Insana expansão do crédito
08/08/2012
- Opinión
Quando houve a recessão econômica de 1929, que ficou para história como o “crash de 1929”, ruiu todo o edifício econômico até então construído, pela especulação nas bolsas de valores, onde todo mundo achava que ficaria rico da noite para o dia. Como conseqüência houve um queda de toda a atividade econômica americana, com desemprego em massa e fome por todo o país. Estamos hoje novamente diante desta possibilidade, embora com outros matizes, ainda não suficientemente identificado.
As receitas econômicas da época ditada pela economia neoclássica, não mais surtiram efeito sobre a sociedade. Neste momento surgiu a proposta de um economista J.M. Keynes que fez reverter um pensamento que vigorava a séculos onde era estimular o consumo que tudo resolvia. Ao contrário disse ele, devemos começar pelos investimentos que estes gerarão produção (renda) e com esta se desenvolve todo o consumo, para manter a roda do progresso em movimento. Assim foi feito, e a nação americana, tirou o pé do atoleiro que estava metido.
Os empresários em geral, tinham esgotado toda sua confiança no sistema pelas perdas que recém tinham sofrido. Não queriam mais investir, arriscar. Sem perda em generalidades acadêmicas, numa situação de bancarrota total, sempre tem algumas pessoas, ou entidades que mantém alguma economia real (talvez até debaixo do colchão) que possa ser investida. Tudo se passa como uma metáfora, em que aquelas pessoas tinham uma pequena chama econômica acessa. Com este candeeiro, o governo através de uma promessa de pagar no futuro, ofereceu títulos de longo prazo, para começar fazer girar toda a roda que estava emperrada. Os títulos dos governos em tese são sempre os mais seguros. O governo é uma entidade perene, não quebra. Ou seja, com uma pequena chama da economia (poupança) fez investimento maciços na infraestrutura, atraindo assim a confiança do empresariado.
Ao fazer contrato com empreiteiras, para construção de estradas, de portos, aeroportos, barragens etc., começaram gerar oportunidades de empregos, que se alastrava para todas as atividades do sistema. Nestas condições a roda do progresso começou se alastrar, para todas as partes do país.
Oitenta anos após estamos a beira deste abismo novamente. Novos parâmetros, novas posturas da sociedade, tecnologias que mudaram radicalmente as perspectivas da sociedade e que ainda não se encontrou paradigmas convincentes.
Um parâmetro novo em que os governos estão se apegando é atiçar o consumo que este estimularia a produção, através da abundância da oferta de crédito, principalmente pelos bancos estatais. Estamos hoje num caminho invertido, tal qual a economia clássica.
É necessário, fazer uma diferença entre o atual momento e aquele da década de 30 do século passado. Como foi dito acima, a economia recomeçou girar, com a poupança (traduzido financeiramente) em créditos reais. Isto é, economias resultantes da produção real anterior. Era uma chama viva mesmo que pequena, que fez acender a grande “fogueira” do progresso. O que se quer fazer agora é acender uma fogueira com um palito de fósforo já queimado. O dinheiro que se oferece não é mais oriundo de economias reais, mas sim de lastros especulativos, fictícios, criados pela especulação, e escrituradas como real, pela contabilidade dos bancos. Como já dissemos em artigos anteriores, dinheiro fictício transfere riquezas, mas não geram novas riquezas. Não agregam valor. Assim o valor dos ativos deverá cair para valores extremamente baixos segundo opinião do alemão Robert Kurz e com efeito haverá desemprego em massa, de conseqüências imprevisíveis.
O estímulo dos governos para que as pessoas comprem mais, com créditos facilitados, juros menores, redução de impostos, apenas aliviam os problemas de curto prazo. Ainda mais, a oferta de ajuda aos necessitados, transformando uma sociedade subserviente, com um mínimo de obrigação de retorno, gerará uma imensa massa de dependentes (acomodados) das migalhas, aumentando as estatísticas de mendigos e a viver no ócio, sustentado pela grande maioria trabalhadora.
Os países europeus que adotaram a doutrina socialista em seus programas de governo: Grécia, Portugal e Espanha, são justamente os que estão atolados até o pescoço com dívidas governamentais impagáveis, com desemprego nas alturas, ameaçando os demais do bloco a bancarrota.
A frase dita pela chamada dama de ferro, Margaret Thatcher ecoa hoje como um alerta: "O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”. Talvez seja esta a razão (esperteza?) da Inglaterra não entrar na chamada zona do Euro, porque se não estaria toda enrolada também.
- Sergio Sebold – Economista Independente e Professor
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