A rota de fuga da ALCA será o roteiro de integração alternativa de toda a América Latina
04/09/2002
- Opinión
Nascida em 1990, quando o então presidente dos EUA, George Bush (pai do atual),
anunciou sua "Iniciativa para as Américas", a ALCA começou a ganhar contornos
concretos em 1994. Naquele ano, na cidade de Miami, a Cúpula de Chefes de Estado
das Américas, que reuniu 34 países do continente (a única exceção foi Cuba, não
convidada), aprovou um plano de ação que previa a criação de uma área de livre
comércio que uniria o norte do Canadá e o Alasca ao sul da Argentina, passando
pela América Central e Caribe. Estavam lançados os princípios que fundamentariam
a criação da ALCA - e que, segundo o acordo, deverá entrar em vigor no ano de
2005.
As ONGs e movimentos sociais que pretendem mobilizar as populações e construir o
movimento de oposição à ALCA fazem questão de deixar claro: não são contra a
integração das Américas. O que elas rejeitam de maneira veemente é esse modelo
que foi construído à imagem e semelhança dos interesses das grandes corporações e
das empresas transnacionais norte-americanas - e que tem como objetivo principal
fortalecer ainda mais a economia dos EUA e a supremacia do "Império do Norte",
reservando aos demais países do continente um papel submisso, marginal e ainda
mais dependente.
"Quem disse que a ALCA é o destino natural e irrevogável de todos os países
americanos?", desafia e pergunta Luis Fernando Novoa Garzon, sociólogo, professor
universitário e membro da ATTAC-Brasil - Ação pela Taxação das Transações
Financeiras em Apoio aos Cidadãos, uma das entidades organizadora do Fórum Social
Mundial de Porto Alegre. Crítico ácido e ferrenho da ALCA, ele não tem papas na
língua e coloca o dedo em várias feridas. "A ALCA aprofunda a contradição entre o
centro e a periferia e a recoloca em termos ainda mais hierárquicos", diz. Suas
análises procuram refletir sobre os papéis que países como o Brasil, a Argentina,
o Chile, o México e a Venezuela podem cumprir diante desse processo assimétrico de
integração. Além disso, ele avalia também o espaço ocupado pela União Européia e
pela China e as relações que guardam com a ALCA. Apesar de traçar um quadro
bastante complexo e muitas vezes sombrio, ele não perde as esperanças: "Não há o
que temer. Carregamos conosco as melhores energias da humanidade, o melhor da
memória e do imaginário coletivo para compormos uma outra história e um outro
mundo".
* Fernando Bicudo, Jornalista-SINPRO
FB:Quais são as principais críticas que o senhor faz à ALCA?
Novoa: Primeiramente, é preciso distinguir entre uma integração hemisférica que,
em tese, poderia ser mutuamente vantajosa, e a ALCA como um projeto econômico e
geopolítico situado em determinado espaço e tempo. A ALCA "real" tem duas fontes
inspiradoras: o processo de reestruturação da economia norte-americana, comandado
por suas transnacionais, e o projeto unipolar acalentado pela direita norte-
americana, aquilo que hoje é traduzido como "Doutrina Bush". As críticas devem
partir da interpretação desses macro-interesses e não da crença ou descrença em
proposições abstratas.
Para começar, a ALCA aprofunda a contradição entre o centro e a periferia e a
recoloca em termos ainda mais hierárquicos. As elites periféricas se dispõem a
facilitar a redivisão hemisférica do trabalho, desde que seus privilégios fiquem a
salvo. Aparentemente já vimos esse filme. A novidade é que ficaremos presos
dentro dele como personagens, ou pior, como hologramas. Seremos eternos
figurantes em papéis controlados e mais desqualificados.
FB:Embora seja apresentada como uma área de livre comércio, a ALCA terá também
reflexos nos aspectos político, social, cultural e ambiental. Nesse sentido mais
amplo, que conseqüências práticas ela terá e de que maneira poderá afetar o
cotidiano das populações?
