A batalha dos chips
- Análisis
A guerra comercial entre EUA e China atravessou o Estreito de Formosa e atingiu a maior fabricante de semicondutores do mundo. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), responsável pela fundição de chips para as principais cadeias de suprimentos globais, se tornou o mais recente cavalo de batalha na luta política e tecnológica entre as duas potências mundiais. A escalada de tensão atinge novos patamares ao se levar em conta o território-natal da empresa de microeletrônicos, Taiwan, assunto historicamente espinhoso para a geopolítica chinesa.
Fornecedora de chips para os titãs da tecnologia norte-americanos como a Apple, Qualcomm, Broadcom, Cisco Systems e Nvidia, a TSMC anunciou, no dia 14 de maio, seus planos para construir, a partir de 2021, uma fábrica de semicondutores de US$ 12 bilhões no Arizona, com previsão de conclusão da obra em 2024. Menos de 12 horas após o anúncio, porém, o Departamento de Comércio dos EUA divulgou normas restritivas que impactam diretamente os negócios da companhia taiwanesa. Que medidas são essas? A partir de setembro de 2020, fabricantes que usam equipamentos ou tecnologia de propriedade norte-americana precisarão solicitar uma licença antes de fornecer produtos à gigante chinesa de telefonia Huawei, responsável por cerca de 14% da receita da TSMC, de acordo com analistas da Credit Suisse.
As restrições impostas pelo Departamento de Comércio já surtiram efeito imediato: a TSMC teve que suspender as novas encomendas e pedidos da Huawei. A empresa taiwanesa era quem abastecia a Huawei após a gigante chinesa ter perdido o acesso a fornecedores norte-americanos. Embora a política não afete os chips encomendados já em produção, ela representa outro forte golpe no setor de telecomunicações chinês e demonstra a importância da microeletrônica para os Estados que desejam estar à frente na hegemonia tecnológica global. Nesse quesito, a economia de Taiwan permanece na vanguarda.
Taiwan, a capital mundial dos semicondutores
Fundada em 1987 e sediada no Parque Científico e Industrial de Hsinchu, a TSMC foi a primeira empresa do mundo voltada para a fundição de semicondutores. Seu modelo de negócio foi pioneiro por se concentrar na fabricação de chips sob medida. Envolvida em 272 processos de produção tecnológica distintos e atendendo a uma rede de 499 parceiros na Ásia, Europa e América do Norte, a TSMC reivindica o rótulo de “cidadão corporativo comprometido” por não ter concentrado o fornecimento de seus serviços apenas para Taiwan.
A projeção mundial da corporação taiwanesa se consolida a partir do quanto os semicondutores são fundamentais para as empresas de softwares e internet, além de estarem no cerne das tecnologias militares. Por serem componentes essenciais, as fábricas de semicondutores exigem investimentos pesados e equipamentos de ponta. Elas representam não só status de desenvolvimento econômico para as regiões onde suas plantas industriais estão instaladas, como também impulsionam o país à condição dianteira de domínio tecnológico.
Nesse aspecto, a TSMC se diferencia das demais fabricantes de semicondutores como a Intel e a Samsung – que reservam os melhores chips a seus próprios produtos – ao atender às especificações de outras empresas de tecnologia através de contratos. Muitos dos clientes da TSMC são fabricantes de semicondutores de circuitos integrados, mas não dispõem da capacidade para produzi-los em massa. Os nomes não são divulgados, mas acredita-se que seus maiores clientes sejam a Apple – 23% – e a subsidiária da Huawei, HiSilicon – 14% –, de acordo com dados de 2019. No geral, segundo a Bloomberg, 61% da receita da empresa provém dos EUA, seguida da China (17%) e da própria Taiwan (8%).
A hegemonia da corporação no mercado internacional de chips ressignificou a importância geoestratégica de Taiwan. “Você tem a melhor fabricante de semicondutores do mundo, e a China pensa que é dona do território na qual ela se localiza. Isso mostra o quão todo mundo é dependente da TSMC”, frisou o analista de semicondutores da empresa de pesquisa Sanford C. Bernstein, Stacy Rasgon, ao The New York Times.
