Transgênicos : Uma ameaça à saúde e ao futuro da nação.
07/10/2003
- Opinión
O que são transgênicos?.
Transgênicos são produtos criados pela engenharia genética a partir
da introdução de genes de determinados organismos (animais ou
vegetais) em outros seres vivos que jamais se cruzariam naturalmente.
Essa nova tecnologia permite, por exemplo, introduzir um gene humano
num porco, ou um gene de rato, de peixe, de bactéria ou de vírus em
espécies de arroz, soja, milho, tomate, batata ou qualquer outro
vegetal.
As empresas que mais têm investido na produção de transgênicos são as
multinacionais que atuam na produção de insumos para agricultura,
produzindo sementes e agrotóxicos.
Como as variedades de plantas melhoradas pelas comunidades indígenas
e de pequenos agricultores através dos séculos não podem ser
patenteadas, foram criados por essas empresas multinacionais,
organismos animais ou vegetais "novos": os transgênicos, que são
considerados "invenções" e, portanto, passíveis de patente.
Assim sendo, ao plantar uma semente transgênica, o agricultor sempre
deve pagar pelo direito de uso ao dono da patente da semente.
As multinacionais, que durante anos condicionaram a agricultura ao
uso indiscriminado de agrotóxicos, preparam-se para tomar o pouco que
restava da autonomia do produtor rural um - a posse da semente.
Note-se que as grandes multinacionais, que não por mera coincidência,
são também produtoras de agrotóxicos, nos últimos anos compraram
quase a totalidade das empresas nacionais que de forma independente
produzem sementes, em flagrante tentativa de monopólio global que vai
ser concretizado através das patentes dos transgênicos.
A detentora dessa tecnologia, apoiada pelos mecanismos de
globalização do FMI e OMC, pretende deixar sobreviver apenas as
grandes monoculturas comerciais do chamado "agribusiness", condenando
à marginalização milhões de pessoas envolvidas com a agricultura
familiar.
No Brasil, a empresa que mais pressiona pela liberação dos
transgênicos, utilizando até métodos excusos como o contrabando de
sementes da Argentina e Paraguai, é a "Monsanto".
A "Monsanto" desenvolveu uma variedade de soja transgênica que é
resistente ao herbicida Roundup, produzido pela própria empresa. Um
gene retirado de algas e bactérias foi transferido para a soja a fim
de que ela não morra como conseqüência do herbicida Roundup que é
usado para eliminar as plantas indesejáveis que invadem a lavoura.
Além disso, as multinacionais do "Agribusiness" já estão preparando
novos cultivares com o gene "terminator", cuja função é fazer com
que a semente colhida pelo agricultor se "suicide" ao ser semeada,
obrigando-o a comprar novas sementes vendidas pelo produtor de
transgênicos.
Os EUA são atualmente o maior produtor mundial da soja, seguido de
perto pelo Brasil. Enquanto os Estados Unidos se dedicam à plantação
de soja exclusivamente transgênica, o Brasil, até o ano passado tinha
a sua produção totalmente não transgênica, o que lhe garantia a
exportação, principalmente para a Comunidade Européia, Japão e China,
que relutam em importar produtos transgênicos.
A introdução da soja transgênica no Brasil vai favorecer unicamente
aos EUA, que atualmente tem dificuldades em exportar a sua soja para
a Europa, e vamos perder esse diferencial importante e ficar à mercê
dos interesses das grandes multinacionais, que querem obrigar os
consumidores europeus a aceitar a soja americana transgênica, por
falta de opção.
É com pesar que vemos nosso governo submeter-se aos interesses do
grande poder econômico e tecnocrático sem pátria, editando medida
provisória, inconstitucional e imoral, que fere decisões judiciais e
chega ao cúmulo de conferir legalidade a uma safra de soja
transgênica resultante do plantio de sementes contrabandeadas, já que
sua produção estava proibida no país.
Riscos para a sua saúde.
Aumento das alergias: Quando se insere um gene de um organismo em
outro, novos compostos podem ser formados, alterando principalmente
proteínas e aminoácidos do organismo que recebeu o gene.
Se esse produto, um transgênico, for alimento, as substâncias
modificadas nele contidas podem provocar alergias em parcelas
significativas da população. Na Inglaterra, uma pesquisa constatou um
aumento de 50% dos casos de alergia aos produtos à base de soja
geneticamente modificada.
Aumento de resistência aos antibióticos:
Para se certificar de que a modificação genética deu certo, são
inseridos nos transgênicos os chamados genes marcadores de bactérias
resistentes a antibióticos. Com isso, pode ocorrer o aumento da
resistência a antibióticos nas pessoas que consumirem esses
alimentos, ou seja, em casos da necessidade do uso de antibióticos,
pode ocorrer a redução ou anulação da eficácia desses medicamentos,
o que é um sério risco para a Saúde Pública.
Aumento das substâncias tóxicas nos alimentos.
Existem plantas e microorganismos que produzem substâncias tóxicas
para se defender de seus inimigos naturais, como os insetos, por
exemplo. Se genes desses organismos forem introduzidos em alimentos
transgênicos, o nível dessas toxinas aumenta muito, o que irá causar
danos à saúde das pessoas que consumirem esses produtos. Até o
momento, são poucos os estudos sobre a avaliação da toxicidade dessas
substâncias introduzidas intencionalmente nas plantas. Tais
substâncias estão entrando na composição dos nossos alimentos sem
qualquer estudo prévio que garanta a segurança como é obrigatório
para outros aditivos tais como corantes, acidulantes, aromatizantes
etc.
Riscos ao meio ambiente.
Os perigos que os transgênicos podem oferecer ao meio ambiente são
muitos e não foram suficientemente avaliados.Com a inserção de genes
de resistência aos agrotóxicos em certos produtos transgênicos, as
pragas e plantas invasoras poderão adquirir a mesma resistência, o
que vai exigir a utilização de quantidades cada vez maiores de
agrotóxicos nas plantações, contaminando os alimentos, a água e o
solo.
Através da polinização , vários dos genes introduzidos nas plantas
podem ser introduzidos em plantas nativas ou outras plantas
cultivadas não transgênicas, havendo o risco de causar a extinção de
espécies e modificações nos ecossistemas.
A introdução de genes para produção de substâncias tóxicas nas
plantas, com o intuito de controlar as pragas, pode levar à extinção
de espécies do mundo animal. Tal fato ocorreu com o milho bt, nos
EUA, que praticamente extinguiu a espécie de borboleta monarca, que
não é praga do milho, mas sim um agente polinizador.
Para concluir, deve-se ressaltar que não há estudos suficientes sobre
os riscos que os transgênicos oferecem ao meio ambiente. Em várias
partes do mundo, pesquisadores alertam para o perigo que representa a
introdução de uma espécie transgênica, pois o gene modificado pode se
propagar sem controle, trazendo alterações imprevisíveis em um
ecossistema.
* Manoel Eduardo Tavares Ferreira é Engenheiro Agrônomo e Presidente
da Associação Cultural e Ecológica Pau Brasil.
https://www.alainet.org/en/node/108516?language=es
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