Novoa: A ALCA não deve ser vista como algo que será criado ou que se iniciará em
2005. É antes uma coroação, o clímax de um processo de desmonte e desarticulação
iniciado há uma década. ALCA é apenas globalização neoliberal radicalizada e
regionalizada. Por isso nós já estamos vivenciando uma ALCA de "baixo impacto":
esvaziamento das políticas nacionais, abertura comercial não seletiva e sem
salvaguardas, privatizações desarticuladoras das estruturas econômicas internas,
flexibilização trabalhista sem limites e sempre para baixo, câmbio fragilizado e
dependente de capitais especulativos intocáveis. Em suma, a ALCA significa o
aprofundamento de todas essas ofensivas privatistas e transnacionalizantes. Não é
só "livre-comércio" ou comércio desigual. É a imposição de uma instância
transnacional que estabeleceria novas regras de propriedade intelectual, novos
circuitos de difusão cultural e de informações e uma nova disposição na oferta
privada de serviços como saneamento, saúde e educação.
FB:Podemos então dizer que se trata, de fato, de uma tentativa de construir uma
América que atenda aos interesses e vontades das grandes corporações norte-
americanas?
Novoa:As corporações transnacionais deixaram de ser apenas atores econômicos. Seu
poder financeiro, tecnológico e de marketing é de tal monta que cenários são
feitos sob encomenda e sob medida. A tentativa de impor o Acordo Multilateral de
Investimentos ao mundo é uma demonstração disso. Mas, enquanto não se criam as
condições adequadas para a implementação geral desse tratado, a ALCA é um cenário
perfeito para sua aplicação particular. Para reorganizar os fatores econômicos e
os recursos naturais dos países latino-americanos segundo suas conveniências,
essas corporações necessitam da garantia de total liberdade dos investimentos,
liberdade para monopolizar. Os espaços de decisão que afetam nosso dia-a-dia
seriam desterritorializados. Os mecanismos de geração de emprego e renda não
estariam mais ao nosso alcance.
FB:O Brasil é o verdadeiro alvo dessa empreitada?
Novoa: Eles sabem bem a importância deste país. Nós é que menosprezamos nossa
capacidade de gerar riqueza e fartura. Eles sabem que nossa economia é parelha
com a deles, que nossas estruturas são simétricas e não complementares. Claro, as
norte-americanas estão numa escala e sofisticação infinitamente superiores. Por
isso, a simples liberação do comércio implodiria o que ainda sobra de estrutura
econômica encadeada. No caso brasileiro, não se trata de volta à colônia. A
reprimarização é a receita que querem impor a países intermediários como o Peru e
a Venezuela. A incorporação do Brasil não será tão simples. Lembrem-se que o
Brasil tem um mercado de elite comparável ao dos países europeus. E que aqui pode
haver base de apoio para compartilhar a administração do Império.
FB:De certa forma, o senhor acha possível e correto afirmar que a ALCA também
representa uma espécie de linha de continuidade de ideologias como a "Doutrina
Monroe", que na prática garantia o "direito" de os EUA intervirem nos demais
países do continente?
Novoa: No século XIX, a doutrina Monroe procurou legitimar a ascensão da potência
regional frente às potências européias, em nome da autodeterminação dos povos. No
século XXI, a doutrina Bush procura legitimar o poder unilateral da única super-
potência, em nome do combate ao terrorismo. O melhor da tradição republicana e
democrática converteu-se em álibi para um brutal expansionismo. Confundem e
fundem propositalmente os "valores norte-americanos" com os valores de toda a
humanidade. Alegam que os interesses dos EUA são os interesses de todo o mundo.
O que dizer da América então? Um território a ser incorporado, transformado e
deglutido debaixo de uma nova ordem privada e militarizada.
FB:Como ficam as discussões sobre o tema depois dos atentados de 11 de setembro?
Há um refluxo ou um avanço dos debates?
Novoa: Os atentados possibilitaram o desencadeamento de múltiplas ofensivas do
Império. São ofensivas aparentemente engatilhadas, que ficam à espera de um
grande pretexto. Criminaliza-se de um lado para se legitimar de outro. O
"inimigo" é a mais perfeita máscara do "amigo". O unilateralismo da administração
Bush encontrou sua justificativa no unilateralismo do terrorismo. Quem não for
favorável aos interesses dos EUA é contrário aos interesses da civilização
ocidental. Essa chantagem totalitária é um antigo projeto da direita norte-
americana organizada em torno do Complexo Industrial-Militar. O Afeganistão, o Al
qaeda e o Iraque são apenas os primeiros nomes na lista do "eixo do mal".
