Trabalhadoras rurais pedem fim da violência e denunciam agronegócio
10/03/2015
São Paulo (SP).- Mais de 20 mil mulheres de movimentos sociais que compõe a Via Campesina realizaram protestos por todo país nesta semana. As ações, que incluíram marchas, ocupações e o bloqueio de rodovias, ocorreram em 19 estados. As atividades fazem parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Camponesas, por ocasião do 8 de Março, Dia Internacional de Luta das Mulheres.
O lema da Jornada este ano é “Mulheres em luta: pela soberania alimentar, contra a violência e o agronegócio”. As camponesas saem em defesa de um modelo de agricultura baseado na agroecologia, assumindo o “o compromisso de lutar incansavelmente contra toda e qualquer forma de opressão e mercantilização da vida, do corpo e dos bens naturais”, afirmam em nota.
As mobilizações ocorreram no Rio Grande do Sul, Maranhão, Paraná, São Paulo, Bahia, Paraíba, Goiás, Alagoas, Sergipe, Mato Grosso, Tocantins, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Pernambuco, Piauí, Pará, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Em outros estados, como Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas Gerais, atos devem ser realizados no restante desta semana.
Agronegócio
No Rio Grande do Sul, cerca de 800 mulheres ocuparam a sede da multinacional israelense Adama, na terça-feira (10). A empresa fica localizada na cidade de Taquari. A companhia é uma das maiores produtoras de agroquímicos do sul do país, incluindo o 2,4-D, que estava proibido no Brasil por ser cancerígeno. “Defendemos a agricultura camponesa para a produção de alimentos saudáveis, sem venenos e a preservação da vida das camponesas e camponeses”, disse a dirigente estadual do setor de gênero do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Arlete Bulcão.
Em Taquari (RS), camponesas ocupam fábrica de agrotóxico Foto: MST |
No mesmo dia, cerca de 1.500 camponesas do MST, Movimento Camponês Popular (MCP), da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT) ocuparam a unidade da transnacional Cargill, em Goiânia. Segundo as trabalhadoras rurais, a Cargill vem estimulando o desmatamento do cerrado e a expulsão de milhares de famílias camponesas, ao apoiar a expansão dos monocultivos de soja e cana-de-açúcar.
Cerca de 800 camponesas ocuparam, na manhã da segunda-feira (9), a multinacional Bunge, em Luziânia (entorno de Brasília). “A Bunge é uma das transnacionais que representa o capital estrangeiro na agricultura e que atenta à vida de milhares de mulheres. Esse modelo não produz alimentos saudáveis, dificulta o acesso à terra das camponesas e está envenenando o povo brasileiro com o uso intensivo de agrotóxicos”, explica Lucimar Nascimento, integrante da direção nacional do MST.
Como a liberação do eucalipto transgênico seria votada na última quinta-feira (5), cerca de 1.000 mulheres do MST ocuparam a sede da Suzano, empresa de celulose e papel, em Itapetininga (SP), adiando a decisão da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para abril.
Ministérios
As mulheres da Via Campesina realizaram manifestações na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Um grupo de camponesas realizou um protesto em frente ao Ministério do Trabalho e Emprego nesta terça (10). As manifestantes pediram a derrubada da medida provisória que altera as regras da pensão por morte – que compõe parte das medidas anunciadas no início do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff. Elas também pleiteiaram salário-maternidade integral e a ampliação de quatro para seis parcelas, a aprovação de projetos do Minha Casa Minha Vida em áreas rurais, e melhorias no atendimento do INSS.
Um dos alvos da Jornada é o Ministério da Agricultura, liderado pela senadora ruralista Kátia Abreu (PMDB – TO). Também na terça-feira, o prédio da pasta foi alvo de protestos na capital do país. Na segunda (9), em Pernambuco, a representação do Ministério e a Secretaria Estadual de Agricultura foram ocupados. Na noite de domingo (8), em Macéio (AL), a superintendência do Ministério da Agricultura também foi ocupada.
Outros estados
No Ceará, na segunda (9), a Assembleia Legislativa do estado foi ocupada por mulheres do MST. Lá, diversas lutadoras, em especial, Maria Lima, uma das fundadoras do Movimento no estado, foram homenageadas.
Camponesas do Maranhão ocupam sede da Vale Foto: MST |
Mais de 600 sem terra ocuparam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em São Luís, nesta terça (10). Os Sem Terra pretendem permanecer no local até quarta-feira (11), quando devem sair em marcha até o Palácio dos Leões, sede do governo estadual do Maranhão, onde pretendem apresentar suas pautas ao governador. Na segunda (9), cerca de 420 mulheres do MST e do Levante Popular da Juventude ocuparam a sede da Vale, no porto da ponta da Madeira, em São Luís, área em processo de expansão para atender o mercado da mineração.
No Paraná, cerca de 700 mulheres de diversos assentamentos e acampamentos do MST, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Via Campesina ocuparam a BR 277, junto à praça de pedágio de Nova Laranjeiras, nesta segunda (9). Na mesma data, cerca de 450 mulheres do MST ocuparam o Engenho da Usina Giasa, no município de Pedra de Fogo, na Paraíba. Uma outra ocupação, da fazenda Rancho Verde, ocorreu no Mato Grosso, no município de Cáceres.
No Rio Grande do Norte, as mulheres sem terra trancaram cinco rodovias, na região de João Câmara. No Espírito Santo, também houve bloqueio de estradas e ocupação de terras. Cerca de mil mulheres de diversas organizações do campo realizaram uma marcha pela cidade de Colatina. Durante a ação as camponesas fecharam a ES 259, em direção à capital. Outras 100 famílias ocuparam a Fazenda Nossa Senhora da Conceição, próximo a Linhares.
Em Marabá, sudeste do Pará, cerca de 300 mulheres do MST realizaram um encontro de formação entre os dias 6 a 8 de março, sobre a realidade das mulheres camponesas nas regiões sul e sudeste paraense. Em Aracaju (SE), cerca de 600 mulheres do MST, Movimento dos Trabalhadores Urbanos (MOTU), Movimento Camponês Popular (MCP), Síntese, Casa das Domésticas e Marcha Mundial de Mulheres saíram as ruas da capital em comemoração ao dia internacional das mulheres.
A BR 316, na cidade de Picos, no Piauí, se converteu numa grande escola, chamada “escola do asfalto”, organizada pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Levante Popular da Juventude. O objetivo da manifestação foi apontar para o sucateamento das escolas no campo durante os últimos anos, quando foram fechadas mais de 37 mil escolas na zona rural.
No Tocantins, mais de 250 mulheres trancaram a Rodovia Belém Brasília (BR 153), na cidade de Guaraí. Na Bahia, 6.000 pessoas iniciaram nesta segunda uma marcha rumo à capital Salvador. A marcha saiu de Feira de Santana e percorrerá 116 km.
11/03/2015
https://www.alainet.org/pt/articulo/168127
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