Operação cérebro de ferro
27/04/2002
- Opinión
As cidades palestinas são hoje um monte de escombros. Ferro retorcido,
blocos de concreto e carne humana. A fúria dos tanques de Israel
reduziu a pó tudo que tivesse vida ou fosse essencial à ela. Milhares
de lares demolidos. Lavouras transformadas em cinzas. Nem as árvores
escaparam, sobretudo as oliveiras. Massacre hediondo perpetrado pela
sinistra dupla Ariel Sharon e George W. Bush. Mas cidades palestinas
vão renascer, como já o fizeram variadas vezes desde 1948. A vida
renascerá tal renasceu, após o massacre de Sabra e Chatila, ocorrido
em 1982.
Nos últimos dias, a prepotência e o cinismo do Estado de Israel impõem
mil e uma condições a ONU quanto ao envio de uma comissão para
averiguar o massacre ocorrido em Jenin. Vai ser impossível ocultar o
genocídio praticado. Os corpos de civis palestinos estão soterrados.
Ninguém pode vê-los, pode interpelar o facínora. Contudo, há prova uma
irrefutável: a fedentina que infesta os becos das aldeias, as avenidas
das cidades destroçadas. De tal modo, que a comissão da ONU só não irá
atestar o massacre, caso os seus integrantes sejam destituídos de
visão, de audição e, sobretudo, de olfato.
Não será possível ocultá-lo
Estarrecido, o mundo democrático já se escandalizou com o que viu. A
mesma indignação eclodida há vinte anos atrás. A data: dias 16, 17,18
de setembro 1982; a vítima: a população civil palestina de Beirute
ocidental, Líbano, nos campos de Sabra e Chatila; o verdugo, o
comandante do massacre: General Ariel Sharon, então ministro da defesa
do Estado de Israel; o fato: em 4O horas de carnificina, as
denominadas falanges libanesas em conluio com o Exército de Israel
assassinam 3 mil homens, crianças e mulheres; nome da operação
arquitetada e comandada por Sharon: "Cérebro de Ferro".
Vejam, o quão sanguinário é o cérebro de ferro. Pouco tempo antes
deste genocídio, fruto do chamado "acordos Habib" os guerrilheiros da
OLP deixam Beirute ocidental sob proteção de forças internacionais.
Uma das mais importantes cláusulas do referido acordo estabelecia que,
sob nenhuma hipótese, as tropas de Israel poderiam invadir Beirute.
Isto evidentemente porque a numerosa população de refugiados
palestinos ficara sem proteção.
Pois bem. No dia 14 de setembro de 82, morre, vítima de um atentado à
bomba o recém eleito, presidente do Líbano, Bechir Gemayel, notório
aliado dos israelenses. Na noite desse mesmo dia, estabelece-se uma
ponte aérea que transporta, tropas e armamentos das bases militares do
Estado de Israel para Beirute.
No dia seguinte, 15 de setembro, a ponte aérea militar se intensifica.
Os tanques e a infantaria israelense vão penetrando e assumindo o
controle dos indefesos campos de refugiados de Sabra e Chatila. Dois
generais israelenses reúnem-se com os comandantes das milícias
unificadas da direita cristã, as falanges. Pauta: a ocupação dos
campos de refugiados. O general Ariel Sharon, pessoalmente comanda
suas tropas.
A diplomacia palestina entra em ação
Cobra, principalmente, dos Estados Unidos, os termos dos "acordos
Habib". O então do presidente dos EUA, Ronald Reagan, despacha seu
assessor, Morris Draper, à região. Menahem Begin, à época primeiro-
ministro do Estado judeu, pediu ao diplomata norte-americano que
tranqüilizasse a OLP e o mundo. E explicou: Nosso objetivo é manter a
ordem na cidade. Com o assassinato de Bechir Gemayel poderia ocorrer
progromes (massacres). O tal Draper, ainda pergunta se Israel tinha
intenção de abrir os acampamentos às Falanges. Begin, responde:
somente algumas operações restritas. Diante dessa resposta, o
representante yanque afirma: Estou satisfeito com as explicações de
Begin. (O leitor se deve se lembrar do que, semanas atrás, disse Colin
Power enviando de Bush ao Oriente-Médio: Estou satisfeito com as
explicações de Ariel Sharon...).
Setembro, dia 16. Ariel Sharon dá sinal verde aos seus generais.
Conforme o combinado, a matança seria feita pelas tropas falangistas.
Então, sob o comando e proteção do exército israelense, 1.500 homens
das falanges, fortemente armados, marcham e penetram nos acampamentos
de Sabra e Chatila. Às 5 da tarde, começa a carnificina que se
prolonga por 40 horas. Crianças e mulheres palestinas que conseguem
escapar chegam até os soldados israelenses e informam que as falanges
estão matando tudo que encontram pela frente: pessoas e animais. Os
soldados comunicam o fato aos oficiais e estes respondem: fiquem
calmos a situação está sob controle. Os generais israelenses do alto
de seu QG, munidos de binóculos, a tudo assistem e tudo relatam a
Ariel Sharon.
Eis, os fatos
Que levam o mundo democrático a denominar Ariel Sharon, um criminoso
de guerra. Hoje alçado à condição de primeiro-ministro de Israel,
implementou a parte II, da "Operação Cérebro de Ferro". Na verdade o
povo palestino depois da nação afegã, foi a vítima seguinte, da guerra
longa, prolongada e suja que Bush jurou contra os povos depois do 11
de setembro.
Desde a II Intifada que começou em 28 de setembro de 2000 até 13 de
abril de 02, sem incluir as vítimas de Jenin, segundo a ONG palestina
MIFTAH, 1.438 palestinos foram mortos, 18.890 feridos e 112.900
oliveiras arrancadas e 7 mil residências destruídas.
Caro leitor, minhas desculpas. Mas diante de tanta atrocidade, a
poesia vai provocá-lo. Se você não é capaz de lutar pela paz, pelos os
que estão sendo mortos agora, lute por você mesmo. Amanhã o país
bombardeado poderá ser o seu, e aquela criança que aparece morta no
vídeo, talvez não seja uma menina árabe,mas a sua filha!
Adalberto Monteiro é jornalista, poeta e membro do Comitê
Central do PCdoB.
https://www.alainet.org/en/node/105906
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