Movimentos sociais, guerrilhas, regiões e países latino-americanos já estão sendo
devidamente classificados pelo Império. Os estratos mais privilegiados do
capitalismo mundial não liderariam as negociações da ALCA se não houvesse um
prévio enquadramento militar do hemisfério. A assimetria das negociações
invariavelmente precisa ser confirmada pela assimetria da força.
FB: O império norte-americano encontrou assim uma forma de tentar barrar o avanço
e consolidação da União Européia?
Novoa: Para o Império, China e União Européia são atores que devem ser
necessariamente contidos, neutralizados, de preferência cooptados. Enquanto a
União Européia expressar apenas os interesses dos seus conglomerados econômicos,
não haverá problemas para os EUA. A Europa é um continente geopoliticamente
afônico pois está sob controle de forças de ocupação norte-americanas, sob a
bandeira da OTAN. As burguesias européias só conseguem produzir consensos
parciais e de curto prazo, daí a quase paralisia decisória que toma conta de seu
processo integracionista. Como o Brasil pode explorar o duelo dos grandes
interesses? Ocupando o vácuo de poder deixado por eles e efetuando uma polarização
alternativa ao modelo neoliberal. Acumulando forças não para ganhar no velho
jogo, mas para inventar um novo.
FB: O senhor citou também a China, um outro peso-pesado que me parece estratégico
nesse jogo de xadrez que é a geopolítica mundial. Que papel os chineses podem
cumprir nesse processo? A ALCA teria como um de seus objetivos principais evitar o
surgimento de um outro "império vermelho"?
Novoa: O mandarinato "socialista" chinês negocia qualquer reordenamento mundial,
desde que a China fique bem posicionada nele. O poder bélico chinês também conta
muito na hora de dividir o bolo. Descolado dos interesses populares, o regime do
Partido Comunista Chinês se torna cada vez mais pragmático. Isso, claro, tem um
preço: a primazia militar no sul da Ásia, incluindo a reanexação de Taiwan, e um
sistema de parceria privilegiada com o capital estrangeiro que para lá flui. Em
troca, oferecem a conivência ou colaboração com as estratégias sistêmicas ditadas
pelo Império norte-americano, tal como ocorreu na recente invasão do Afeganistão.
A devolução de Hong Kong, em1997, de Macau, em 1999, e o ingresso da China na OMC
em 2001 são outros elementos que pontuam essa tensa e delicada negociação entre as
duas potências.
FB:Por que razões as populações e os movimentos sociais têm sido colocados à
margem de todas essas discussões, fazendo da ALCA uma espécie de "coelho tirado
das cartolas" das elites e dos círculos iluminados do poder?
Novoa: A discussão da ALCA implica na avaliação do modelo de inserção externa do
Brasil. As elites dirigentes não querem tornar público e aberto aquilo que na
prática é uma "desterritorialização negociada". O debate público da ALCA, pela
sua abrangência, nos obriga discutir que Brasil queremos e que mundo queremos.
Isso significa discutir por quê não há política industrial, por quê não há
expansão da infra-estrutura, por quê a tamanha fragilização das nossas contas
externas. A tecnocracia e seus patrocinadores não admitem colocar seus interesses
em julgamento. O núcleo de decisão do capitalismo se considera intocável. Os
acertos estruturais que nele se realizam, inclusive a ALCA, estão se impondo a
parlamentos e governos falidos. Daí a importância da luta social direta,
articulada continentalmente.
FB: E no centro do furacão, o que está acontecendo? Como a população norte-
americana encara esse processo de integração?
Novoa: Para as corporações e as grandes instituições financeiras, a ALCA é o
arcabouço ideal para a reengenharia da economia norte-americana. Quanto maior a
abrangência do jogo, maior a necessidade de cacife. As grandes agências, então,
darão as cartas. Já os setores econômicos tradicionais temem ser sacrificados em
nome dessa mesma reestruturação. Conclui-se que a ALCA é antes de tudo um ajuste
de contas no interior da economia norte-americana. A Autorização para Promoção
Comercial (TPA- antigo Fast Track, mecanismo legislativo que permite ao Executivo
dos EUA negociar acordos comerciais com outros países), aprovada pelo Congresso,
representa uma espécie de acordo possível entre os setores dinâmicos e os
tradicionais.
