O que se pode saber de 2001

11/01/2001
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Do que se pode saber, 2001 será um ano condicionado pela passagem da economia norte-americana da expansão à recessão ou, pelo menos, a um ritmo menor de expansão, suficiente para abalar fortemente todos os setores da economia mundial que dependem dela. O México está entre as primeiras e mais duras vítimas, mas todos os que dependem do maior mercado consumidor do mundo sofrerão, inclusive o Brasil. A recuperação da economia européia pode sofrer menos, mas o conjunto da economia internacional - inclusive a já combalida economia japonesa - se verá fortemente empurrado para baixo. Isso não ajudará a retomar os acordos da OMC, já afetados pelas mobilizações iniciadas em Seattle e que devem receber novo impulso com o Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Os avanços na liberalização devem se dar nos acordos da Alca, em abril, no Quebec, dado o enfraquecimento do Mercosul, pelas dissensões entre o Brasil e a Argentina, bem como pela crise neste país. A vitória de Bush, facilitando a concessão da "vida rápida" pelo Congresso norte-americano, complementa essa tendência. No Brasil, a continuidade da recessão econômica deve agravar a crise social, potencializada pelo debilitamento da unidade no bloco governista, com a aproximação das eleições presidenciais. O movimento sindical pode seguir recuperando capacidade reivindicativa, embora limitada pelos índices mais baixos ainda de crescimento econômico. A guerra desatada pelo governo, associado aos grandes meios de comunicação, contra o MST deve prosseguir, exigindo dessa organização uma reformulação das formas de ação e do seu discurso, para resistir em melhores condições à ofensiva governamental e recriar condições para uma ampla aliança social e política a favor da reforma agrária e do direito de luta dos trabalhadores da cidade e do campo. Os governos dos estados devem se ver às voltas, de forma mais aberta, com seus desequilíbrios financeiros, agudizados politicamente pela proximidade das novas eleições estaduais, o que deve aumentar suas pressões sobre o governo federal. Este buscará zelar mais ainda pela Lei de Responsabilidade Fiscal, diante desses governos e das novas administrações municipais, particularmente aquelas da oposição, que se verão duramente diante das opções que essas pressões federais exercerão sobre elas. Os dilemas entre as responsabilidades sociais e as responsabilidades fiscais serão mais um teste político e ideológico para os governos municipais da oposição, que poderão abrir caminho para soluções democráticas e populares, apoiadas no orçamento participativo, ou enredar-se nas armadilhas que as prioridades do equilíbrio fiscal tendem. A principal variável será a capacidade da oposição de desatar um amplo processo de debate e construção de uma plataforma das oposições, que sirva como instrumento para mudar o consenso ainda reinante e como alavanca para um novo bloco social e político vencedor nas eleições presidenciais de 2002. * Emir Sader é sociólogo, professor de sociologia da USP e da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Autor de "Século 20: uma biografia não-autorizada" (Ed. da Fundação Perseu Abramo).
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