É no exercício dessa posição destacada que a TSMC pretende investir no Arizona até 2024. A nova planta prevê a contratação de 1.600 funcionários e produção de até 20 mil wafers (placas de silício) por mês, utilizando a tecnologia de 5 nanômetros. Quando a fábrica iniciar suas atividades, este modelo já haverá envelhecido. Assim, a empresa mantém a tradição produzindo chips mais antigos no exterior, enquanto fabrica modelos mais avançados dentro do país – as plantas industriais taiwanesas produzem os chips de 7 nanômetros, responsáveis por 35% da receita no último trimestre de 2019. Os chips mais recentes da Apple, AMD e Nvidia são todos fabricados em Taiwan, enquanto outra planta americana da TSMC no estado de Washington produz modelos antigos.
Embora a nova fábrica do Arizona possa contribuir apenas para 3 a 4% da receita da TSMC, segundo analistas de Bernstein, a notícia é ruim para a China, já que a empresa taiwanesa tenderia a se aproximar mais de seus clientes americanos em detrimento dos chineses. Essa aproximação é um obstáculo aos planos estratégicos da China para se tornar uma superpotência tecnológica e desafiar a supremacia dos EUA no futuro.
A guerra dos EUA contra o Made in China 2025
O governo chinês planeja investir, nos próximos cinco anos, 1,4 trilhão de dólares (10 trilhões de yuans) em infraestrutura e inovação tecnológica de projetos que vão desde a construção de redes sem fio 5G a softwares de inteligência artificial (IA) para a automatização de fábricas e direção automática. Apoiado pelo próprio presidente Xi Jinping e apresentado ao Congresso Nacional do Povo, o plano diretor desse ambicioso projeto de investimento visa tornar a China menos dependente da tecnologia estrangeira.
Na iniciativa, há a proposta de expansão da indústria doméstica de semicondutores. O objetivo é elevar a taxa de autossuficiência no setor para 40% ainda este ano, chegando a 70% até 2025. A ideia é especialmente bem-vinda, ao se levar em conta a defasagem da China em comparação com os EUA nessa área, e qualquer passo em falso pode reverter esse processo de autonomia.
Ciente dessa dependência, Washington tem desferido ataques contra a Huawei, empresa considerada pelo governo Trump uma “ameaça à segurança nacional dos EUA”. Em maio de 2019, a gigante chinesa havia sido incluída pelo Departamento de Comércio na chamada “lista de entidades”, medida que proíbe a companhia de comprar peças e componentes de fornecedores dos EUA.
Um ano depois, o mesmo Departamento obstrui a brecha forçada pela Huawei para contornar essa proibição e obriga as fabricantes estrangeiras que utilizam tecnologia de origem norte-americana a pedir autorização do governo dos EUA para fazer negócios com a Huawei – caso da TSMC. E, mesmo com a aprovação para uso final em smartphones, pedidos para fabricação de chips destinados às redes 5G ou sistemas de vigilância com IA seriam recusados. O Ministério do Comércio chinês condenou a medida de Washington contra a Huawei, com a promessa de fazer o necessário para proteger os interesses das empresas chinesas.
Os norte-americanos controlam o mercado de componentes de alta tecnologia da mesma forma que policiam as transações financeiras internacionais na sua moeda, o dólar. Isso é possível graças ao domínio dos EUA sobre a produção de semicondutores à base de silício. Esses microeletrônicos foram inventados no próprio país e, no contexto da guerra comercial entre EUA e China, Washington tem a opção de simplesmente interromper o acesso das empresas chinesas à compra de chips. Foi assim que as campeãs de inteligência artificial chinesas Sensetime e iFlyTek, as empresas de reconhecimento facial Megvii e Yitu, as fornecedoras das câmeras de vigilância Dahua Technology e HikVision e a fabricante de supercomputadores Sugon foram colocadas na “lista de entidades”, onde são consideradas como “atuando contra os interesses exteriores dos Estados Unidos”.