Por isso ele foi inflado com cerca de 340 itens de exceção. Este acordo do grande
capital para privatizar os benefícios da ALCA pressupõe a socialização dos
prejuízos entre os países latinos-americanos e também entre a maioria dos
trabalhadores norte-americanos.
FB: Como o senhor avalia a postura e as posições do governo brasileiro nessas
negociações?
Novoa: O governo FHC representa um conjunto de forças sociais alheias aos destinos
da população e completamente insensível a seus reclamos. É um governo que rompeu
os anéis que o vinculavam a estruturas econômicas internas e que voluntariamente
se algemou ao capital financeiro internacional e às corporações transnacionais.
Na tarefa do desmonte interno, além da tecnocracia liberal-fundamentalista, contou
com a indispensável ajuda de velhas oligarquias corruptas, em grande parte
domiciliadas no PFL, mas não só nele.
A inserção externa do país, na visão desse governo, deve aprofundar os vínculos da
economia brasileira junto aos fluxos globais de capitais, investimentos e
tecnologia. Tudo estaria certo, desde que a hidráulica funcionasse nos dois
sentidos, o que não vem acontecendo. O governo FHC vê a adesão do Brasil à ALCA
nos marcos de uma lógica de "acomodação internacional" e de negociação de ganhos
que são localizados e setoriais. Quem não tem projeto próprio, construído a
partir da representatividade e da participação popular, fica à mercê dos projetos
alheios. O máximo que consegue, com muito regateio, é valorizar sua adesão, isto
é, obter compensações. Essa tem sido a postura do governo. Faz-se de difícil,
levanta a voz contra as barreiras que boicotam nossas commodities e produtos de
menor valor agregado, mas aceita negociar e dá a senha sobre quais devem ser a
moedas de troca.
FB: O senhor acha que o Mercosul deve negociar seu ingresso na ALCA de maneira
coletiva, em bloco, ou cada país deve seguir o seu caminho?
Novoa: A sabotagem deliberada do Mercosul pelos governos do Brasil e da Argentina
nos últimos anos torna inócua qualquer uma das opções. As elites dos dois países
estão se esforçando para provar qual é a que pode melhor gerenciar os negócios
imperiais aqui no sul. O Mercosul, longe de se constituir um horizonte
estratégico para onde deveríamos focar nossas políticas econômicas, só tem servido
como um lobby qualificado - o famoso "4 mais 1" - para arrancar algumas concessões
dos EUA Tudo depende da Argentina, o país que pecou por excesso de submissão.
Aplicaram o neoliberalismo pensando que fossem ingleses, mas sem libra e sem
indústria. O surpreendente é como a população argentina manteve-se tanto tempo
hipnotizada pelo discurso "modernizador" de Menem. Quem diria que um "peronista"
concluiria o processo de sucateamento da economia argentina iniciado na Ditadura
de Videla? O aprendizado demorou, mas pelo menos veio todo, de uma só vez. A
população ocupou as ruas e precisa urgentemente recuperar o tempo perdido, criando
novas formas associativas e novos partidos para canalizar e resguardar toda essa
energia transformadora.
FB:Voltando os olhos para a América Latina, além de Brasil e Argentina, há outros
três países que são pedras fundamentais para o fracasso ou sucesso dessa "ALCA à
norte-americana" - o Chile, o México e a Venezuela. Quais as apostas que eles têm
feito?
