas que estava disposto a dialogar. As FARC responderam no mesmo tom. E é assim que acontecem as reuniões em Havana, com um lado reiterando que não aceitará condições do outro, e o outro respondendo no mesmo tom: as bases do diálogo estão assentadas naquele remoto ‘acordo geral’ de agosto do ano passado.
Por enquanto, está funcionando: pelo menos se conversa. Agora mesmo, no impasse entre o plebiscito requerido pelo governo e a convocação de uma Constituinte requerida pela guerrilha, os dois lados resolveram suavizar o clima. O governo disse que se trata de uma ‘divergência técnica’, e a guerrilha fez de conta que acreditou.
https://www.alainet.org/fr/node/78759
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