SMIC: A China em busca da soberania tecnológica
Como a TSMC já cancelou as próximas encomendas para a Huawei, o governo chinês estuda uma resposta com possíveis retaliações às fábricas da companhia taiwanesa instaladas em Nanquim e Xangai. Ainda no final de 2019, a própria Huawei parece já ter se precavido ante a possibilidade de ser excluída de seus principais fornecedores, estocando 23,5 bilhões de dólares em produtos finalizados, componentes e matérias-primas – de acordo com seu relatório anual, um aumento de quase 3/4 em relação ao ano anterior.
Outra resposta mais drástica por parte de Pequim consistiria em incluir empresas de tecnologia norte-americanas em sua própria lista de entidades não confiáveis. Essa represália foi apelidada de “desamericanização” num editorial do jornal do Partido Comunista Chinês, Global Times, e atingiria a Apple, Qualcomm e Cisco Systems. Todas elas contam com grandes investimentos no mercado chinês – só a Apple emprega mais de um milhão de trabalhadores chineses por meio de sua subsidiária Foxconn. O editorial propõe que o governo chinês imponha restrições a essas gigantes norte-americanas ou inicie investigações contra elas, com base na Lei de Medidas de Revisão da Segurança Cibernética e Antimonopólio. Os editorialistas sugerem, inclusive, que a China suspenda a compra de aviões da Boeing. “Não estamos mais na década de 1990”, disse um executivo da Huawei ao Global Times.
Por outro lado, uma resposta tão direta poderia custar caro à China, dada a integração da economia chinesa com a norte-americana. O próprio fundador e CEO da Huawei, Ren Zhengfei, concorda que “a culpa deve ser dirigida aos políticos dos EUA, não às empresas”. Segundo o conselho de Ren, a única saída no curto prazo para esse cenário seria a atenuação desse confronto.
Entretanto, enquanto as relações entre os dois países se complicam, a Huawei também procura atender às suas demandas de semicondutores internamente. Assim, uma consequência da ação da TSMC seria o desenvolvimento mais acelerado de semicondutores próprios. À frente desse projeto, está a Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC), sediada em Xangai e a maior companhia chinesa de fundição de chips.
A empresa receberá o aporte de US$ 2,25 bilhões de fundos estatais, administrados pelo governo chinês e pela cidade de Xangai, para investir na produção desses dispositivos. A transação vai elevar, até o final do ano, o capital de 3,5 bilhões para 6,5 bilhões de dólares. A participação acionária do grupo SMIC na planta industrial de Xangai diminuirá de 50,1% para 38,5%. Essa fábrica conta com a capacidade de produção de seis mil wafers de 14 nanômetros por mês, e a corporação afirma a pretensão de aumentar para 35 mil por mês. Esses chips contemplam a demanda da Huawei, embora estivesse no projeto original utilizar o modelo de 12 nanômetros fabricado pela TSMC – plano frustrado pelas restrições estadunidenses.
As histórias da SMIC e TSMC se cruzam em diversas ocasiões. O fundador da SMIC, Richard Chang, conhecido como o “pai dos semicondutores chineses”, chegou a trabalhar com o fundador da TSMC, Morris Chang, na Texas Instruments. Em 2000, a TMSC assumiu a primeira empresa que Richard Chang abriu em Taiwan. No mesmo ano, reuniu um grupo de investidores dispostos a ceder 1,1 bilhão de dólares e, com apoio deles, fundou a SMIC em Xangai. Em dezembro de 2003, a TSMC entrou com uma ação contra a SMIC em uma corte da Califórnia, alegando acesso da fabricante chinesa aos segredos comerciais da empresa taiwanesa e violando suas patentes.
Apesar disso, a realidade é que a TSMC continua sendo a maior fabricante de chips por contrato do mundo, e a China ainda ocupa a quinta posição. No primeiro trimestre de 2020, enquanto a SMIC teve faturamento recorde de 905 milhões de dólares com chipsets para modelos antigos, a TSMC faturou 10,31 bilhões com seus chips mais avançados, voltados para redes 5G e inteligência artificial.
Do ponto de vista tecnológico, enquanto a TSMC fabrica produtos de ponta com a tecnologia de 5 nanômetros, a SMIC pode estar atrasada quase uma década em comparação às concorrentes internacionais, aponta o Financial Times. Só sua última geração de chips de 14 nanômetros está cerca de quatro anos atrás da Qualcomm e da Intel, de acordo com analistas da Fitch Solutions.