Novoa: Os três países representam casos muito singulares. Prefiro tratar de cada
um deles de maneira isolada. O Chile celebrou um acordo com o Mercosul, mas isso
não significa que queira reorientar os fluxos comerciais privilegiados que tem com
o sudeste asiático, com os EUA e com a Europa. Como liberalizou sua economia
muito precocemente, durante a ditadura Pinochet, o Chile pôde ocupar nichos
vantajosos no mercado internacional. E, apesar da aparente pujança da economia
chilena, a sua inserção é fragmentária e não inclusiva. Além do mais, está sempre
na dependência da prosperidade dos mercados mundiais para manter seu impulso. A
opinião majoritária no Chile considera que, se o país depende tanto das variáveis
do comércio exterior, então o melhor a fazer é fundir-se ao principal centro
decisório do capitalismo: o mercado norte-americano. Temos que mostrar aos
chilenos que esse modelo de desenvolvimento é frágil e altamente manobrável pela
via externa, o que impede qualquer avanço em termos de justiça social e de
democracia participativa.
FB: E o México, que inclusive é uma das vítimas diretas dos efeitos do Nafta?
Novoa: As elites mexicanas viraram as costas para a América Latina, para sua
história e para o povo que a construiu. Tornou-se uma economia de maquilas e de
plantations à disposição do "Grande Irmão" do norte, que assim pode preencher suas
lacunas de suprimentos e reduzir seus custos gerais de produção, logo ali na
fronteira. Os capitais não precisam se deslocar para a Ásia. Analistas começaram
a dizer, em tom elogioso, que o México é um novo "tigre asiático", tendo em conta
seu esforço exportador. Mas quem é que exporta, cara-pálida? As próprias filiais
e sub-contratadas das corporações norte-americanas.... É apenas comércio intra-
firma. O México é um tigre, mas desdentado, domesticado e sob a coleira do
Império. Vítima do Nafta desde 1994, tornou-se uma cobaia perfeita para testar a
melhor forma de incorporar o restante da América Latina. O presente do México é o
futuro que querem nos oferecer. Devemos recusar gentilmente esse prato
apimentado. E apostar na consolidação de um pólo de poder popular que ecoe de
Chiapas para todo o país.
FB: Temos ainda a Venezuela e o governo de Hugo Chávez, que, mesmo com todas as
críticas que possam ser feitas, representa um obstáculo aos interesses dos EUA.
Novoa: A liderança Hugo Chávez é resultado da desastrosas e criminosas políticas
neoliberais impostas por Carlos Andres Perez à Venezuela nos anos 90. O regime
Chavez é uma tentativa de recompor alguma margem de manobra para os setores médios
e de grupos econômicos fortemente vinculados ao mercado interno.
A inconsistência política destes grupos somado ao messianismo dos setores
excluídos recoloca em cena o caudilhismo do tipo vingador. O que estou dizendo é
que Chávez personifica, ambiguamente, um conjunto de resistências.
Essa é sua força e sua fraqueza. A concentração pessoal do poder facilita o
trabalho de desestabilização por parte das elites locais associadas ao Pentágono.
O recente golpe militar patrocinado pelo Governo norte-americano nos fornece uma
amostra daquilo que será a futura administração do quintal.
A CIA e mercenários locais coordenaram uma operação de criminalização do Governo.
A regra é simples: TODOS QUE SE OPÔEM AO IMPÉRIO DEVEM SER CRIMINOSOS E
TERRORISTAS. É o clássico expediente de desqualificação das alternativas e de
construção/demonização do inimigo. Suprimida a resistência venezuelana abre-se a
temporada de caça na Colômbia. A chantagem precisa ser denunciada para não
sejamos suas próximas vítimas.
FB: Uma outra integração da América é possível? Qual seria ela? De que maneira
seria possível viabilizá-la?
Novoa: Estamos conscientes que a intenção deliberada do estabilishment é eliminar
de antemão outras opções de inserção e integração. Querem converter uma
necessidade particular e circunstancial em virtude perene e coletiva.
A opção deliberada, de repente, vira algo "irreversível". Quem disse que a ALCA é
o destino natural e irrevogável de todos os países americanos? As classes
dirigentes, já dizia Hannah Arendt, não podem comprometer as margens de decisão
das gerações futuras, sob pena de assumirem um papel apocalíptico.
O papel do Brasil neste novo milênio é apresentar uma rota de fuga da ALCA que
seja o roteiro de integração alternativa de toda a América Latina. Não há o que
temer. Carregamos conosco as melhores energias da humanidade, o melhor da memória
e do imaginário coletivo para compormos uma outra história e um outro mundo.
https://www.alainet.org/de/node/106335?language=es
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