O Impeachment de Trump e a Nova Guerra Fria

12/12/2019
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Trump não é flor que se cheire. Pertence a uma direita radical, xenófoba e muito reacionária nos costumes. No campo internacional, trata os imigrantes latinos como escória e leva a ferro e fogo a sua irresponsável guerra comercial contra a China. No campo interno, engana os trabalhadores dos EUA, ao não enfrentar o verdadeiro culpado da desigualdade e da falta de empregos: o modelo neoliberal. 

 

Há, pois, muito motivos para propor seu impeachment.

 

Mas os motivos utilizados pelo Partido Democrata para propugnar por seu impeachment são mais reacionários que Trump. E talvez mais sujos, também.

 

A primeira acusação contra Trump foi o chamado caso Russiagate, que teria sua origem na Ucrânia. 

 

Acusou-se o presidente de ter recebido ajuda da Rússia para se eleger e para espionar e atacar a candidata democrata Hillary Clinton. Tratava-se de uma conspiração imaginária e a acusação acabou sendo arquivada. Entretanto, ficou o dano político. Dano inclusive para a candidata Hillary, são que seus e-mails foram expostos publicamente.

 

Agora, acusa-se Trump de ter, em conversa telefônica, pedido a seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, que cooperasse na investigação lançada pelo secretário de Justiça, William Barr, para determinar as origens do Russiagate. O pedido envolveria, segundo os acusadores, um quid pro quo adicional. Trump reataria a cooperação militar com a Ucrânia, que estava interrompida, desde que Zelensky cooperasse também numa investigação envolvendo Joe Biden, ex-vice-presidente dos EUA e pré-candidato às próximas eleições.

 

As acusações contra Joe Biden são cabeludas. As evidências também. 

 

Joe Biden teria colocado seu filho, Hunter Biden, em um emprego na Burisma Holdings, uma companhia de gás e petróleo da Ucrânia, com um belíssimo salário de US$ 50.000,00 (mais de R$ 200.000,00) por mês. O detalhe intrigante é Hunter Biden não conhece nada sobre a Ucrânia e nem sobre petróleo e gás. O que ele fazia lá, então? Alguns procuradores ucranianos tentaram descobrir, mas o chefe da investigação foi demitido.  Saliente-se que Hunter Biden também recebia “presentes” da CEFC, uma companhia chinesa de energia, acusada de pagar propinas. 

 

Parece que Joe Biden, assim como Bolsonaro, não via problema algum em beneficiar e favorecer seu filho. 

 

A questão maior, contudo, é qual a relação estabelecida entre Joe Biden e o Partido Democrata com o governo ucraniano, que justificava essa, assim digamos, “maracutaia” estranha?

 

O fato concreto é que, uma vez que affair Biden veio à tona, os democratas correram para promover o processo de impeachment contra Trump, alegando, inclusive, que ele havia enfraquecido a luta da Ucrânia contra a Rússia.

 

Tanto Russiagate quanto o agora Ucraniagate têm algo em comum. São investigações que se originaram nas agências de segurança e inteligência dos EUA. No Russiagate, agentes de inteligência norte-americanos acusaram Trump de estar a serviço do Kremlin.  No Ucraniagate, o denunciante principal trabalha na CIA e suas fontes operam em outras administrações de órgãos de inteligência, inclusive na Casa Branca. Toda a investigação é conduzida, portanto, pelo chamado Deep State e tem um cheiro mofado de Guerra Fria.  

 

Os depoimentos no Congresso são inacreditáveis. Pamela Karlan, professora de Direito da Universidade de Stanford, afirmou, por exemplo que é do interesse dos EUA manter uma Ucrânia forte, de modo a combater os “russos” lá, e não aqui (EUA). Detalhe: os russos à que ela se refere são os cidadãos ucranianos do Leste, que discordam do governo facistoide e pró EUA de Kiev. Esse é o nível de ignorância e de reacionarismo dos acusadores.

 

As classes populares dos EUA não dão a menor bola para esse tipo de investigação. Estão mais preocupadas com empregos, saúde e educação. 

 

Mas esse tipo de acusação e investigação, baseada em delírios da Guerra Fria, leva muita insegurança à Ucrânia e ao mundo, antepondo duas grandes superpotências. 

 

Parece coisa de Olavo de Carvalho e de terraplanistas. 

 

- Marcelo Zero é sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

 

11 de dezembro de 2019

https://www.brasil247.com/blog/o-impeachment-de-trump-e-a-nova-guerra-fria

 

https://www.alainet.org/de/node/203789?language=es
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