Os rumos de uma oposição perdida
25/11/2014
- Opinión
O historiador liberal Lorde John Acton (1834-1902) notabilizou-se com a frase: "O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”.
O general Ernesto Geisel (1907-1996), o 29º presidente do Brasil (1974-1979) e o quarto na ditadura militar atestou essa máxima do Lorde Acton. O historiador Ronaldo Costa e Couto conta em seu livro, a “História indiscreta da ditadura e da abertura –Brasil: 1964-1985″, que o general ao ser perguntado se é chegada a hora da abertura democrática no país, foi taxativo: “É. Porque a corrupção nas Forças Armadas está tão grande, que a única solução para o Brasil é a abertura”.
Derrotados, pela quarta vez seguida, no processo eleitoral para a Presidência da Republica, os tucanos não medem esforços para fixar no imaginário da sociedade que a corrupção, no Brasil, é uma invenção do governo petista.
Desprovidos de capacidade e propostas políticas para fazer oposição ao governo da presidenta Dilma Rousseff, os tucanos enveredaram pelos discursos identificados com as forças mais direitistas e reacionárias da nossa sociedade. Forças políticas intolerantes com os direitos das minorias e que não vão além de repetir um ridículo discurso anticomunista, substituído agora pelo perigo de um possível regime bolivariano – medo expressado até pela cavernosa voz de um mediático tagarela ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Esta simbiose entre esses dois seres vivos – uma direita raivosa e os tucanos – há cada eleição se intensifica e aparece aos olhos da população como sendo um só organismo. Coube ao insuspeito tucano Xico Graziano dar o primeiro alerta, ao dizer que os militantes da direita já exigiam que o PSDB encampasse sua ideologia direitista, raivosa e revanchista. Habilidade e sabedoria que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso mostrou não possuir.
A nada petista, jornalista barbara Gancia, sobre FHC escreveu: “ Ultimamente o senhor parece uma matraca maria maluca, sr. ex-presidente, incitando ânimos sem se dar conta de que enfraquecer a presidente eleita é de uma irresponsabilidade à toda prova".
Quem diria que, um dia, sentaria numa das cadeiras idealizadas por Machado de Assis, na Academia Brasileira de Letras (ABL), alguém que parecesse ser uma matraca maria maluca? Apequena-se, cada vez mais, o que outrora se auto-proclamou o príncipe dos sociólogos.
Deprimente, ainda mais, foi ver o senador Aloysio Ferreira Nunes (PSDB/SP), vice- candidato da chapa derrotada de Aécio Neves, presente no ato político, dia 15/11, que pedia o impeachment da presidenta Dilma e a volta dos militares ao poder.
O perfil das forças políticas presentes no evento foi traçado, com precisão, pela jornalista Laura Capriglione: “Nas redes sociais, essa gente reúne-se em comunidades com nomes carregados de simbolismos de violência explícita, como Carecas do ABC, CCC (uma homenagem ao velho Comando de Caça aos Comunistas, organização paramilitar de direita que teve seu apogeu nos anos de 1970), Frente Integralista Brasileira (uma contrafação de organização nazista), Confronto 72 (anti-semita e skinhead), além do Combate RAC (Rock Contra o Comunismo) e do Front 88 (a oitava letra do alfabeto é o H; HH dá “Heil, Hitler”, a saudação dos nazistas). Trata-se de grupos que cultivam o ódio como definição existencial, como se viu no ato público realizado no sábado (15/11) pelo impeachment de Dilma.”
Aloysio Nunes, na companhia de Carlos Marighela e centenas de outros brasileiros e brasileiras tem, no passado, uma bela e heróica história de lutas contra a ditadura militar e em defesa das liberdades democráticas do nosso país. É triste que um dos protagonistas de um passado honroso foi substituído pelo que estava presente no dia 15/11. Tanto no passado quanto no presente, vale a sabedoria popular: "Diga-me com quem andas e dir-te-ei quem és”.
Já Aécio Neves, transformador em analista político do Jornal Nacional/Globo, nas semanas seguintes das eleições, agora desapareceu completamente. Noticia-se que nem no senado o parlamentar marca presença. Qual é a causa do desaparecimento? Será por que o esquema de corrupção da Petrobras começa a achegar nos anos do mandato de FHC e sinaliza em direção, também, da Cemig, a companhia de energia elétrica controlada pelo Governo do Estado de Minas Gerais? Também é intrigante o silêncio do senador Álvaro Dias (PSDB/PR) diante dos fartos e seletivos espaços que a mídia empresarial está dando para a operação lava-jato. Ele, sempre prestativo para as câmeras da Rede Globo, agora está desaparecido. Terá sido um pedido do amigo Alberto Youssef? Certamente que não. Mas seria importante que o senador se somasse com a disposição da presidenta Dilma para ir fundo no desmonte desse esquema de corrupção, para não deixar pedra sobre pedra.
A deplorável atuação da oposição ao governo petista é mais uma evidência do esgotamento do atual sistema político. Aprisionado pelo poder econômico, torna inerente ao seu DNA esquemas de corrupção e promove um irracional e imoral desequilíbrio de representatividade no parlamento. Latifundiários e grupos econômicos preenchem a grande maioria das cadeiras no parlamento. Os partidos políticos se tornam fantoches e os parlamentares se agrupam em bancadas que atende os interesses dos grupos econômicos que financiaram suas campanhas. Os segmentos populares são completamente alijados de participar até mesmo das campanhas eleitorais.
Somente uma reforma política, ampla e profunda, em tono de uma Assembleia Constituinte, soberana e exclusiva, poderá corrigir as aberrações que se estruturaram no atual sistema político.
- Editorial da edição 613 do jornal Brasil de Fato, 25/11/2014
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