A segunda perseguição a Florestan Fernandes
- Opinión
Somente nos regimes autoritários polícia invade escola à procura de suspeitos, sem mais nem menos.
A invasão da Escola Nacional Florestan Fernandes pela polícia é um fato grave que não pode ser menosprezado.
O pretexto alegado para a ação – procurar um foragido que estaria escondido lá dentro – já denuncia o seu caráter: criminalizar o MST, que fundou a escola e a mantém aberta a brasileiros e latinoamericanos.
Tudo indica que o ataque de uma polícia estadual, mas com vasos comunicantes com Brasília, por meio do atual ministro da Justiça (?), teve quatro objetivos: 1) informar a opinião pública de que a escola pode estar sendo usada como refúgio de bandidos; 2) provocar os militantes do movimento rural para que eles reajam e justifiquem mais repressão contra eles; 3) preparar a opinião pública para aceitar o eventual futuro fechamento da instituição e 4) dar um aviso a todos os movimentos sociais de que "daqui pra frente tudo vai ser diferente".
O erro da ação foi ter sido cometida contra uma instituição que conta com forte apoio internacional e muito prestígio devido à seriedade com que é gerida e os bons resultados que tem apresentado. A reação deve ser forte, inclusive no exterior.
Uma invasão policial a uma escola – ainda mais a uma escola de primeira grandeza frequentada por pobres que não têm acesso a educação de gabarito – não consta das atividades previstas e permitidas num regime democrático.
O episódio me remeteu imediatamente a 1968 quando o colégio público em que eu estudava - Colégio de Aplicação, na rua Gabriel dos Santos, em São Paulo - foi invadido por policiais à paisana que estavam caçando alunos e professores rotulados de subversivos.
A caça foi tão ampla que o colégio – onde estudaram ao menos dois ministros de estado – fechou as portas. Professores e alunos brilhantes foram presos e torturados.
É irônico porque a polícia nunca invade as escolas furrecas e sim as melhores, como foi o Aplicação e como é a ENFF, centros de irradiação de conhecimento e de debate.
Não havia como gritar na época contra o absurdo que foi cometido, um verdadeiro atentado à educação brasileira, porque os jornais já estavam censurados.
Florestan Fernandes foi muito perseguido enquanto viveu, mas nunca se deixou abater. Esta é a segunda perseguição ao grande educador e brasileiro. É mais covarde porque ele não está mais aqui para se defender. Mas é mais inócua porque agora ele tem mais defensores do que quando estava vivo.
- Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento setembro 2016).
7 de Novembro de 2016
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