A dependência tecnológica em relação aos EUA, que impacta a Huawei e outras gigantes chinesas, também afeta a SMIC. O co-CEO da fabricante chinesa, Zhao Haijun, disse à Nikkei Asian Review que a corporação está totalmente comprometida em cumprir todas as regulamentações norte-americanas e mantém o diálogo constante com o Departamento de Comércio dos EUA. Tal qual a TSMC, a SMIC é dependente de equipamentos norte-americanos para a produção de seus chips de 14 nanômetros. Além disso, se a TSMC interromper todos os embarques de semicondutores para a Huawei, acredita-se que a fabricante chinesa seja capaz de substituir apenas uma parte deles.
Todavia, apesar da lacuna da SMIC com relação a seus pares internacionais, a pressão norte-americana pode representar uma chance para que a China conquiste mercados emergentes com produtos menos potentes e mais baratos. As fabricantes de chips chineses podem aplacar uma demanda por equipamentos domésticos e de escritório mais práticos e de tecnologia menos sofisticada, como afirma em artigo no Quartz a repórter de tecnologia, Jane Li. Nesse segmento, as companhias chinesas podem suplantar as marcas norte-americanas na próxima década, o que explica a preocupação de Washington.
Na disputa China-Taiwan-EUA, todas as partes podem perder
No furor da guerra comercial entre norte-americanos e chineses, não só a TSMC, mas também a própria Taiwan se tornam peões no xadrez das duas potências mundiais, e Pequim sabe bem disso. A China, que vê como inegociável sua reivindicação a Taiwan e já condenou políticos e empresas por não reconhecerem a ilha de 23 milhões de habitantes como território chinês – considerada “província rebelde” por Pequim –, reconhece as debilidades da própria economia taiwanesa.
Maior jornal diário em língua inglesa do Departamento de Publicidade do Partido Comunista Chinês, o China Daily publicou um duro editorial cobrando autoridades taiwanesas quanto aos recentes movimentos de aproximação da ilha com Washington. O periódico lembra que o novo governo taiwanês fez uma aposta alta ao defender a “independência formal” de Taiwan. De fato, o Partido Democrático Progressista, da atual presidente taiwanesa Tsai Ing-wen (reeleita em janeiro de 2020), historicamente assume uma posição pró-independência. O sentimento anti-Pequim e a inclinação à Casa Branca fizeram com que o governo da ilha apoiasse as manifestações em Hong Kong e as pressões sobre a Organização Mundial da Saúde durante a pandemia de Covid-19, já que Taiwan não é membro da ONU.
Ao fazer tal aposta, as autoridades taiwanesas parecem ignorar o grau de integração de sua economia com o continente. A despeito de o Partido Democrático Progressista falar em “ir ao sul” para diversificar sua economia, Taiwan é dependente do vasto mercado da China, e as empresas do país insular se interligaram às cadeias de suprimentos chineses. Dessa forma, na visão dos chineses, a TSMC está fortemente conectada às companhias tecnológicas do continente, especialmente à Huawei, para seus negócios de semicondutores.
O China Daily afirma que, ironicamente, a maior vítima da aproximação de Taiwan com os EUA seria a própria TSMC, considerando que a Huawei é uma de suas maiores clientes. Nesse sentido, com as novas normas restritivas do Departamento de Comércio norte-americano, a TSMC teria sido “enganada pelas práticas comerciais desonestas” de Washington com a proposta de instalação da planta no Arizona. “Depois de incitar a TSMC a fazer um grande investimento nos EUA, o governo se virou e disse à empresa que tem o direito de impor restrições aos seus negócios”. Logo, Taiwan pode “ficar sem nada”.
Do outro lado do Pacífico, o governo dos EUA seguia intensificando seu belicismo contra a China e atravessou uma linha vermelha geopolítica ao envolver Taiwan em sua guerra comercial. Para o The New York Times, nunca antes o governo Trump havia desafiado com tanta força o acesso de empresas chinesas à cadeia de suprimentos de alta tecnologia de Taiwan. “O governo parece ter a intenção de atingir metas econômicas e politicamente sensíveis a Pequim”, disse o professor de política comercial da Universidade Cornell, Eswar Prasad.
