A estratégia dos Estados Unidos contra a Venezuela

20/03/2014
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
Uma democracia que não vota para o candidato da embaixada; uma democracia descartável para os Estados Unidos. O Norte jamais aceitou que Chávez fosse o escolhido pelos povos do Sul, tampouco admite que o chavismo sem Chávez continua como a opção mais votada.
 
O roteiro do golpe em câmera lenta, inspirado em Gene Sharp, mas com muito mais violência, está sendo eficaz, mas ainda incapaz de destituir a Revolução Democrática Bolivariana.
 
Chávez alterou tanto as regras do campo de batalha – ideológica, política, institucional e internacional –, que a guerra arquitetada está agora fora de questão. Apesar das mortes e da violência nas ruas da Venezuela, bem como do desgaste da imagem internacional de Maduro, a persistente tentativa de golpe ainda não alcança seu objetivo final. A violência concentrada unicamente nas zonas ricas do leste de Caracas não é suficiente para se apresentar como uma força política alternativa com amplo apoio popular. Este fato, sem dúvida, está atualmente dividindo a oposição. Capriles continua afirmando que, sem maioria, não é possível ser presidente, ao passo que Leopoldo López prefere transformar uma minoria em maioria.
 
O primeiro aceita que, na Venezuela, existe uma nova identidade política, o chavismo; o segundo, por sua vez, ainda se empenha em eliminá-la. Mas por trás dessas divergências, existe uma coisa que os une: não param de tentar entender como se deve disputar o Povo com o chavismo.
 
Isso foi provado com o Golpe de Estado e com a greve petroleira no ano de 2012; ensaiaram-se inúmeras estratégias eleitorais com variedade de candidatos; depois da morte de Chávez, recorreram novamente à via eleitoral, em abril de 2013, mas fracassaram. Logo empreenderam uma intensa guerra econômica para ganhar um falso plebiscito nas eleições municipais de dezembro de 2013, e outra vez perderam – e não pela diferença mínima, mas com 11 pontos de desvantagem.
 
Esperar até 2016 para o recall, tal como determina a Constituição Bolivariana, é algo tão democrático, que não se encaixa nos planos antidemocráticos. Esgotou-se a paciência dos Estados Unidos. Seu falso bipartidismo tem uma posição clara contra o povo venezuelano depois de suas tentativas ineficazes de ingerência por meio de organismos internacionais. Nem as Nações Unidas nem a OEA lhes deu razão. Além disso, a mudança de rumos pós-Chávez prioriza o Sul como espaço político para resolver os problemas do Sul.
 
A Alba e a Celac apoiam sem pestanejar o governo da Venezuela; a Unasul rechaça a violência e respalda os esforços do governo da Venezuela e, além disso, defende a criação de "uma comissão integrada por Ministros de Relações Exteriores dos países da Unasul para que acompanhe, apoie e assessore em um diálogo político amplo e construtivo, orientado a recuperar a convivência pacífica na Venezuela, considerando a Conferência Nacional de Paz". Essa vitória no terreno internacional é devida a Chávez, mas também à experiência como ex-chanceler de Maduro e do bom desempenho de Elías Jaua em suas últimas viagens.
 
A cartilha clássica dos Estados Unidos torna-se insuficiente ante esse cenário desfavorável. Por isso, voltam ao que nunca deixaram de fazer: ameaças. Há meses, Fitch e Moody’s falaram do colapso econômico; a The Economist previu o "fim da festa"; o Bank of America e o Merrill Lynch alertaram para a "primavera venezuelana". Há alguns dias, foi o vice-presidente Biden quem se dispôs a colocar lenha na fogueira. Logo depois, o Secretário de Estado John Kerry ameaçou com sanções econômicas via OEA, embora Insulza (secretário-geral da Organização) lhe tenha dito que não seria possível usar essa opção porque “o caso venezuelano não coloca em risco nem a democracia nem a segurança do continente americano”. O último, até agora, foi Kelly, Chefe do Comando Sul do Exército dos Estados Unidos, diante do comitê de Assuntos Armados do Senado. Ele afirmou que a Venezuela “vai se precipitar em direção à catástrofe econômica” e, além disso, difundiu o perigoso rumor sobre “a divisão no seio das forças armadas venezuelanas”.
 
A transição geoeconômica em direção a um mundo multipolar irrita muito a maior potência militar do mundo. No ano de 2014, os Estados Unidos pretende recuperar, doa a quem doer, sua hegemonia unipolar. A beligerância contra os países emergentes mediante falsas expectativas de estagnação e a guerra na Ucrânia são provas disso.
 
A Venezuela é um objetivo mais para a diplomaria dos Estados Unidos em sua estratégia de dominação global, que agora exige uma guerra civil para derrotar por mal o chavismo. E por que não, em breve, voltar a controlar o petróleo e, de quebra, todo o continente latino-americano.
- Alfredo Serrano Mancilla é doutor em Economia e diretor do Celag (Centro Estratégico Latino-Americano Geopolítico)
 
Tradução de Daniella Cambaúva.
Créditos da foto: lagranciudad.net
 
20/03/2014
 
https://www.alainet.org/fr/node/84130
S'abonner à America Latina en Movimiento - RSS