A Dubai sulamericana

06/10/2020
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Venezuela Guyana venezuela division politica territorial
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Dubai é um enclave anglossionista que desenha um novo mapa estratégico regional no oriente médio, paraíso da corporatocracia que usa essa “cidade global” (Sassen) para seus fins não tão santos que junto a Singapura, Maurício, Qatar, entre outros, aparecem como os centros de lavagem internacional por excelência. 

 

Desde a chegada de Chávez, essa governança (neoimpério) dirige seu arsenal contra a Venezuela para destruí-la e lhe arrebatar recursos e territórios. Nossa Guiana Esequiba e o Golfo da Venezuela estão na mira.  

 

Utilizando a COVID-19 como distrator, cobertura e disparador da destruição criativa, o neoimpério varia os eixos geopolíticos mundiais para atacar às Repúblicas. O plano do polo corporativo transnacional impulsiona o desaparecimento dos exércitos e sua substituição por forças policiais de segurança e proteção, segundo a nova doutrina da OTAN. Visam evaporar a força de trabalho, apropriar-se de territórios e recursos, eugenia e controle populacional, substituindo o homem pela inteligência artificial e robôs, pondo a tecnologia a serviço dos Capangas (capitalistas) para nos controlar. Uma refeudalização que alguns autores impelidos por essa corporatocracia definem como o pós capitalismo. Como sistema, obviamente, o capitalismo não é somente economia, mas um regime de poder (Ocalan) e que hoje, graças a esses elementos, está cada dia mais e mais concentrado em pouquíssimas mãos. 

 

Assim, nesta nova etapa de acumulação originária, sempre por exploração, mas agora por despossessão e expoliação extrativista (Sassen/Arrighi) via poder suave, utilizam os poderes supranacionais da ONU e da Corte Internacional de Justiça para arrebanhar, ocupar territórios e recursos, devastando os Estados-Nação soberanos. Esse é o caso de nossa Guiana Esequiba, a mesma que portavozes internacionais estão denominando como a “Dubai Sulamericana”, tomando por base o informe do Instituto de Geologia dos EUA de 2001, onde se revela que a bacia de Guiana – território venezuelano- é a mais rica da América Latina.

 

Esses criminosos pretendem se adonar de nosso território pela via pseudo jurídica, impondo-nos um enclave extraterritorial anglossionista-holandês, cuja pilhagem data desde 1814, até nos levar ao ilegal Laudo de 1899 onde nos roubam 20% do território. Isso lhes permitiria desenvolver um processo molecular de acumulação do capital no espaço e no tempo, baseando-se no controle difuso de um território e da capacidade de mobilizar seus recursos para fins políticos, econômicos e militares.

 

Trata-se de nos impor, com a cumplicidade interna, uma visão talasocrática cujo nervo central são as finanças, movendo-se sem limites, em espaços abstratos, lisos e desterritorializados, subsumindo recursos e territórios em função de seu metabolismo global descentralizado, esquecendo que somos uma Nação telurocrática, com um Estado dono e proprietário de recursos, produtivo, proteccionista e soberanista.

 

Já não se trata das velhas expansões nacionais que num ponto de seu desenvolvimento se transformam em expansões imperiais. Agora, pretende-se estruturar pelo "alto" e desde um princípio, um governo mundial transnacional legitimado - quando isso é possível - na figura das Nações Unidas. Esse governo mundial será a expresão política tanto de "governos nacionais" como de grupos transnacionalizados cujo poder se assenta num específico processo de inovações tecnológicas e transformações produtivas (Harvey).

 

Desde sempre, hoje mais do que nunca, o Reino Unido e seus aliados necessitam expandir o domínio do mar e suas rotas comerciais. Extendê-lo à terra, agregando novos enclaves geográficos que permitam aos piratas globalistas do neoimpério uma partilha do botím, de suas possessões de ultramar e o domínio tecno totalitário, justificando seu direito no Commonwealth como fundamento de sua estratégia expansionista.

