Fórum Mundial da Educação debate visões alternativas para o ensino

21/01/2014
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Democracia, equidade e educação como direito público e acessível, levando em conta a realidade e as necessidades dos educandos. Centrado fundamentalmente nessas ideias, teve início na manhã desta terça-feira (21) o Fórum Mundial de Educação (FME), que segue até quinta-feira (23) nas dependências da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas. Durante a cerimônia abertura do evento, que lotou o ginásio da universidade, diversas autoridades destacaram o caráter inovador do fórum ao propor a adoção de novas orientações e experiências para a educação ao redor do globo.
 
A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, resgatou o legado do educador e grande homenageado do fórum Paulo Freire, ao defender a necessidade de que a educação seja orientada pelo caráter popular e emancipatório. “A educação precisa ser entendida como um direito humano que abre portas para todos os demais direitos, levando senso de dignidade para todas as pessoas”, afirmou a ministra na solenidade. Maria do Rosário destacou as políticas que vêm sendo desenvolvidas pelo governo federal na busca do maior acesso ao turno integral na escola básica e fomento ao ingresso de estudantes no ensino universitário, sem deixar de ponderar os desafios e avanços que ainda precisam ser implementados na área da educação pública.
 
Já o prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PT), traçou um breve histórico do Fórum Social Mundial (FSM), em 2001, com a criação do FME. Em sua fala, o prefeito pontuou que a educação não pode ser tratada como um mero negócio, mas constituir uma construção social e coletiva em prol do ser humano e de sua autonomia. Em referência à realização do Fórum Econômico Mundial de Davos, que ocorre entre os dias 21 e 25 de janeiro na Suíça, Jairo Jorge argumentou que é preciso superar a visão neoliberal na educação. A tolerância e a solidariedade devem ser diretrizes pedagógicas para que a ideia de “um outro mundo possível”, como sugere o ideal do FSM, seja realmente alcançada. “Nós que acreditamos em utopias entendemos que é preciso mudar a sociedade, e a alavanca dessas mudanças é a educação”, disse o prefeito de Canoas.
 
Repensar os pilares da educação também passa pelo ambiente onde se desenrola o processo pedagógico. A secretária-adjunta de Educação do Rio Grande do Sul, Maria Eulalia Nascimento, ressaltou que é nas periferias que estão os filhos dos trabalhadores brasileiros, situação que deve estruturar as diretrizes de uma educação mais justa para todos os cidadãos. De acordo com ela, é na aprendizagem que se encontram alguns dos maiores desafios da educação contemporânea. “O direito à educação se expressa na aprendizagem dos nossos alunos, mas é um processo que se constrói através de pilares como tolerância e foco em periferias”, assinalou.
 
Territórios são fundamentais no processo pedagógico, defendem pensadores
 
A educação e aprendizagem não podem ser restritas à escola, na medida em que os estímulos e a socialização dos indivíduos nas sociedades contemporâneas são realizadas, também, do lado de fora das salas de aula. Focados nessa premissa, os participantes do primeiro debate do Fórum Mundial da Educação (FME), intitulado “Pedagogia, territórios e resistência”, sugerem que é preciso pensar a pedagogia a partir do contexto territorial onde ela será instrumentalizada. Tal orientação emerge como forma de resistência ao disseminado modelo neoliberal de governos mundo afora, possibilitando que a aprendizagem não seja direcionada somente ao mercado.
 
O pesquisador Jaume Martinez Bonafé, da Universidade de Valência, na Espanha, argumenta que a educação pública não é um problema a ser resolvido somente pela escola pública. Para ele, esta é uma questão das cidades, que são o espaço  protagonista no cotidiano dos cidadãos em formação. Segundo Bonafé, a identidade dos estudantes é formada através de sua relação com a cidade, com os espaços públicos e, por isso mesmo, a cidade também deve ser considerada como um ente educador.
 
Como exemplo, o pesquisador cita o hábito dos jovens de se reunirem nos shoppings centers, e questiona: “Como não pensar na pedagogia dos shoppings centers? Como não pensar nas políticas culturais quando a pessoa vai passear no shopping?”. Ao se transformar em ambiente de lazer, os centros comerciais passam a exercer influência na aprendizagem desses jovens, conforme Bonafé. Com isso, há disputas territoriais e ideológicas pela formação da identidade dos educandos. “Vejo dois currículos em conflito (o da cidade e o da escola), um domina o outro, por isso acho que a cidade tem que estar nos currículos”, sentencia.
 
Desdobrando exemplos de legislações que considera segregadoras e mercantilistas, a também espanhola Guadalupe Jover, coordenadora da plataforma Cidadãos Pela Escola Pública, corrobora a tese de Bonafé. Para ela, as escolas precisam sair para as ruas, como os próprios jovens têm feito na Espanha, esgotados das consequências da crise econômica que assola o país. A compreensão desses fenômenos passa pelo entendimento dos espaços ocupados pelos estudantes e por suas demandas.
 
No momento em que a economia espanhola atravessa um período conturbado, Guadalupe critica leis recentes que, para ela, estimulam a mercantilização do ensino. “Nossa plataforma busca uma educação pública democrática, queremos incluir as famílias, os docentes nesse processo para fortalecer laços sociais e políticos e nos dirigir para a cidadania”, diz.
 
Ainda no primeiro painel do fórum, o educador Moacir Gadotti, do Instituto Paulo Freire, defende que a educação emancipatória passa pelas periferias e é fruto de uma construção conjunta. Seguidor de Freire, Gadotti assinala que os currículos precisam ser revisados e adaptados às realidades específicas onde vivem os alunos das escolas públicas. Ele lembra que a escola pública não é a mesma em todas as regiões de cidades como as brasileiras, com altas desigualdades, por isso ressalta a importância dos territórios. “A diferença entre a periferia e a metrópole é que na periferia falta tudo, também falta escola, e a escola pública tem que ser para todos”, aponta.
 
O pesquisador observa que não se deve territorializar a educação, mas incorporar os territórios ao processo educativo, fomentando a participação popular e rompendo com as lógicas hegemônicas da área. Entre os principais pontos destacados por Gadotti, está a necessidade de as escolas debaterem o país que querem, o que só pode ser realizado através do que se consolidou como uma bandeira de Paulo Freire, a educação libertadora. “A educação que temos é uma política que serve ao poder econômico mundial”, afirma. Ele acrescenta que é preciso tratar de política dentro das escolas para que haja uma mudança de cenário.
 
21/jan/2014
 
https://www.alainet.org/de/node/82530?language=en
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