Projeto de construção de aeroporto volta a ameaçar camponeses de Atenco

28/05/2014
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Reprodução
 
Já se passaram 13 anos desde que o governo do presidente Vicente Fox (2000-2006) tentou promover a expropriaçãodas terras ejidales – propriedadesrurais de uso coletivo – de Atenco para a construção de um aeroporto internacional.À época, os camponeses se organizaram na Frente de los Pueblos em Defensa de la Tierra (FPDT), sob o lema “Tierra sí, Aeropuerto no”, e conseguiramanular o decreto.
 
Agora, o atual governo de Enrique Peña Nieto decidiu reativar o projeto do aeroporto,com o nome de Ciudad Futura, de forma mais ambiciosa, com um orçamentoprevisto em 120 milhões de pesos mexicanos. Diante desta nova ameaça de despejo, a população de Atenco não só exige justiça pela repressão que sofreu em 2006 como também chama por um novo ato de solidariedade, mediante uma série de marchas, atividades e fóruns.
 
Em 2006
 
Em maio de 2006, um contingente de mais de 3 mil policiais, tanto estaduaisquanto federais, entrou em Atenco num ato brutal de violência. Assassinaramdois jovens, Alexis Benhumea e JavierCortés, estupraram mais de 40 mulherese prenderam 12 camponeses; um deles, Ignacio del Valle, foi sentenciado a 112 anos de prisão.
 
A violência ocorreu no Estado do México,durante o governo de Enrique Peña Nieto, que atualmente é presidente do país pelo PRI. Em junho de 2009, graças a uma extensa campanha que teve repercussãonacional e internacional foram libertadostodos os presos de Atenco.
 
Compra de terrasAo longo dos últimos anos, o governo tem desenhado uma série de estratégias para apoderar-se das terras dos camponeses,por exemplo, por meio da ComisiónNacional de Agua (CONAGUA), que toma a terra dos camponeses com o argumento de resgate ecológico do lagode Texcoco.
 
Desta forma, entre 2006 e 2009, a CONAGUA comprou mais de 600 dos 2.500 hectares de uso comum dos ejidatários.Os ejidatários, vinculados ao governo,propuseram a criação da CooperativaEjidal San Salvador Atenco (CEESA), com o fim de comprar mais rapidamente as terras dos outros ejidatários.
 
Atenco não está só
 
Em evento realizado na Faculdade de Economia da UNAM, Maria Trinidad Ramírez, integrante da FPDT, afirma que, mesmo que atualmente não existamas mesmas condições que alguns anos atrás devido ao fato de que muitos ejidatáriosvenderam as suas terras, o compromissocom a luta pela terra se mantémpresente como uma demanda legítimapela defesa da vida.
 
Maria comenta que esta luta não se dá apenas em Atenco, mas também em outros estados do país, onde as lutas se multiplicam contra os megaprojetos de morte. Faz 20 anos que o México assinou o Tratado de Livre Comércio (TLC) com os EUA e Canadá e, desde então, o panoramapara o campo é o de abandono.
 
No final do ato, Ignacio del Valle assegurouque “a terra é nossa, é nossa identidade,é nossa dignidade, e não está à venda”. Sob gritos de “Zapata vive, la luchasigue!” e “La tierra no se vende, se trabaja y se defiende! ”, Ignacio ressaltou que a resistência é a mesma que aquela que diz respeito ao despejo da terra.
 
Cinturão de paz
 
No último dia 18 de maio, A FPDT convocou um ato para formar um cinturãode paz e dignidade em seu território contra a assembleia que a comissão ejidaldo governo de Andrés Ruiz Méndez (PRI) convocou, com o objetivo de trocar a posse de mais de mil hectares de uso comum da terra – o que significa o primeiropasso para a venda de suas terras ao governo federal. Ao chamado acudirammais de 600 camponeses da FPDT, assim como estudantes e ativistas de diversasorganizações.
 
Com o cinturão de paz, conseguiram o adiamento da assembleia por falta de quórum legal, já que apenas 100 dos 500 camponeses que formam o núcleo ejidal com direto a voto participaram da assembleia. Uma vitória parcial para os camponesesde Atenco, uma vez que a assembleiatem uma nova data para acontecer em junho.  
 
- Waldo Lao,
Da Cidade do México (México)
 
Tradução de Ana Paula Gomes
 
29/05/2014
 
https://www.alainet.org/de/node/85951
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