 

A origem desse direito encontra-se naquilo que propunha o jurista italiano Accursius no século XIII "Cuius est solum, eius est usque ad coelum et ad inferos” (em latím, "quem é o solo, é seu até o ceu e até o inferno"), princípio do direito de propriedade que estabelece um domínio único privado, cujos titulares têm direitos não somente sobre a parcela da terra em sí, mas também sobre o “ar de cima” e (na formulação mais ampla) o “solo de baixo”: doutrina Ad Coelum. Hoje limitada pela lei moderna que divide os direitos aéreos (acima) e direitos sub superficiais (abaixo), assumidos como princípio básico do direito consuetudinário pela Inglaterra e que a Guiana, como filha do Reino, toma como próprio e reclama frente a CIJ.

 

O Colonialismo anglossionista holandês junto a Guiana justifica sua suposta propriedade, apelando ao Uti Possidetis del common law anglo-saxão; nós, à norma jurídica político-territórial de Bolívar. A primeira reconhece que quem possui de fato a conserva (uti possidetis, ita possideatis), ocupando-a até demonstrar a propriedade. O Libertador prescinde da possessão ou ocupação do território, toma em conta somente o título jurídico legal e lhe imprime um caráter irrevogável e definitivo.

 

A Guiana, graças a nossa passividade, interpreta equivocadamente o Acordo de Genebra de 1966, violando-o, acreditando que esse território é um “território cedido”, enquanto nós colaboramos com essa visão errônea, as vezes por comodidade, outras para evitar um conflito inevitável, segundo acreditamos.

 

Concessões vão e voltam, enquanto as transnacionais EXXONMOBIL, Shell, Repsol, Sands Springs INC, Biocapital, Mun Brasil Venture INC, Reunion Gold Corporation, Anadarko Petroleum Corporation, Eco Atlantic, Bai Shan Lin DTL, SC Mineral LTD, Tullow Oil, CGX, Hess,Enian Service Limited e a Guiana Goldfields INC, estes últimos controlando os campos de ouro Aurora e Aranka com 6.540.000 de onças e 277.580 respectivamente. Operam livremente, financiam o litígio e o lobby corporativo frente a Corte, claramente em favor da Guiana e do anglossionismo, verdadeiro titeriteiro do jogo macabro contra nosso país, para nos espoliar o território Esequibo.

 

Para bom entendedor, meia palavra basta: no dia 30 de junho passado, contrariando suas próprias normas, fizeram uma modificação de última hora do Regulamento da "audiência telemática" para reconhecer a demanda de Guiana, sem maiores oposições da nossa parte.

 

No fundo, o litígio não é somente pelos recursos que estão em nosso território. Nem pela posição geoestratégica dessa zona, pois controlando o Mar Caribe com seus enclaves em Caricom e com sua posição de Punta Barima, lhes permitiria o aceso ao Delta, à bacia caribenha e às bacias hidrográficas da America do Sul inteira. O conflito é ademais por nossa condição Bolivariana, caraterizada por uma República proprietária da terra nacional antiliberal, não para o usufruto de uma elite privada, mas para sua distribuiçao justa e equitativa.

 

Por isso é imprescindível para a corporatocracia destruir “o mal exemplo”, demolindo essa condição subversiva antiliberal, nos oferecendo com a propaganda da mudança, um modelo produtivista, mas privatizador. Por isso ataques, acosso, sanções, bloqueios e agora sentenças forjadas: precisam derrubar a institucionalidade do Estado Social, de Direito e de Justiça, desmontando sua eficácia, demolindo seu poder econômico, sua coesão e apoio social. Buscam minimizar nossa influência geopolítica, para que não possamos resistir à intervenção moral, e logo jurídica, do neoimpério ou governança global multilateral da ONU via CIJ. Consenso do esgotamento, do atropelo e sacudida do povo, consenso por chantagem, para mudar o marco jurídico legítimo.

 

Ao nos tornar um povo refem do assédio e da coerção, levam-nos aos tapas a aceitar esses "consensos jurídicos supranacionais" por coação e extorsão, para dar um verniz de legitimidade e legalidade a mudança de modelo político interno e nos impor seu modelo de gobernança global que inclui se adonar de nossos territórios e recursos.

