Geopolítica da liberação
- Opinión
Bolívar advertiu que as pressões das potencias de ultramar (Inglaterra, Holanda, Portugal, entre outras) estavam dirigidas a evitar a conversão da Venezuela num “Estado pivô” e, para nos conter, era necessário que não tivéssemos peso nem gravidade no contexto internacional. Por tanto, toda a legislação bolivariana foi pensada pelo nosso gênio para sublimar o Estado Nação, fazer crescer sua superestrutura de forma harmônica, propensa à comunidade homem- território, em todas suas significações. Assegurava que uma estrutura estatal não podia determinar-se de fora, pois corria o risco de converter-se num montão de areia (Pérez Arcay).
Hoje, um governo plutocrático/global com a pretensão de infalibilidade ideológica do "Imperium Mundis" se opõe a nossa independência e autodeterminação, buscando nos eliminar ou nos perverter. Ele produz uma guerra entre globalistas e soberanistas, entre os que propiciam a constituição de um governo mundial neofascista contra os que, como nós, tenta impedi-lo. É fundamental, então, dispor de uma Inteligência Estratégica efetiva que permita nos aliarmos com aqueles que operam no plano internacional para regular e saber administrar os potenciais conflitos, fazendo alianças e contra alianças complexas e rápidas. Trata-se de subsistir e de descobrir os mecanismos que movem esse "mundo novo" emergente verdadeiramente multipolar, como conditio sine qua non para a supervivência da Nação.
Para atingir seus objetivos, o polo globalista antinacional e totalitário muta, se disfarça e simula, usando essa mudança para atacar repúblicas soberanas. Um polo corporativo transnacional que, agindo em conluio com instâncias multilaterais, pressiona os Estados Nação e subordina a soberania, interesse sagrado da Nação, à ganância de seus capitais e mandatos opressivos e destrutivos.
Frente a essa variação polar, estamos obrigados a revisar atores e sócios, antigos e novos, repensar nossas relações, reconfigurar, refazer as coalisões e sociedades, compreender o caos "antissistema" que não permite criar alianças estáveis, pois existem interesses divergentes entre si no plano econômico, político, estratégico, religioso, cultural e militar que geram tensões entre as forças globalizadoras (elites) e as forças que fragmentam a sociedade (povos excluídos), causando incerteza.
É o conflito entre incluídos e excluídos, entre dominadores e humilhados. E é necessário ter clareza no nosso Azimute estratégico para não sermos arrastados, engolidos pelo neo-império sibilino (Ius Novus).
Acreditamos firmemente que nosso elã vital (conatus) deve assumir que tudo aquilo que atente contra o interesse nacional, socave ou debilite nossa soberania e independência, integridade territorial e autodeterminação, não pode ser considerado como amigo, nem aliado. Não o assumir significaria atentar contra nosso próprio princípio de auto conservação. A premissa fundamental deve ser o interesse nacional, perseverar no nosso ser de nação: território, população e governo. Persistir para afiançar a vida e integridade do Estado Nação.
Somente sobreviverão a esta comoção, choque de blocos planetário geopolítico, aquelas nações que tenham como coluna vertebral de seu caráter, um enraizado cânone espiritual que irradie para seu coletivo sua ética e moral. Uma nação sem valores imanentes profundos pelos quais lutar, se orientar e guiar, estará destinada a se extinguir nesta hora difícil que vive a Humanidade.
Resulta iniludível nosso dever patriótico e constitucional. Devemos mostrar nossa rebeldia bolivariana, sublevando-nos frente ao plano da “geopolítica da expropriação”, novo laboratório de “resolução” pacífica de controvérsias (favorecendo à Corporatocracia mundial) que tenta nos aplicar a ONU. Através da Corte Internacional de Justiça, com a desculpa de ocupar ditos territórios para a exploração conjunta de corporações privadas e Estados depredadores, a ONU argumenta fazê-lo pelo bem comum, repartindo o que não lhes pertence, evitando supostamente uma confrontação. Assim, com um arranjo prático, visam eliminar os conceitos de domínio e propriedade, apagando nossas fronteiras, desfigurando a Venezuela.
Essa terra nossa, graças à gesta independentista que significou enterrar a três quartas partes da população, se defende. Não foi um presente divino, deveu-se ao esforço valente de nossos Pais Libertadores que deixaram sangue, suor e lágrimas para consolidá-la. Não vamos permitir que por culpa dos traidores, que nunca faltam, se perca. Cada centímetro de território conta.
Não será um Corte Internacional, aliada aos poderes fáticos mundiais, que virá nos obrigar a renunciar a nosso direito inalienável de defender integralmente nossa Nação.
É necessário potenciar nosso elã vital, o cordão umbilical espiritual que integra o Todo, o campo psicofísico nacional. Aprofundar o princípio organizador estatal, o espírito nacional, organismo vivente, fortalecendo as partes constitutivas e insubstituíveis do corpo nacional e cumprir, assim, com a adesão ao ato augusto da América (Pérez Arcay).
Está proibido aos patriotas entregar nossa vontade e autodeterminação a uma instância externa com pretensões de se erigir em poder universal e atemporal, igual a uma igreja, um dogma, pura superstição como política. O neo-império global Teopolítico sem legitimidade alguma, pretende estar por cima de nossa soberania. Essa seria a morte de nossa República.
Contrapomos a isso uma nova aliança interamericana em termos realistas e de respeito mútuo entre as nações. Um novo Istmo de Panamá, como sonhou Bolivar, desta vez Republicanizado. Isolados e desunidos, os globalistas, com seu poderio corporativo e seu poder suave pseudo jurídico, engolirão nossos países um a um. Devemos expulsar ou neutralizar do continente todas as forças que pretendam prejudicar às nações que conformam a América toda, pois a Pátria é a América. Aceitemos somente aquelas relações contribuintes ao fortalecimento de nossas nações e de unidade de todo o continente (grossraum). É a geopolítica da liberação, o Katehon contra o caos que pretendem impor os globalistas para nos extinguir.
- Maria Alejandra Diaz é advogada constitucionalista venezuelana, integrante da Assembleia Nacional Constituinte (ANC).
Tradução: Anisio Pires
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