A homilia do Papa em Aparecida e as três virtudes teologais
25/07/2013
- Opinión
A missa de Aparecida foi o grande evento religioso e pastoral da visita do Papa Francisco ao Brasil por ocasião da JMJ. Por isso mesmo, há que se estar atento, pois dela consta todo o programa de sua visita.
Parece-me especialmente importante o texto da segunda leitura da missa, do livro do Apocalipse, capítulo 12, que o Papa destacou em sua homilia. Trata-se de um texto mariano, no qual as comunidades cristãs sempre interpretaram a figura de Maria como figura da Igreja, defendendo o filho contra o dragão do pecado e saindo vitoriosa.
Nesse sentido, é clara a crítica do Papa à sociedade materialista e consumista que hoje é oferecida aos jovens. Voraz e consumista como o dragão que ameaça a mulher e sua cria, ela dilapida dia a dia a esperança dos jovens. E o Papa declarou: ”Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo”.
E os três dons imateriais e inspiradores que o Papa propõe aos jovens encontram seus correspondentes nas três virtudes teologais: fé, esperança e caridade.
1. Conservar a esperança. A uma juventude desesperançada, que se confronta diariamente com uma sociedade sem ideais, sem trabalho, sem horizontes, o Papa propõe à Igreja do Brasil, e sobretudo aos jovens, não abrir mão da esperança. Não deixar que a esperança morra em seus corações e que seus horizontes esbarrem nos limites mortais do imediatismo injusto e consumista que só traz a morte e não a vida. Francisco reafirma que a esperança tem fundamento e sentido, e exemplifica com o texto do Apocalipse, que mostra que, apesar de todas as ameaças e dragões da maldade, Deus não deixa perecer seus filhos. E por isso os pobres e os humildes têm profunda esperança nesse Deus que nunca falha.
2. Deixar-se surpreender por Deus. Esse ponto corresponde à virtude da fé. Quem crê sabe que em qualquer esquina e momento da vida Deus está à sua espera para surpreendê-lo com um dom, um chamado, uma vocação. Só quem tem os sentidos espirituais abertos e atentos pode reconhecer as surpresas amorosas que estão à espreita, dando sentido à vida e vigor ao cotidiano. Crer num Deus que sempre surpreende, que em meio a uma pesca infrutífera dá o presente de sua Mãe, Nossa Senhora, que em meio à dureza do cotidiano infiltra sua presença amorosa, é o chamado para os jovens. Crer. Não achar que a realidade é apenas aquilo que parece ser, mas é, sobretudo, aquilo que poderá ser se a fé ilumina essa mesma realidade. Comparando a ação de Deus com o vinho novo das bodas de Caná que vem no final e é o melhor, o Papa encorajou os jovens a crer neste melhor que só Deus pode dar.
3. Viver na alegria. Quem crê e espera é porque se sente amado. Profundamente amado. E por isso tem que estar e ser alegre. O pessimismo, o derrotismo, é proibido àquele que crê em Jesus Cristo. Esse foi o último recado aos jovens: ser alegre, não deixar-se submergir na tristeza que o mundo parece oferecer. Experimentar o amor do Senhor e dar testemunho da imensa alegria que isso representa. Isso é o que liberta dos ídolos da morte: a riqueza, o poder, o prazer.
Fé, amor, caridade: três virtudes que ensinam a conservar a esperança, deixar-se surpreender por Deus, viver a alegria. Aparecida, santuário da padroeira do Brasil, sede da assembleia dos bispos em 2007, onde a Igreja Católica na América Latina se comprometeu a formar discípulos e missionários que combatem as injustiças sociais e sejam construtores do Reino de Deus. E o Papa Francisco, porta-voz de Jesus, propõe como esperança para os jovens.
Maria Clara Lucchetti Bingemer
A teóloga é autora de “O mistério e o mundo – Paixão por Deus em tempo de descrença”, Editora Rocco.Copyright 2013 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br )
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