 

O Reino Unido fez da Índia sua reserva de recursos e sua retaguarda estratégica e hoje pretende, junto a seus cúmplices, fazer isso com a Venezuela. E mais, nos capturar e desde essa posição geográfica, projetar sua lógica de usura, vícios e perversão (Arrighi).

 

Apelam à excusa moralista da "pacificação", renunciando "ao uso da força" tal como reza no Memorándum consignado pelos "experts que nos defendem" frente à CIJ em seu parágrafo final, o que resulta inconstitucional porque a defesa do território e sua integralidade é irrenunciável. É uma negociação sem capacidade de dissuasão crível, o que nos conduz a uma situaçao de indefesa. E uma nação indefesa, sem vontade de luta, não é sujeito de negociação para resolver conflitos internacionais. venezuelanos e 280.000 guianeses. É assim que entende o imperialismo a democracia: já não a legitimidade pelo triunfo das maiorias em eleições livres e transparentes, mas a legitimidade estabelecida por uma minoria escolhida pelo império Novus e seus mecanismos de domínio ideológico, de acordo com seus valores e interesses.

 

Esse é o cerne de toda essa situação. Precisam destruir 200 anos de uma República dona de seus recursos e com domínio sobre eles. Nao é só um pedaço de território num mapa com linhas pontilhadas, com um enorme caudal de recursos mineirais, hidrocarburíferos, hídricos, florestais, além de humanos e culturais: ouro, manganês, diamantes, bauxita, mica, urânio, água doce, petróleo, gás natural, hidroelectricidade, biodiversidade, savanas e bosques, entre muitos outros recursos. É destruir o princípio jurídico político que gera uma vantagem comparativa. Nossa propriedade sem prévia acumulação originária (não por saque ou roubo do trabalho de outro), mas devido a uma guerra independentista, o que nos dá uma condição de domínio social público contrária aos interesses da governança.

 

Somos filhos de nossos pais ancestrais e da Pátria. Nascemos nestas terras que a providência premiou e dotou. Não é mediante uma "democracia de mercado", que conduz à catástrofe social, que a gente vai se defender frente à governança que pretende converter a Venezuela na "cauda do leão: de um leão sarnento, desdentado e perto da morte" (Maracapana).

 

Seu plano é contra a esperança que despertou Bolívar e Chávez em toda a América Meridional e que tem por base que somos um fenômeno que nasceu diferenciado, com capacidade de se diferenciar e com vontade para dignificar povos e nações oprimidas, preservando a capacidade de defesa ou potencial militar.

 

Nossa revolução não só é nacional e com objetivos nacionalistas, mas de projeção continental, o que tem sido amputado desde fora para dentro. Não pertence nem pode pertencer a nenhuma das ideologias fracassadas que hoje tentam nos integrar na marra, à governança global tecno totalitária. QUEREM NOS SUBORDINAR À sua agenda 2030  e seus conchavos de "direitos humanos", aos neofascistas orgânicos, ao serviço da inteligência anglossionista, à nova esquerda globalista progressista, aos money makers (social democratas de mercado) ou aos sionistas defensores da política de destruição dos Estado-Nação.

 

Por isso, urge o canone espiritual patriótico ante todos esses grupos pragmáticos, arrogantes, sibilinos e pérfidos do vício, que sobrevivem depredando os povos, sendo os nossos verdadeiros inimigos e do interesse nacional, regional e continental. Tenhamos isso em conta para as próximas batalhas.

 

A Venezuela é livre e vai ser independente: desconheçam-nos todas as potências do universo. A Venezuela se basta a si mesma e triunfará contra quantos se oponham a sua felicidade. A Venezuela será um povo independente ou deixará de existir entre os povos da terra (Palacios Fajardo 1811).

 

O Sol da Venezuela nasce no Esequibo e nada nem ninguém poderá nos impedir que o defendamos contra aqueles que conspiram para nos arrebatá-lo. Não trairemos a nossos Libertadores!

 

- Maria Alejandra Diaz é advogada constitucionalista venezuelana, integrante da Assembleia Nacional Constituinte (ANC).

 

Tradução: Anisio Pires

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/209214?language=en

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