Brasil: Concentração de renda agrava situação
29/08/2004
- Opinión
Brasil de Fato
da Redação A falta de moradia tem uma relação estreita com a concentração de renda e com o desemprego. O estudo mais abrangente a respeito da população sem-teto no Brasil foi feito pela Fundação João Pinheiro, de Minas Gerais, em 2000. O levantamento constatou a necessidade imediata de construção de 5,4 milhões de moradias, para suprir cerca de 20 milhões de brasileiros que não tinham onde morar ou viviam em situações emergenciais, como os moradores de rua. Havia ainda outros 45 milhões de cidadãos em habitações de condições precárias, em favelas, com superlotação e sem condições básicas de higiene.
O instituto mineiro apurou, ainda, que 83% das famílias sem condições adequadas de moradia ganham até três salários-mínimos ou não têm uma fonte de renda. No Brasil, praticamente não há políticas habitacionais para essa parcela da população – a maior parte das medidas está voltada para famílias com renda acima de seis salários-mínimos.
As contradições não páram por aí. A especulação imobiliária agrava os problemas dos mais pobres. Mais uma vez, a realidade da cidade de São Paulo evidencia as desigualdades sociais brasileiras. O município tem 420 mil lares vagos, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), realizada em 2001. Enquanto isso, 2 milhões de pessoas vivem em condições inadequadas, de acordo com o Centro de Estudos da Metrópole.
Preconceito generalizado
No entanto, ter um lar não resolveria todos os problemas de quem, hoje, não tem onde dormir. “O morador de rua não quer ir para o albergue. Ele necessita de muito mais, de uma atenção integral que lhe permita reencontrar a sua humanidade”, afi rma a professora Cecília Loschiavo, professora da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do tema. Segunda ela, há um preconceito generalizado contra as pessoas que vivem nessas situações. “Elas são freqüentemente humilhadas, rejeitadas. Ninguém quer ter perto de casa um morador de rua ou uma instituição que trabalha com essa parcela da população”, comenta Cecília, autora do livro Cidade de Plástico e Papelão, sobre a luta pela sobrevivência dos sem-teto.
“Vivemos em um mundo sem emprego, que não oferece condições de vida à humanidade”, avalia Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, da Central dos Movimentos Populares (CMP). “Apesar de não assumirmos, estamos vivendo a barbárie há muito tempo. Essa violência e a falta de segurança mostram isso. Percebe-se também que o Estado burguês não tem muito o que oferecer ao povo. É preciso cobrar uma ação urgente do poder público, pois todos os brasileiros foram violentados pelos atentados. É uma agressão a todos nós, pobres, negros, homossexuais, lésbicas”, diz.
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