Ao trazer a TSMC para mais perto da órbita norte-americana, Trump envia uma mensagem política inequívoca de que atua para frustrar todos os esforços da China para dominar tecnologias críticas. Desde a assinatura da Fase 1 da trégua na guerra comercial em janeiro de 2020, o presidente dos EUA elevou a retórica ao culpar o país asiático por supostamente ter falhado no controle do surto da Covid-19 e questionou o futuro do acordo comercial entre os dois países. Com a proximidade da eleição presidencial, a tendência é o discurso antichinês de Trump se intensificar e isso inclui os ataques à OMS, acusada de ser “uma marionete da China” e de “encobrir a disseminação do novo coronavírus”. O secretário de Estado, Mike Pompeo, condenou a OMS por excluir Taiwan de sua reunião anual e denunciou Pequim por tentar “silenciar Taiwan”.
Mesmo com o aperto nas sanções à Huawei e, consequentemente, à TSMC, tudo indica que as autoridades norte-americanas não cessarão sua cruzada tão cedo. A nova regra do Departamento de Comércio só passará a valer no período de 120 dias, indicando que a medida pode servir como moeda de troca para negociações futuras do acordo comercial com a China. Ainda assim, o The New York Times também informa que discussões para endurecer essa política já ocorrem. “Qualquer conluio com a Huawei ou suas afiliadas para violar voluntariamente essa regra é proibido, e qualquer parte que a viole será barrada do acesso a equipamentos ou software dos EUA”, disse o secretário de Comércio, Wilbur Ross.
O receio com a China não se limita ao âmbito comercial. Desde 2019, funcionários dos Departamentos de Estado e Defesa pressionaram a companhia taiwanesa a abrir uma instalação em solo norte-americano como forma de fortalecer os laços políticos e se proteger contra ameaças chinesas à suspensão de embarques de mercadorias para os EUA. Por meses, a TSMC rejeitou essas solicitações alegando custos elevados, mas as últimas ofertas de Washington fizeram a empresa aceitar a empreitada, sob a promessa do Departamento de Estado de que contaria com financiamento e incentivos fiscais garantidos pelo Congresso.
Segundo o especialista em política e tecnologia do Eurasia Group, Paul Triolo, foi o fator militar que levou Washington a pressionar a TSMC. Os Estados Unidos temem a influência da China em Taiwan e sua capacidade de invadir ou sabotar as cadeias produtivas que passam pelo país insular. Os semicondutores da TSMC também têm aplicações militares e são utilizados em aeronaves, satélites e drones. Assim, o objetivo real da fábrica no Arizona pode ter sido fazer com que a empresa se tornasse “um membro confiável da cadeia de suprimentos das Forças Armadas dos EUA”.
O acirramento do conflito entre as duas potências globais impõe desafios a todos os atores envolvidos. Para Taiwan, restar saber o quanto a afinidade com os interesses dos EUA compensa a certa hostilidade chinesa e, especificamente para a TSMC, a perda de clientes valiosos no continente. Para a China, fica reiterada sua dependência em relação à indústria de microeletrônica estrangeira e o caminho que o país tem a percorrer rumo à autossuficiência tecnológica. Por outro lado, tal dependência representa hoje um mercado importante para os titãs de tecnologias americanas que temem, acima de qualquer coisa, entrar na lista chinesa de “entidades não confiáveis” – para o CEO da Apple, Tim Cook, por exemplo, que dedicou anos promovendo um bom relacionamento com Pequim, isso seria inconcebível.
Em um evento na sede da Huawei em Shenzhen, o diretor-executivo da empresa chinesa, Guo Ping, parece ter captado o sentido da crise envolvendo os três países: “Os EUA acreditam que a liderança tecnológica é a base de sua supremacia. A liderança tecnológica de qualquer outro país ou empresa pode colocar em risco a supremacia americana”.
- Gabriel Deslandes é jornalista formado pela Escola de Comunicação da UFRJ. É articulista e tradutor da Revista Opera e colaborador do portal de notícias Brasil Wire.
Revisão de Beatriz Aguiar
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